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"Ela não mostrava que estava com medo
Mas se sentir sozinha era
demais para suportar
Mesmo que todos dissessem que
ela era forte
Eles não sabiam que ela mal conseguia continuar."

- {A Little Too Much,
Shawn Mendes}


VICTÓRIA

EU posso sentir a movimentação das pessoas a minha volta. Posso escutar os sussurros debochados, as risadas provocativas e os comentários sobre mim, mas agora, mesmo que eu queria fugir para o banheiro mais próximo, prometi a mim mesma que vou me concentrar apenas no calor em minha pele e na música alta nos meus fones de ouvido.

Apesar do sol quentinho, ainda há uma brisa leve e fria, o que faz alguns fios do meu cabelo baterem no meu rosto, fazendo cócegas. Eu enrolo todo o meu cabelo e o prendo entre a grama em que estou deitada e as minhas costas. Volto a me concentrar novamente no calor que toca minhas pálpebras, as maçãs do rosto, meu nariz, os lábios, o pescoço.

Incrível que, mesmo com o esse sol quente de Barcelona, eu ainda sinto falta do sol brasileiro. Sinto falta de sentir o sol queimando minha pele por cima da camada de protetor solar, de passar todos os dias das férias na praia do farol da barra com Elena e Nycole, comendo açaí na hora do almoço, assistindo o pôr-do-sol no gramado com outras milhares de pessoas e escutando música ao vivo.

Pensar nesses momentos causa um aperto doloroso no meu peito. E apesar de eu amar Barcelona, nada nunca vai se comparar com a sensação de estar em casa. No meu paraíso. Salvador. Com as minhas amigas, com a minha avó. O lugar onde mesmo quando eu tinha um dia ruim, um banho de mar e um pote de açaí resolviam tudo. São alguns dos atributos de morar literalmente no circuito de carnaval mais famoso do Brasil. Vinte passos e eu estava com os pés enterrados na areia.

Abro os meus olhos no momento em que Perdição do L7NNON acaba e noto que algumas nuvens pesadas estão se formado sob o campus da universidade autônoma de Barcelona. Chuva. Ótimo, era só o que me faltava.

Me sento sobre o gramado e olho em volta, percebendo que a movimentação de pessoas no lado de fora da universidade diminuiu consideravelmente desde que decidi deitar aqui, há uns trinta minutos, quando minha última aula do dia se iniciou e eu decidi simplesmente não ir porque não aguentaria mais andar nos corredores com todos me enviando olhares curiosos, duvidoso e debochados.

Sim, a notícia sobre eu ser uma prostituta andando em festas com jogadores de futebol famosos se espalhou bem rápido pelo campus. As pessoas já sabem meu nome e o meu rosto está estampado em todos os quatro cantos da internet com teorias sobre quem eu sou e se realmente sou uma prostituta. Por sorte, sempre fui muito discreta nas redes sociais, e as pessoas não tem muita informação sobre mim.

O meu Twitter sempre foi fanaccount, - que sempre foi mudando ao longo dos anos porque as minhas obsessões duravam pouco -, então ninguém sabe que sou eu. O meu Instagram é fechado, eu só tenho uns cem seguidores e duas fotos de quando eu tinha quinze anos. Então eles podem tentar, mas não vão achar nada de interessante sobre a minha vida.

Mas, apesar de eu ser praticamente anônima, as mensagens de ódio ainda veem até mim. O Twitter e o Tiktok estão cheios delas. No Twitter, comentários maldosos, e no Tiktok as pessoas se dão o trabalho de fazer edits e dizer o quão decepcionadas estão com o Gavi de ter se relacionado com uma prostituta.

 No Twitter, comentários maldosos, e no Tiktok as pessoas se dão o trabalho de fazer edits e dizer o quão decepcionadas estão com o Gavi de ter se relacionado com uma prostituta

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