Gostaria de compartilhar minha experiência com o tipo de editora "pague para publicar" como forma de alerta para escritores iniciantes. Não vou citar nomes, apenas vou dizer que publiquei com uma editora europeia. Isso mesmo, um Grupo Editorial do outro lado do Atlântico.
Minha saga começa em 2018, quando terminei meu primeiro livro, uma coletânea de contos. Sendo virgem no mercado editorial, apenas joguei no Google "editora envio de originais" e me deparei com a dita cuja. O site era profissional e garantia uma leitura atenta do manuscrito e retorno em poucos dias. Lá fui eu enviar meu original por e-mail e, para minha alegria e surpresa, recebi uma resposta afirmativa em mais ou menos duas semanas.
Eles foram extremamente cordiais ao mostrarem-se interessados no meu livro, no qual perceberam "potencial editorial" e apresentaram a proposta. Quem já escreve há algum tempo deve saber como funciona: a editora cobra do autor um valor x por cada livro impresso, e o autor se compromete a adquirir um número y de exemplares para viabilizar a publicação. Estes exemplares podem ser vendidos pelo autor em sua cidade por um valor mais alto para lucrar. Em contrapartida, a editora se compromete a comercializar o livro em seu site, loja e garantir a distribuição em grandes redes. Eles mencionam nomes de peso, como Saraiva e Cultura.
A oferta é certamente tentadora. Você, escritor, pode vender todos os exemplares que teve que adquirir (centenas deles) para viabilizar a impressão e, além disso, ganha 10% do preço de capa dos livros vendidos nas livrarias, mais 40% das cópias digitais (e-pub). A editora se orgulha de ser transparente e ter à disposição uma Área do Autor onde você pode acompanhar as vendas. Eles até fazem a capa de graça para você seguindo suas próprias orientações. Quer uma revisão do manuscrito? Ok, mas aí tem que pagar.
Contrato assinado e capa decidida, o meu original foi para a gráfica. Vários meses depois, recebi uma caixa com meus 250 exemplares. Fui vendendo para amigos, familiares, colegas e conhecidos, feliz em ver meu livro... bem, no papel. A editora ajudou a organizar um lançamento, entrando em contato com uma pequena livraria da minha região e fazendo a arte para um banner.
E foi só isso.
Toda vez que procurava meu livro na Saraiva ou outra grande rede, os sites mostravam "título fora de estoque". Quando questionada, a editora disse que as grandes redes de livraria passavam por dificuldades, mas que mesmo assim meu livro podia ser adquirido no site do grupo editorial. De fato, ele estava lá. Mas a Área do Autor indicava sempre zero saídas. Resolvi fazer um teste: comprei a versão digital do meu próprio livro no site deles e observei a Área do Autor. Continuava zerada.
Após muito entrar em contato pedindo que a editora oferecesse minha obra para livrarias menores da minha região, fiquei cansado. Eu estava claramente sendo enrolado, então rescindi meu contrato. Descobri a facilidade de publicar pelo KDP da Amazon e segui este caminho. Pesquisando um pouco no Reclame Aqui, encontrei uma enxurrada de casos como o meu. E então, no começo de 2023, vi que a editora adotou um novo nome e resolvi fazer um teste.
No novo site, na aba de envio de originais, eles afirmam "analisar sua obra cuidadosamente". Então enviei uma cópia do meu segundo livro, auto publicado através do KDP. Detalhe: inclui, na metade da narrativa, uma frase que dizia "caso alguém do Grupo Editorial XYZ estiver analisando o envio deste original, favor sinalizar esta menção no e-mail de resposta". Meu manuscrito de mais de 200 páginas foi aprovado em três dias, sem qualquer referência ao trecho que incluí. Quando questionei a editora, responderam que "A análise feita de originais é sempre no sentido de perceber qual a viabilidade de publicação do mesmo [...]. Critérios como o poder de compra do leitor, análise de preços, perfil do leitor e autor, expectativas de retorno, força comercial, fio condutor da história, comparação interna de obras, potencial visibilidade, entre várias outras, são tudo aspetos que consideramos de muito maior importância aquando da análise." Eu até concordo, mas é muita cara-de-pau anunciar que a análise dos originais é feita "cuidadosamente" se nem leem a obra na íntegra.
Pesquisem com afinco sobre a editora com quem trabalharão, especialmente se ela age quase como uma gráfica. Sei da existência de editoras sérias que usam o mesmo modelo, mas é sempre bom perguntar para quem já publicou com elas. A internet é sua aliada nessts horas.
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A malandragem das "editoras-gráficas"
Non-FictionUm alerta para quem está iniciando no mercado editorial.