Passado atual

Dentro do passado

     A cidade de Paris nunca havia estado tão encantadora. Talvez monárquica demais ao gosto do Jeon, mas ainda assim atraente demais para não vislumbrar-se. Na rodovia belos carros caminhavam alinhados por entre uma estrada pedregosa, e ao lado, mulheres portando vestidos rodados numa moda outono-inverno lhe trazia um ar um tanto antiquado. Jungkook não conhecia aquele cenário com clareza, mas em sua mente chutava possíveis possibilidades de se estar no passado, ainda que aquilo fosse um completo absurdo.

    Mas era um sonho, e sonhos não precisavam fazer sentido – apesar de que aquele estivesse vívido demais para separar o que era real e aquilo que era apenas ficção.

     Em alguns momentos, Jungkook sentia como se pudesse tocar em superfícies e sentir a textura de cada objeto, enquanto também poderia falar com desconhecidos e sentir como se fazer parte daquele mundo fosse completamente rotineiro e, de repente, um rosto por entre aquela multidão que caminhava por entre as rotas de cada rua encruzilhada lhe trouxe uma estranha sensação de familiaridade. Era um jovem moço, vestindo-se de sobretudo enquanto puxava de seu bolso um maço de cigarros. Ele escolhia sem critério um único palito de nicotina, levando-o até sua boca exprimido entre seus dedos, até que seus lábios o assegurasse de que poderia puxar toda a fumaça repleta de toxidade até seus pulmões talvez um tanto já comprometidos.

      Jungkook o observava curioso, percebendo a leveza que o familiar desconhecido soltava o ar de seus lábios e pairava sua visão por todo o prédio logo a cima de seu corpo. Era uma pequena padaria que prometia gostosuras por toda a faixada do lugar, e ao julgar o interesse do rapaz parado logo ali, sabia que logo ele adentraria o estabelecimento. Mas Jungkook permaneceria imóvel, interessado demais para perceber que o cigarro já havia sido lançado ao chão e pisoteado em plena calçada, dando passe livre para que o homem sumisse de sua vista ao adentrar de forma um pouco apressada demais em comparação a todos os minutos anteriores, na qual o homem parecia viver um segundo de cada vez.
       Completamente envolto à curiosidade que Jeon sequer saberia dizer o que o motivava a atravessar por todos aqueles carros em meio a uma sinalização duvidosa, ele adentrou a pequena padaria pela a qual o moço de sobretudo marrom e calças sociais um pouco maior que seu número havia entrado, sendo recebido por um som de jazz que se ambientava por toda a longa extensão do pátio amadeirado e pouco polido do fino estabelecimento quase vazio. Era uma padaria grande, rica e bastante conceituada se fosse reparar cada cliente que se sentava às mesinhas redondas com toalha cor de vinho muito bem posicionada em seu centro. A maioria dos fregueses tomavam uma xícara de café com torradas, mas havia casos a parte que degustava uma taça de vinho escorado no balcão de atendimento.

    E lá estava ele, sozinho e concentrado em uma fina pilha de papéis antigos, movimentando de forma atenta sua cabeça ao mesmo tempo em que concluía a leitura. Jeon passeou por todo o largo corredor como quem não queria nada, sentando ao lado de uma cadeira vazia que se encontrava próximo ao rapaz que sequer reparou sua presença. Passeou suas orbes por todo o balcão, acenando para o atendente que logo lhe traria um copo de chopp, mas ele não estava interessado nisso. Tudo o que Jungkook queria era uma brecha para roubar-lhe a atenção. E assim havia acontecido no momento em que o garçom posicionou sua caneca em frente ao seu corpo, fazendo com que o homem ao lado levantasse um pouco o olhar e o direcionasse sutilmente até Jungkook.

– Não moras aqui ... mora? – concluiu após segundos extensivos de análise.

– Como sabe?

– Presuma que sou uma figura importante, e então terás sua resposta. – deu um dos ombros, retornando a ler novamente seus papéis.

     Jungkook ponderou ao analisa-lo, correndo suas orbes por todo o rosto inexpressível daquele rapaz e maravilhando-se ao perceber uma rara beleza emanar de sua aparência.