Live the Life

1

O vento entrava pela janela do meu quarto, percorrendo pelo meu corpo descoberto, fazendo com que eu acorde.

—Porra, cadê meu cobertor? — pergunto a mim mesma com os olhos entreabertos por causa da claridade. Olho para o chão e vejo meu cobertor ali. Me levanto, vou até a janela e fecho a cortina, fazendo com que o amplo cômodo em que eu estava ficasse um completo breu. Era sábado, e eu definitivamente não estava afim de acordar cedo. Pela posição do sol, eu supus que era seis da manhã. Pego a manta grossa, já que o frio ainda correra pelo meu corpo, me deito na cama, me cobrindo até a ponta da cabeça e caio novamente no sono.

Acordo por um impulso após um pesadelo. Droga, essas merdas de pesadelos...
Pego meu celular para checar as horas e vejo que era uma hora da tarde. É, acho que dormi demais. Me levanto e me dirijo até o pequeno cômodo que havia embutido em meu quarto. Fico alguns segundos parada ali, observando minha aparência.
Olhos verdes, pele morena, cabelo ondulado até a cintura, e olheiras horríveis, que insistem em ficar ao redor dos meus olhos. Qual é? Eu tenho apenas quatorze anos, não posso parecer uma jovem fodida, que trabalha para caralho e não tem tempo para si mesma!
Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e tiro meu short de dormir, levando junto a minha roupa íntima. Logo, tiro a minha blusa, ficando nua, já que eu não usava sutiã para dormir.
Analiso meu corpo no espelho. Barriga chapada, cintura fina, quadris largos e coxas grossas, malditas coxas grossas. Observo meus braços que não são nem finos e nem grossos, vendo algumas cicatrizes e cortes profundo ali. Eu definitivamente preciso encontrar uma forma nova de descontar minha dor.
Ligo a banheira, enchendo ela com a água quente, que logo, esquentará o meu corpo.
Pego uma toalha e deixo-a próxima a banheira.
Desfaço o rabo de cavalo, substituindo-o por um coque. Solto um suspiro longo e entro na banheira, sentindo o líquido quente me esquentar, relaxando meu corpo por completo, acalmando meus nervos. Dou um suspiro de alívio e fecho os olhos.

Termino meu banho, passando uma toalha branca ao redor do meu corpo. Vou até a pia e faço as minhas higienes, escovando meus dentes, lavando meu rosto e penteando meus cabelos.
Volto ao meu quarto e coloco um vestido preto, acompanhado de um tênis cano longo — também preto —. Pego meu celular e desço até a cozinha. Mamãe e papai haviam saído para uma viagem, onde os mesmos ficariam duas semanas fora. Eu queria muito poder dizer que sinto falta da presença dos meus pais, mas como posso sentir saudades de algo que nunca tive? Coloco alguns Waffle na AirFrie, ligando o utensílio e cronometrar 10 minutos. Deve ser o suficiente, não? Enquanto o café da manhã não estava pronto, eu me joguei no sofá e liguei para Liv, que não tardou a atender.

—Oi, Liv! — eu a cumprimentei animada.

—Oi, Liana! Como você está? — a mesma me cumprimentou no mesmo tom.

—Eu estou bem, bem até demais. E você?
Olha, meus pais, novamente, não estão aqui em casa. Quer vir passar o final de semana aqui?

—Eu estou bem também, Lia! — a mesma me chamou pelo meu apelido de infância. — estou descendo as escadas e levando dez gramas. — não precisava ser nenhum gênio para saber que Liv ficou um largo sorriso estampado em seu rosto.

—Voce não presta. — Solto uma curta gargalhada e escuto a campainha. —Estou indo aí! — digo desligando o celular e indo até a porta. Liv era minha vizinha, morava a duas casas de distância, então a mesma chegou extremamente rápido. Abro a porta e dou um abraço na mais baixa. —Pode entrar, e você já sabe que pode ficar a vontade! — ela entra e eu fecho a porta.

—Então? Está com a seda aí? — Liv pergunta e eu concordo com a cabeça. —Estou indo lá no seu quarto pegar então, pode ser? Está no mesmo esconderijo de sempre?

—Pode ir lá, está no mesmo lugar de sempre sim. — a AirFrie dá um estalo agudo, indicando que o café da manhã estava pronto. —Antes de ir, vai querer seus Waffles com mel, ou leite condensado?