Capítulo 5- Paixão

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Okay, que porra é essa?
"Preciso de ajuda, me encontre do lado do barzinho perto da faculdade"
QUE??? Como assim?...ele some por um tempo do caralho e do nada manda essa?
Eu tento ligar mas não sou atendido sendo deixado apenas com os bipes do meu celular e meu quarto escuro como o breu.
Eu saio de casa de forma acelerada, mesma roupa apenas com um casaco já que as noites de Londres são bem frias, espero que não tenha neve hoje.
Chegando no local eu encontro Ryan apoiado na parede do bar, ele parece estar machucado já que vejo sangue no chão.
"RYAN? TÀ TUDO BEM?" eu corro até ele e tendo o fazer levantar.
"VAMOS PRO HOSPITAL, EU CONHEÇO UM PRÓXIMO DAQUI-" Minha frase é interrompida por Ryan.
"Só cala a boca e para de gritar." Ryan diz sério enquanto tenta se livrar dos meus braços me empurrando.
"Você só tá fazendo minha dor de cabeça piorar gritando desse jeito, só me ajuda a volta pra faculdade." Ryan estava...estranhamente sério. Sendo seu colega de quarto por anos eu sempre notei sua atitude desleixada que conseguia levar tudo na brincadeira e fazia amigos em todo lugar que chegasse...porém...ele parece tão sozinho.
"Eu não posso te levar pra lá sendo que você tá desse jeito! Você por acaso acha que eu sou maluco porra?"
"Cacete você não consegue fazer nada que me ajude nem nessa situação? Vai se foder então, eu vou voltar sozinho." Ele tenta dar alguns passos pra frente em direção a faculdade porém desmaia de cara no chão.
Bem...ele conseguiu oque queria né? Agora estamos no nosso dormitório enquanto ele descansa, eu não sei o porque ele não queria ir para o hospital mas sinto que ele iria me odiar se eu o levasse pra lá, eu comprei um miojo junto de uma latinha de refrigerante em uma loja de conveniência perto...estou me sentindo mal por ter feito isso por alguma razão.
Enquanto eu dialogo comigo mesmo Ryan levanta com uma cara não muito feliz.
"Eu ajudei nos seus ferimentos enquanto dormia, e ai tá sua janta. Espero que aproveite."
"...Valeu."
Ele come de maneira quieta enquanto eu encaro o teto do meu quarto escuro, de qualquer forma...o que aconteceu? Eu to curioso e preocupado, e se ele se meteu em alguma gangue ou algo assim?...
"Você tem irmãos né Liam?" Ele diz em um tom deprimido.
"Ah, tenho sim. Uma irmã mais nova e um irmão mais velho."
"Você...se dá bem com eles?"
"Sim claro! Crescendo sem um pai presente e uma mãe que não se importava foi difícil óbvio porém a gente sempre deu um jeito e continuamos unidos, esse é o significado de família né?"
"Hm...eu tenho um irmão também."
"Como ele é?"
"Não muito gentil como pode ver, afinal, foi ele que fez isso comigo." Um silêncio se instaura quando a frase termina. O seu irmão...? Como isso? Porque...?
"Ele disse que eu não deveria tem ter nascido, se eu não existisse e não fosse um incomodo tão grande o pai e a mãe não teriam que ficar gastando com um inútil como eu." Ele dá uma pausa em sua frase.
"Hey...é engraçado né?...porque eu nem queria estar aqui pra começo de história..." Ele começa a chorar enquanto eu o encaro imóvel.
"Oque eu queria ser mesmo...? Será que eu já tive algum sonho?...não me lembro." Ele diz e se contorce na cama com a cara enfiada em um travesseiro.
"Ah...eu queria tanto não ter que pensar." Dá pra ver que ele não tá legal. Que irmão fala esse tipo de coisa? Não ter um sonho? Mas...sonhos são oque movimentam as pessoas todos os dias...
"Você...nunca quis ser alguma coisa? Talvez um astronauta...ou até mesmo um pirata quando criança!"
"Meus pais sempre disseram oque eu deveria ser, oque eu deveria vestir ou oque comer...que amizades ter e de quem gostar." Ele dá um longo suspiro.
"Eu acho...que eu nunca fui uma pessoa de verdade." ...wow, eu nunca pensei que um cara tão relaxado como o Ryan podia ser tão sombrio. Acho...que as pessoas não são sempre oque eu espero...será que ele já esteve dando sinais todo esse tempo e eu não percebi...eu sou tão insensível assim? Em algum momento eu já olhei pra ele?
"...Você sabe oque me fez gostar de pintar tanto assim?" ele me olha com os olhos marejados.
"Eu tinha o costume de sempre ir para parques só para observar oque os adultos gostavam de fazer, alguns jogavam xadrez outros aproveitavam uma partida de pocker, mas oque sempre me encantava era o senhor que se sentava em um banco todos os dias e pintava uma tela. Olhando agora não era nada super impressionante, porém eu amava assistir cada pincelada que ele dava e como ele conseguia transferir todo seu sentimento naquela arte. Uma vez ele me viu e conversou comigo, ele disse que por conta da sua idade avançada ele vivia esquecendo de como aquela paisagem era, então começou a pinta-la pra nunca esquece-la, ele disse que era o lugar favorito de sua esposa falecida...foi ai que eu pensei que queria eternizar minhas memórias em forma de arte também! Não só isso mas me expressar e deixar o mundo todo ver meus sentimentos...foi assim que a arte virou minha paixão!" Eu mesmo fico um pouco emocionado com a minha história oque faz Ryan rir.
"Qual é...não tem graça! È pra ser uma história emocionante!"
"Haha...você é tão apaixonado que chega a ser engraçado...é um grande contraste com minha falta de identidade...eu te invejo tanto..." Ele diz deitado na cama, aparentemente um pouco melhor.
"Sabe...eu te invejava também, o seu dinheiro e o jeito que seus pais supostamente te amavam tanto que continuavam te apoiando mesmo você nem indo as aulas...agora eu vejo que o seu dinheiro é uma prisão, não amor."

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