Ao precisaria se esforçar muito se quisesse se atrasar, pois a Academia militar ficava dentro da própria base. Vestindo o uniforme casual, Ao se sentiu exposto: os cabelos verde-água à vista lhe traziam desconforto, já que não tinha mais como escondê-los sob o capuz. Carregava também uma bolsa, onde colocou os materiais escolares, seu tablet e celular, que tinha ganhado do exército. Nunca antes fora para a escola: tinha aprendido o básico da leitura, escrita e matemática com um professor particular.
Mesmo na base, ele sentia o som baixo e inquieto da cidade sob seus pés. Como diria um filósofo famoso de um período anterior à Queda, quando se olha muito para o abismo, ele olha de volta para você. Ao sentia o abismo como se ele fosse uma criatura viva.
Ao encontrar sua sala, caminhou até o primeiro canto vago que viu e logo se sentou. A sala era ampla, com mesas compridas em fileiras dispostas, cada uma, em um nível diferente do chão. Não prestou muita atenção nos colegas que logo encheram a sala, embora fosse difícil não reparar nos murmúrios que se seguiram.
Aparentemente, os alunos não tinham sido avisados que o menino ceruliano se juntaria a eles na classe. Ele manteve o olhar distante, enquanto os lugares ao seu redor eram preenchidos.
O professor entrou e todos se levantaram, bateram continência e se sentaram. O homem de meia idade logo pôs seus olhos em Ao.
─ Bom dia, alunos. Como vocês devem ter reparado, temos um aluno... transferido. Por favor, poderia se apresentar?
A sala fez um silêncio mórbido. Ao se levantou.
─ Meu nome é Ao. – Olhou fixamente para o professor. – Prazer em conhecer.
Então, ele se sentou novamente, sem encarar ninguém nos olhos.
─ Ao, seja bem vindo. É muito bom ter você aqui na nossa aula de história. Hoje vamos aprender sobre A Queda. Alguém saberia me dizer por que a Terra ainda segue em disputa?
Uma garota no fundo da sala respondeu.
─ A Terra está muito distante das outras civilizações.
─ Muito bem, Sayla. Isso significa que, nas três décadas que se passaram desde a chegada da primeira nave alienígena, não houve tempo para organizarem grandes invasões. Podemos dizer que ainda estão em estágio de reconhecimento. Isso nos deu tempo para preparar nossas defesas. É por isso que todos vocês estão aqui. Como militares de Lesa, vão ter a honra de defender a Terra contra as ameaças do espaço.
Ao sentiu alguns olhares curiosos em direção a ele. Um alienígena estudando para defender a Terra era no mínimo curioso.
─ Mais uma pergunta: qual povo desceu à Terra na Queda, há 33 anos?
─ Os Cerulianos, senhor. Vieram invadir e conquistar nosso planeta. Mas, nos últimos tempos, parece que a tática deles mudou um pouquinho. ─ Risadinhas apareceram aqui e ali, entre os alunos, que olhavam para Ao e desviavam rapidamente o olhar.
O professor deu-lhes uma bronca e a aula continuou.
A despeito de todas as preocupações de Ao, a manhã transcorreu bem. Ao achou algumas aulas mais complicadas, mas a maioria era possível de acompanhar.
No horário do almoço, ele encontrou Yuna no corredor. Ela vestia o uniforme feminino: casaco preto e saia com detalhes em branco.
─ Ao!
─ Yuna, como vai? ─ Respondeu ele. Era um alívio encontrá-la, depois de preso em uma sala com tantos desconhecidos.
─ Vou bem e você?
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AO - A Ameaça Cerul
Science FictionO terceiro planeta mais próximo do Sol. Distante da estrela amarela Sol apenas 8 minutos-luz, a Terra, vista do espaço, não é um geóide qualquer. Um oásis azul, branco e convidativo, em meio aos outros mundos inóspitos do Sistema Solar. Seus habitan...