única parte

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— Eu vou na frente! —  gritei, correndo para a porta do passageiro antes que Silvia fizesse isso.

— Você sempre vai na frente. — a morena reclamou.

Ouvi a risada de Luiz atrás de nós, onde ele trancava a porta de casa.

— Eu não tenho culpa se o Luiz gosta mais de mim. — respondi, mostrando a língua para ela.

— Muito madura.

— Você me ama. — sorri, convencida, e ela revirou os olhos.

Luiz finalmente chegou até nós, abrindo o veículo para que pudéssemos entrar. Eu já estava com as mãos no rádio antes mesmo da porta fechar, e conectando meu celular no mesmo logo em seguida.

— Você não vai colocar Taylor Swift hoje. — Silvia reclamou no banco de trás, se jogando entre os assentos para tentar pegar o meu celular.

— Mas eu que mando nas músicas! — retruquei, inclinando o corpo para frente para ficar longe de seu alcance.

Não demorou muito para estarmos brigando pela posse do meu celular e das músicas.

— Então eu escolho as músicas. — Luiz disse por cima dos nossos gritos e tirou o celular das minhas mãos.

— Não é justo. — Silvia reclamou. — Você vai colocar as músicas dela de qualquer jeito.

Apesar dos protestos, Luiz colocou uma playlist dele e deu partida no carro. O caminho de sua casa até a de Silvia não era tão longo, então não pudemos ouvir mais de três músicas até estarmos no portão dela.

Ela se inclinou entre os bancos para dar um beijo na minha bochecha e na de Luiz, se despedindo rapidamente e saindo do carro em seguida.

— Dirijam com cuidado! — ela disse do portão.

— Pode deixar! — Luiz respondeu, dando partida no carro novamente.

Enquanto ele fazia uma curva, eu peguei o meu celular do seu colo para poder colocar a minha playlist. Ele apenas riu e não falou nada, como eu sabia que faria, porque ele sempre me deixava colocar músicas quando estávamos sozinhos no carro.

No fundo eu sabia que ele escutava as mesmas músicas que eu para não me deixar sozinha cantando.

Paramos em um farol fechado e estávamos animados cantando Drive By do Train, quando a música acabou e Everybody Talks do Neon Trees começou. Eu aumentei o som, porque era uma das minhas músicas favoritas. Luiz apenas batucava os dedos no volante enquanto eu cantava a plenos pulmões a introdução da música.

Eu estava muito feliz e animada e não sabia exatamente o motivo, mas, quando o refrão passou, vi que Luiz me encarava com um sorriso bobo no rosto; e algo tomou conta de mim.

Aproximei-me dele rapidamente e o beijei. Era algo do momento e acabou rápido. Luiz me olhava surpreso enquanto eu voltava a me sentar e olhava para frente. O farol estava verde de novo, e ele deu partida no carro, antes que os motoristas de trás começassem a buzinar.

As músicas continuavam, mas não cantávamos mais nem sequer estávamos conversando sobre. Eu já estava preparada para fingir que nada tinha acontecido e ia começar a cantar a próxima música, quando paramos em outro farol e dessa vez quem me beijou foi ele.

— Eu queria fazer isso há tanto tempo. — ele disse depois de separar nossos lábios.

Eu só soube rir em resposta, ainda sem reação. Ele me acompanhou na risada, mas acho que a dele era totalmente por outro motivo. Eu estava confusa, e ele estava feliz.

Ele voltou a prestar atenção no volante quando os motoristas começaram a buzinar. Eu ainda estava sem reação, mas mantinha um sorriso tranquilo no rosto. Eram muitas sensações e eu não sabia como digerir.

Apoiei o braço na janela, cobrindo o sorriso com a mão. Eu estava feliz? Ou aquele riso era apenas desespero? Eu não sabia dizer. Sentia seu olhar de vez em quando, mas eu não tive coragem de olhá-lo de volta em nenhum momento.

Sabia que já devíamos estar perto da minha casa, então eu poderia sair e pensar em tudo. Mas ele parecia ter outros planos.

Notei quando ele fez uma curva diferente, e então estávamos pegando a saída para fora da cidade.

— Onde estamos indo? — perguntei, finalmente olhando para ele. Luiz apenas deu de ombros, dando seta para entrar na estrada.

O dia estava ensolarado e quanto mais ele acelerava o carro mais eu sentia o vento bagunçar meus cabelos. E a sensação era ótima. Fechei os olhos e deixei aquilo me consumir de vez.

Estávamos indo rápido e eu me sentia feliz e livre e ele estava me olhando e eu estava no céu. Era uma sensação ótima poder finalmente me soltar de tudo e só aproveitar o vento no meu cabelo; nada mais importava, apenas eu e ele e a estrada comprida a nossa frente.

Eu o olhei e ele ainda me encarava e eu estava para abrir a boca e reclamar com ele sobre isso, porque ele tinha que prestar atenção na estrada, se não acabaria batendo o carro. Mas eu não tive tempo de dizer nada.

Um barulho alto de pneus chamou a nossa atenção e nós olhamos para frente ao mesmo tempo. Senti o carro virando para o lado, e percebi que era Luiz tentando desviar do carro que havia freado. Eu ouvi o impacto antes de sentir, e antes de eu assimilar o que tinha acontecido tudo ficou escureceu.

reckless driving (conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora