The Wizards - Os Magos Da Música (MikaYuu)

Capítulo 38 - Quem semeia vento colhe tempestade

A noite se arrastou levando Mikaela junto com ela enquanto ele afogava as mágoas na bebida...O riso solto e exagerado era apenas um escudo para camuflar sua dor.

O barulho costumeiro do bar servia como um incentivo para mais uma dose quando todos ali pareciam procurar pela alegria do momento, sem se importar que fosse passageira quando pilhada por boas doses de álcool.

Do outro lado do balcão Shusaku só olhava e torceu o nariz quando o pianista amargurado bateu o copo vazio contra o tampo de mármore e, sem expressar nenhuma palavra, simplesmente sinalizou pra ele que queria mais uma dose.

"Desce mais um aí Shusaku?" - Mikaela pediu quando percebeu a má vontade do barman, sem perceber como sua fala já denotava seu estado de embriaguez.

O jovem barman se afastou levando o copo do loiro com ele, mas não antes de arquear bem as sobrancelhas só pra demonstrar seu desagrado.

Mikaela gargalhou alto sem nenhuma noção de que o fazia apenas pelo fato de não compreender porque Shusaku não ia com a cara dele, não que isso lhe trouxesse qualquer tipo de preocupação pois na verdade ele não estava nem aí.

Mais uma vez Mika estava sabotando a si mesmo ao achar que aquilo não o incomodava. Na verdade ultimamente ele gastava muito tempo pensando em uma maneira de se menos desagradável com as pessoas e também não sabia se gostava dessa nova maneira de pensar.

Depois de velho estava ficando careta e molenga...Pensou que tinha sido o efeito da bebida ao imaginar seu próprio pai lhe dizendo aquilo.

Mika balançou a cabeça e se permitiu mais espaço ao esparramar os cotovelos no balcão, teve que segurar a cabeça pois ela estava começando a rodar...Expirou profundamente enquanto aqueles pensamentos indesejáveis rondavam sua mente vazia. Sentiu um toque suave em seu ombro esquerdo, mas não conseguiu mover-se do lugar.

"Ei...Mika."

As pálpebras pareciam pesar uns duzentos quilos quando ele abriu os olhos ao mesmo tempo em que girava a cabeça vendo as figuras borradas à sua frente, viu o que parecia uma garota rindo e conversando animadamente atrás do balcão, imediatamente pensou em Yuummy mas ao ver os cabelos roxos ele deduziu que era apenas Chess.

Baixou a cabeça como um derrotado, pensando que alguma coisa deveria dar certo em sua fodida vida! Por mais que se esforçasse não conseguiria abandonar a idéia de que Yuummy poderia ser a sua tábua de salvação, nem quis medir as consequências de uma possível tentativa porque tinha medo de fracassar novamente.

Um fracassado, uma vergonha pra mim e pra sua mãe...O loiro chegou a se levantar do banquinho depois de ouvir a voz de seu rigoroso pai falando dentro da sua cabeça.

Seu corpo estava pesado, seus pés mal podiam sentir o chão, nem sequer sabia quais eram os motivos de ainda estar em pé, continuando...de repente sentiu uma espécie de estafa, e não estamos falando de algo físico aqui, a sensação vinha lá do fundo do seu âmago, corroendo-lhe por dentro.

Estava farto de continuar errando, oras bolas, a quem ele queria enganar? Já não era um jovem adolescente, caramba! Não era uma criança e ainda agia como se fosse, tentando chamar a atenção de quem não lhe dava a mínima! Dia após dia carregando em seus ombros a culpa que seu pai havia colocado sobre ele, enquanto exigia uma avalanche de requisitos que seriam inatingíveis até mesmo para o cara mais santo do universo.

Quase podia ouvi-lo dizer em alto e bom som o quanto era desgostoso ter um filho desempregado que ficava sonhando em ser músico...E vai trabalhar com o quê?...Falando como era decepcionante vê-lo se distanciar dos valores familiares que eles lhe enfiaram pela garganta até a exaustão, e de como era vergonhoso que ele ainda não tivesse a mínima capacidade de constituir uma família.