Embora ser esposa de um CEO tenha lá suas vantagens, as desvantagens conseguem superá-las com muita facilidade. Cheguei a esta conclusão ainda em meu primeiro ano de casada quando percebi que cada mísero minuto da minha vida seria planejado, cada palavra que saísse da minha boca seria examinada e censurada, e que todas as minhas decisões seriam completamente ignoradas, escanteadas.
Eu tenho quase certeza que foi por causa do terno. A primeira vez em que pôs os olhos em mim, meu marido me deslumbrou com seu terno inteiramente negro e de grife e seu carro esportivo conversível vermelho, tão rebaixado que quase resvalava pelo asfalto quando estava em perfeito movimento.
David era o único herdeiro de uma gigante multinacional da indústria farmacêutica. Praticamente já havia nascido em berço de ouro. Ele também era 10 anos mais velho do que eu. Era um homem bonito, charmoso e porte imponente, sofisticado. Visualmente, ele era a completa realização de sonho. Todos ao meu redor me convenceram de que ele era um excelente partido, talvez o melhor que eu pudesse querer para a minha vida. Eu me perguntava se conseguiria chamar sua atenção.
Durante muito tempo na minha fase de adolescência, fui a filha única certinha, desengonçada e não muito atraente, que mais parecia não ter nenhum atributo e muito menos querer desenvolvê-los. Entretanto, aos 17 anos, próximo a ingressar na faculdade, eu quase literalmente desabrochei, desenvolvendo curvas e um belo par de seios em um curto espaço de tempo, atraindo a atenção dos rapazes que antes em nada reparavam em mim. De súbito, eu me tornei a interessante, a sensual, e estava adorando isso.
Eu me formei com honras em Direito pela Universidade de Yale, e foi naquele campus em que vi David pela primeira vez, exatamente assim como eu disse, parecendo a personificação de um galã literário. Eu tinha apenas 18 anos. Meu olhar seguiu sua figura majestosa com avidez enquanto ele dirigia, quase fazendo meus pés flutuarem do chão. Ele tinha cabelos negros cortados em estilo militar, era alto e forte, de pele clara e olhos verdes chamativos. Minhas amigas da época não puderam evitar um ligeiro empurrãozinho para acelerar mais as coisas.
"Ele é bom demais para ser jogado fora, Beverly!", "Já imaginou como seria a vida ao lado de um homem assim?", "Ele é rico e lindo, Beverly, o melhor pretendente que alguém poderia querer!". Escutei tudo isso de todas elas e, de certa forma, estas foram as palavras que me encorajaram a seguir em frente com David.
Estava muito feliz com a minha aparência. Estava satisfeita e amando o que eu costumava ver no espelho, e todos diziam que eu estava a cara da minha mãe. Bem, eu herdara seus olhos em formato de amêndoas, azuis e brilhantes, o cabelo loiro espesso e encorpado que descia em ondas pelas minhas costas, sua pele bronzeada como um pôr do sol de verão e o pavio curto das mulheres de sua parte da família.
Com um pouco de pesquisa a seu respeito e tentativas de flerte nas vezes que sucederam nosso primeiro encontro, não foi surpresa para ninguém, nem mesmo para mim, quando me vi na posição de noiva aos 22 anos de idade.
Acho que, o que David viu em mim, foi uma oportunidade. Uma jovem esposa recém formada com honras em uma das melhores universidades do país, fluente em francês e alemão, atraente, bonita e obediente. Eu era o bibelô perfeito para ser exibido como o braço direito de um milionário, apenas precisando terminar de ser lapidada. Após o casamento, nos mudamos para Nova York, onde ficava a matriz de sua empresa, e ele me ensinou coisas como velejar, cavalgar e até mesmo me incentivou a aprender a pilotar helicópteros, tudo isto para eu ser o modelo ideal de esposa. Aquela que sabe fazer de tudo um pouco, mas sempre tem um tempo reservado para o marido e sua casa.
A pedido dele e como realmente deveria ser, comecei a me vestir com roupas de grife, falar como uma madame rica e participar de ações sociais para ganhar visibilidade como uma socialite. Era tão cansativo que eu estava esquecendo de como ser eu mesma. No meu primeiro ano de casamento, percebi que era a isto que minha vida se resumiria. Se pelo menos David fosse um homem carinhoso, romântico... Mas ele estava longe de ser assim. Ele não era muitas coisas, na verdade.
Filhos estavam fora de questão até completarmos cinco anos de casados. Era um de seus planos, então ele era muito rigoroso quanto ao meu método contraceptivo, que se resumia em um DIU hormonal regularmente checado pela minha ginecologista. Até o sexo parecia ter dia e hora para acontecer, o que o tornava nada satisfatório, pelo menos para mim.
Eu realmente tentava agradá-lo, mas não importava o que eu fizesse, David nunca parecia feliz ou satisfeito. Não demorou muito para as traições começarem, e menos ainda até eu descobri-las. Era um ciclo vicioso. Ele me traía, eu descobria, nós brigávamos e, no fim das contas, eu o perdoava.
Com muita frequência, passei a me perguntar o motivo de as noivas falarem com tanta empolgação sobre quererem estar casadas ou sobre qualquer coisa que envolvesse o casamento propriamente dito. Quero dizer, se os casamentos podem se transformar no que o meu se transformou, não seria melhor seguir a vida sozinha? Acho que um simples namoro seria capaz de suprir suas necessidades femininas.
O dia do meu próprio casamento talvez tenha sido o mais longe que eu cheguei em romance em meu relacionamento. David deveria ter se esforçado ao ver os meus esforços. Deveria ter me dito palavras bonitas, tentado me agradar com flores alguma vez na vida. Se ele tivesse feito várias coisas, ou pelo menos um pouco mais, ao invés de me entupir de dinheiro para tentar apaziguar meus sentimentos, as coisas entre nós poderiam ter sido diferentes... ou completamente iguais. É difícil dizer.
Entretanto, eu nunca poderia imaginar que, a partir de um casamento fracassado e uma tentativa de assassinato contra mim, a minha vida mudaria da água para o vinho tão rapidamente.
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Desejo Proibido
Romance"Embora ser esposa de um CEO tenha lá suas vantagens, as desvantagens conseguem superá-las com muita facilidade. Cheguei a esta conclusão ainda em meu primeiro ano de casada quando percebi que cada mísero minuto da minha vida seria planejado, cada p...