Midnights | Pedro Pascal

Não consigo deixar isso pra lá. Eu luto contra você nos meus sonhos

AVISO: a narrativa FICCIONAL é sobre relacionamento abusivo. Logo, haverá menções a violência física e psicológica. Depressao, ideação suicida e crises de pânico.
Além disso, apesar de instituições e pessoas reais serem parte dessa história, nada disso aconteceu de fato. É tudo ficção sem fins lucrativos e sem intuito de prejudicar ou ofender a imagem de qualquer mencionado. Semelhanças com a realidade são coincidências, somente.
Boa leitura! E feedbacks são bem-vindos!

Eu nunca vou ser rica.

Não é um pensamento isolado, tampouco uma realização que nem se fala na internet. É só perceber que quando eu olho para o meu reflexo no espelho. Os escritos tanaíticos dizem que rico é aquele que está feliz com a sua parte e isso não se aplicava aquele reflexo que vestia um terno escuro Dolce & Gabbana já folgado e que também tinha o rosto adornado de maquiagens caras. Os dólares que gastei em Mars e Rare beauty para destacarem os meus olhos azuis e talvez me sentir mais parte da realidade de alguém que cada vez menos era jovem fora da hierarquia do trabalho mas continuava sendo alguém com muito a aprender e a trilhar. Às vezes os 30 pareciam ter o peso do mundo e às vezes parecia que eu não estava tão longe assim dos 20, não podia ser tão exigente, eu ainda queria ter a base da Selena Gomez e ter a mesma energia depois de horas de porre, entretanto, cada vez mais essa realidade era mais dissonante do que eu. Algo que cada vez mais era gritado como inadequado e com questionamentos de quando eu finalmente cresceria.

Decidi fumar depois de agradecer as assistentes que anotaram os pequenos ajustes que relatei a serem feitos com a barra da calça — os mocassim seriam os meus aliados para cobrir o evento, saltos eram os inimigos indesejados — engraçado que a minha primeira cobertura do Oscar se tornou rapidamente um evento na minha cabeça. Um evento que nem o Bar-Mitzvah do meu meu primo, que foi o primeiro que fotografei em nível profissional, leia-se, o primeiro evento que fotografei e fui paga por aquilo, mesmo sendo um trabalho que fiz para família, trabalho ainda era trabalho e as irmãs Menzel sabiam que não precisariam de um discurso homérico para me convencer a aceitar dinheiro no final da faculdade. Precisava dele e de portfólio.

Engraçado como essa relação basicamente sumariza o que é a indústria do entretenimento: você não vai muito longe se não é parente de alguém. Hoje, fazem piadas com isso mas, eu sou uma daquelas pessoas que não fizeram parte daquele seleto grupo de pessoas que tinham uma câmera e um sonho — até porque câmeras profissionais bem como acessórios dignos são caros para um cacete — eu precisei construir minhas oportunidades. E antes que você pense: oh não, mais uma garota padrão falando sobre meritocracia preciso alertar que a forma que eu precisei construir as minhas oportunidades não foram bonitas.

Quando eu tinha uns 22 anos e estava adquirindo a noção de ter um portfólio diverso e que fotos de família, ainda que pagassem bem, não me ajudariam a alcançar o meu sonho de ser uma Annie Leibovitz da vida, pensei que precisava de um diferencial. Sempre acreditei que o diferencial ou é nato ou é feito com esforço e bem, essa última parte envolvia grana. E quando você é filha de um inglês turrão que pensa que você está usando estudar fotografia como um escapismo para então inevitavelmente cair em si e finalmente entrar na faculdade de direito e um dia assumir o escritório tradicional da família — olha só o nepotismo de novo — quanto menos dinheiro você tiver, mais sucessível à chantagens emocionais você será.

Eu obviamente não queria nada disso, então, sendo uma menina que tinha a Alexa Chung como referência, decidi: eu vou ser uma it girl.

Ser uma it girl parecia o caminho mais fácil. Eu era considerada bonita com os cabelos platinados. Tinha uma boa experiência com fotografias de cotidiano e de retratos e o Instagram era novidade, a chance de se consolidar em uma rede nova em que tudo parecia empolgante foi onde eu reconheci "é agora ou nunca"