1 - Acidente do Rímel e Um Abraço Inesperado

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Eu nunca aprendi a nadar. Ou a andar de skate. Muito menos a surfar. Mas essas são todas as coisas que ela sabe fazer. Maya Machado, mais conhecida na escola como "M&Ms". Ela é o amor da minha vida todinha e nem ao menos sabe disso. Não me dá mais que um bom dia e um sorriso nas poucas vezes que nos cruzamos pelos corredores do Colégio Maresias do Sul. E nem moramos literalmente no sul, o que torna o nome bem irônico, eu sei. Fazer o que.

Aqui na Baía das Arraias, as opções de diversão parecem diminuir a cada ano que passa. Será impressão minha? Duvido muito, já que meu meio de diversão, além de andar de patins e cuidar das minhas plantinhas queridas, é stalkear a garota de cabelos curtos e olhos brilhantes que gosta de biscoitar bastante em sua conta do Instagram. E mais uma vez checo seus stories, talvez pela milésima vez só hoje. Lia Guimarães, minha melhor amiga de toda a vida, revira os olhos ao se sentar ao meu lado na cantina e me ver com o celular nas mãos.

— Mais um pouquinho escorre a baba, espera só.

Dou um empurrão de leve nela.

— Cala a boca. Estou apenas... conferindo meu feed, nada além disso.

— Aham, tô sabendo. Você pelo menos segue ela?

Eu fico uns segundos em silêncio. A realidade me deu um tapa na cara, mas é meu coração que está doendo.

— Não. Nunca tive coragem de clicar naquele maldito botãozinho azul.

Ela suspira e morde seu sanduíche de presunto e queijo, ao que eu chego perto e dou uma mordida, roubando um pedacinho.

— Ei!

— Desculpa — digo, rindo — Mas ele tava aí, dando sopa.

Ela ri um pouquinho e dá mais uma mordida.

— O que você trouxe hoje que tá preferindo meu sanduba? — ela pergunta depois de engolir.

— Club social — digo, fazendo cara de choro.

Ela pensa por uns segundos e sorri para mim.

— Eu aceito trocar meu sanduba pelo seu Club Social e por uns minutos com seu celular. Topa?

Recuo um pouco, meus dedos abraçando meu queridinho com capa verde-claro.

— Por que você quer meu celular?

Ela morde um pedacinho do misto para a parte comida ficar em linha reta. Lia e seu perfeccionismo.

— Vi uma música na sua playlist no outro dia e eu gostei muito, mas não lembro o nome, aí queria procurar. Só isso.

Faço uma careta e estendo meu celular para ela, hesitantemente.

— Credo, quanto desconfiança.

Ela pega o Club Social de cima da mesa e me estende o misto embalado em papel alumínio. Mordo um pedaço e sorrio, sentindo todos os ingredientes que Dona Ana colocou. Requeijão, duas fatias de presunto e uma de queijo e um tantinho de orégano. Eu amo essa mulher e venero seu dom culinário.

— Não sei se já te disse isso, mas eu casaria fácil fácil com a sua mãe, Lia.

Ela, ainda com os olhos na tela do meu celular, suspira e diz.

— Já disse. Pelo menos quinze vezes só essa semana.

Dou de ombros e mordo mais um pedaço.

— Ela daria uma ótima suggar mommy.

Lia faz cara de nojinho e eu começo a rir tão alto que algumas pessoas viram a cabeça na minha direção. Eu respiro fundo para me conter um pouco, mas o sorriso não sai dos meus lábios por nada.

A (não) Obsessão de LuízaOnde histórias criam vida. Descubra agora