Engulo em seco. Será que eu devo mesmo ir com ela? Ou invento uma desculpa qualquer?
— Vamos — é o que realmente sai da minha boca. Luiza, você gosta de sofrer garota?
Ela sorri em retorno. Por um segundo, realmente achei que ela iria colocar o braço em volta do meu pescoço mais uma vez, mas ela apenas ficou com aquele sorrisinho nos lábios extremamente beijáveis e colocou as mãos nos bolsos do short esportivo da escola. O único tipo de short permitido aqui. Apesar de relativamente junto ao corpo, ele vai até pouco acima do joelho, o que o configura uma bermuda, mesmo eu o chamando de short. Beleza, vamos mudar de assunto, antes que ela perceba que eu estou há um tempo razoável olhando para as pernas dela.
Estamos caminhando e eu nem tinha percebido, até que passamos pelo portão de entrada e vamos a passos calmos pela calçada.
— Aceita um sorvete? — ela pergunta, quando estamos nos aproximando da esquina e consequentemente nos aproximando da Sorveteria Pôr-do-Sol. Não sei porque o point jovem dessa cidade seria uma sorveteria, mas, ao mesmo tempo, não julgo, já que adoro sorvete. Verifico em minha carteira e vejo que só tenho minha florzinha seca e uma moedinha de um real. Para onde foi meu dinheiro?
— Acho que não vai dar — digo, tentando sorrir para não parecer tão decepcionada.
— Por quê? — ela pergunta, parando logo depois de mim e vindo mais para perto, ficando de frente.
— To sem grana.
Seu sorriso aumenta. Será que ela ta tirando uma com a minha cara e eu tô sendo uma trouxa apaixonada à toa?
— Relaxa. Te consigo um de graça.
— Não posso deixar você roubar um sorvete, Maya.
— Quem disse que vou roubar? Não confia em mim?
Mordo o lábio inferior. Confio? Quer saber, foda-se, confio sim.
— Confio, mas...
— Então usa essa sua boquinha linda pra comer, invés de argumentar em como vou te conseguir esse sorvete.
Ela pega a minha mão e anda animadamente até a sorveteria, me arrastando com ela. Sério, me sinto a protagonista de uma comédia romântica. Se for um sonho e alguém me acordar antes de eu chegar naquela sorveteria, vou acabar perdendo meu réu primário, quero nem saber.
Quando adentramos na sorveteria, que nesse horário está praticamente lotado, ela me senta em uma das cadeiras de uma mesa para duas pessoas e me pede para esperar, então se afasta e entra numa porta lateral. Pego meu celular e vejo as mensagens de Lia, surtando e perguntando muitas coisas, e da minha mãe, dizendo que vai chegar mais tarde do serviço. Enfim, a happy hour. Eu acho.
Sou puxada de volta para o presente, para a sorveteria, quando Maya coloca uma taça de banana-split na mesa e duas colheres, se sentando à minha frente em seguida. Finalmente noto o que está diferente: ela está com a roupa laranja da sorveteria.— Então você trabalha aqui... — digo, pegando uma das colheres, enfiando no sorvete e pegando uma parte, enfiando na boca. Meu Deus, que delícia! Sou obrigada pelo meu próprio corpo a fechar os olhos e sorrir, porque esse é sinceramente um dos melhores sorvetes que já provei. Solto um gemidinho de aprovação e ouço a risada de Maya, me fazendo abrir os olhos. Ela me encarava, com seu sorrisinho e a cabeça meio de lado, apoiada no braço.
— É bom né?!
— Bom é apelido. Acho que finalmente entendo porque esse lugar é tão famoso. Deve ser legal trabalhar num lugar assim.
Ela dá de ombros.
— Tem seus momentos bons. Tipo esse. Mas tem hora que dá vontade de jogar uma bomba e explodir tudo esse sorvete.
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A (não) Obsessão de Luíza
RomanceLuíza Castro ainda não saiu do armário oficialmente, apesar de sua família meio que saber, mas nada disso importa para ela, já que a única coisa em sua mente nos últimos meses (talvez anos) é Maya Machado, a garota descolada que ama andar por aí de...