Por SrtaAthena-
Cidade Susanoo
Biblioteca QuercusOs olhos castanhos avermelhados de Karin perambulavam pelo tabuleiro de xadrez enquanto Suigetsu comentava sobre o jogo acirrado da ruiva com o jovem herdeiro da alcateia que nem mesmo prestava atenção nos comentários sugestivos do garoto de olhos violeta, destinado a ser seu Ômega em um futuro próximo.
— Sua rainha está em cheque, Sasuke — Karin riu baixinho, apoiando-se na costa da cadeira da biblioteca, encarando seu adversário convicta de que aquele round estava encerrado e ganho.
— Está tão confiante assim? Deveria ser menos presunçosa — Sasuke suspirou, curiosamente passivo, diferente das palavras provocativas. Suigetsu riu baixinho, escondendo metade do rosto em um livro de capa dura, com o título desgastado pelo uso constante dos frequentadores do lugar.
Karin sorriu, cruzando os braços, se aconchegando no silêncio daquela pergunta óbvia, esperando por alguma ação da rainha do time preto. Sasuke bufou, revirando os olhos tão intensos quanto as peças do tabuleiro, movendo a rainha, comendo a peça que a ruiva jamais pensaria que fosse perder.
— Um silêncio por uma rainha — Sasuke se permitiu sorrir, cruzando os olhos com o rei branco da ruiva, ouvindo-a ranger os dentes. Karin era dois anos mais velha que os dois na mesa, já tinha passado pela transformação, mesmo que sua preferência fosse permanecer com suas tias, Kushina e Mito, no templo da deusa da lua, servindo a deusa protetora de tudo aquilo que acreditava do que servindo ao clã de seu pai, Amato Uchiha. Entretanto quando sua loba reagia as emoções acaloradas da alma da ruiva, era quase impossível segurar os traços animalescos que afloravam junto com aquele sentimento, em nada parecia com as sérias Sacerdotisas da lua.
E foi praticamente impossível não reagir aos feitos do Uchiha, que, majestosamemte, virou o jogo contra a prima, prestes a terminar aquele embate. Karin arregalou os olhos grandes, deixando que suas garras saltassem das unhas naturalmente grandes.
— Seu nojento! Estava guardando isso? Desde quando? Foi você não foi? — a ruiva puxou o livro das mãos do Ômega, o encarando com os caninos salientes e as unhas quase rasgando a capa de couro duro. Suigetsu levantou as mãos, sorrindo amarelo, tentando não ser esfolado pela ruiva.
— Eu não tenho nada haver com isso, Sasuke não escuta meus conselhos mesmo que estivesse a beira do abismo, mais fácil acabar o mundo que ele aceitar uma opinião minha — Sasuke não conseguiu segurar a risada, tentando disfarçar com a franja volumosa enquanto a ruiva, praticamente, esganava Suigetsu com a gola alta da camisa que o mesmo usava desde que se entendiam por lobos.
— Seu mentiroso — disse curta, encarando a imensidão nublada dos olhos do platinado. Karin trincava a mandíbula de pura raiva.
Detestava perder, mesmo para Sasuke, herdeiro e futuro líder de tudo que chamavam de lar.
— Parem se algazarra! Aqui é uma biblioteca, não um campo de futebol — Kurenai apareceu por de trás das estantes altas, batendo um livro pesado na mesa grossa de madeira, encarando o trio barulhento — Só por serem da alta não significa que possam bagunça minha biblioteca desse jeito! Silêncio.
O trio balançou a cabeça, receosos, com olhares voltados ao pequeno surto da bibliotecária Sarutobi, que logo se afastou, ajeitando os óculos meia lua que, insistentemente, desciam até a ponta do nariz arrebitado. Quando desapareceu pelo mesmo lugar de que veio, Sasuke suspirou, movendo a peça de seu rei, dando a vitória a Uzumaki.
— Boa tarde vocês dois — Sasuke se levantou, levando consigo a mochila de alça, de couro velho, arrastando a cadeira o suficiente para sair o mais silencioso possível.
— Boa tarde — disseram em coro, seguindo a figura masculina até sumir pelo corredor.
Karin se ajeitou na cadeira, soltando um suspiro.
— Acha que ele está nervoso?
— Quem sabe, ele não dá a vitória tão facilmente para você, mesmo sendo prima — o platinado riu com a própria piada, recebendo um chute da ruiva.
— Seu idiota.
///
O céu claro desbotava com o avanço de nuvens pesadas, em um tom tão cinzento que fez os nervos de Sasuke tremerem. Não queria se molhar.
Não por não gostar de chuva, mas naquele dia, não queria se arriscar em pegar uma gripe logo com sua ascensão batendo na porta.
— Boa tarde Sasuke-sama — algumas pessoas o cumprimentavam enquanto passava pela rua movimentada. Os prédios estreitos ajudavam na onda de gente, proporcionando sombra fresca para quem passasse.
Sasuke cumprimentava os que podia com um aceno de cabeça. Na verdade, mal notava as pessoas ao redor, sua cabeça fervia de ansiedade.
Sonhava com os detalhes de sua ascensão desde garoto. Estranho para uma criança da tão famosa era moderna, o avanço da tecnologia, do ferro e das máquinas a vapor deu um salto com os estudos do clã Yakushi, todavia, aquela modernidade toda os levou ao desequilíbrio dos Vârcolas com o lado mais importante que tinham. Desde que nascera, o Uchiha mais novo só conhecia aquela parte de seu povo em livros e nas histórias contadas de geração e geração.
— Boa tarde, Sasuke querido — o moreno saiu de seus devaneios, encarando uma senhora miúda, sentada na varanda da casa singela, simples. Já tinha deixado o agito da cidade Susanoo para, então, adentrar ao bairro mais pacato que existia, a parte que nenhuma modernidade adentrava.
A vila Quercus manteve-se tradicional, tendo casas de madeira, construídas desde a época de sua fundação. Uma delas era a casa de Mito Uzumaki, uma velha senhora simpática, ex-conselheira do clã de oráculos, uma guerreira nata na guerra contras as sombras no período primeiro da Iluminação. Sim, era velha, porém sábia.
— Boa tarde, Mito-sama — cumprimentou-a com um sorriso pequeno. Sasuke não era o tipo de adolescente que esbanjava sorrisos, porém, se sentia confortável para exibir seus dentes brancos para a ruiva — Está quente, não seria melhor entrar?
Mito revirou os olhos grandes e vermelhos, puxando uma cadeira de madeira para que o Uchiha se unisse a ela naquela paz.
— Deixe de bobagem, está uma tarde tão bonita, pra que vou desperdiçar isso enfianda em casa?
Sasuke viu baixinho, tirando a mochila, sentando confortável, sentindo a brisa carregando o cheiro de chuva. As nuvens logo se acumulavam no céu, em cima deles. Mito levantou o rosto, apreciando o perfume de Carvalho da floresta que cercava a vila e a cidade, ouvindo o farfalhar das folhas, como uma bela sinfonia.
— Esta ouvindo meu filho? A paz da floresta?
— Não, ainda não consigo — disse, encarando o monte verde que se erguia por de trás das árvores, se mesclando com a paisagem urbana, moderna, com o antigo e o místico, algo que tinham perdido com o tempo.
— Mas vai sentir — disse baixo, encarando o moreno com uma expressão gentil — Deixe seus sentidos fluírem com a alma do seu lobo.
As mãos trêmulas da ruiva tocaram o peito do moreno. Sasuke conseguia sentir o perfume exalando das roupas humildes da ruiva, com o par de olhos escarlate atentos ao moreno.
— Eu vejo em você, meu jovem, algo quente como o sol. A era da iluminação vai lhe guiar para onde deve ir, vai preparar seu lobo para o que virá.
Sasuke lambeu os lábios secos, engolindo a saliva acumulada sem perceber.
— O que virá, Mito-sama?
Algo dentro da imensidão vermelha parecia ferver, como um mar de fogo escaldante. Suas pupilas dilatas dariam medo em qualquer alma, mas para o moreno, aquilo apenas o deixou ainda mais nervoso.
— A mudança, meu jovem, a mudança.
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A Flor na Escuridão
FanfictionAno primeiro da Era da Iluminação. Na escuridão mais sombria da floresta dos lobos, uma gota rosada caiu da lua, iluminando toda a existência dos licantropos. Estavam salvos das sombras. Entretanto, a salvação da alcateia Uchiha ficou escondida dos...