O IDEAL

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- Bom dia Amor! – virei o rosto para ele, enquanto ele permanecia abraçado na posição de "conchinha" atras de mim – A melhor coisa do mundo, é acordar com sua respiração quente no meu pescoço, você sabia?

Me movi para ficar de frente e estar olho no olho com Fabricio. Admirei seus olhos castanhos, sua boca carnuda, seu sorriso grande e as covinhas nas bochechas (que davam todo um charme especial no contexto de seu rosto).

Passei a mão na sua cabeça e depois deslizei para a barba. Fiquei um tempo ali a acariciando, enquanto ele abria e fechava os olhos, sem saber se queria continuar dormindo ou acordado.

Me deu um selinho e foi para o banheiro tomar banho. Eu fiquei na cama, organizando nosso passeio do dia. Olhei no aplicativo de GPS, para saber exatamente onde ficava o local. Era próxima a cidade! Vi algumas fotos que estavam postadas na conta do Instagram da fazenda que iriamos ir. Tinha uma cachoeira e a dona era especialista em "paella caipira". Não sei bem como seria isso, mas pela foto parecia ser apetitosa.

Estava tão feliz, depois de um tempo sem ver Fabricio. Agora nós voltamos de verdade! Ele me explicou que sua ausência foi devido a sua dificuldade de se relacionar comas pessoas e nesse tempo ficou aguardando que eu entrasse em contato com ele, pois se sentia intruso ou um incomodo se caso mandasse algo a mim.

Sorte que mandei aquele texto imenso no WhatsApp dele, dizendo que estava ainda apaixonado e nunca tinha o esquecido.

Mesmo ouvindo minhas amigas dizendo que era para eu esquecer e que ele não queria nada comigo. Ouvia que ele nunca iria voltar, também que era uma expectativa tola criada por mim. Eu não acreditei em ninguém, confiei na minha intuição e persisti.

Tudo bem que tive a ajuda de uma taróloga, a qual me disse que deveria permanecer em silencio e de forma natural nos encontraríamos novamente. E foi o que aconteceu. Um grande reencontro, cheio de romance.

Bastou eu postar uma foto nos stories dizendo que estava morando na cidade em que ele mora, dois dias depois iniciamos um papo.

Foi sem pressão! Coisa de "amigos". Óbvio que era tudo estratégia para vê-lo e não havia intenção nenhuma em ser amigo dele. Mas essa seria uma abordagem mais tranquila, para alguém que estava tão cheio de defesas (no caso ele) de ter um relacionamento. Era tudo insegurança, pois Fabricio me disse que não passou um dia sem pensar em mim.

Era um encontro transcendental, o mesmo que apareceram nas minhas mirações com ayuaska. Via nitidamente ele na minha cama, nós dois felizes e protegidos por um anjo.

Nesse momento, Fabricio abriu a porta do banheiro, para sair o calor do chuveiro. Enquanto isso, passava seu creme hidratante na pele. Me levantei da cama, fui até ele, estendi a mão e me coloquei a disposição para passar nas suas costas. Deslizava os dedos em cada centímetro daquelas largas costas. Da cervical a lombar. Que homem perfeito! Que pele linda e macia!

Eu não conseguia acreditar que aquele era o cara que eu esperei por tanto tempo. Na verdade, se passou um ano após ele ter dito que não queria continuar, pois estava resolvendo problemas pessoais e por esse motivo, não poderia dar continuidade a um relacionamento. Na época fiquei frustrado e chorei muito. Nenhum um dia eu deixei de pensar nele. Fazia viagens sozinho, imaginando que aqueles lugares seriam ainda mais perfeitos se estivesse na companhia dele. Experimentava comidas e tinha certeza que ele iria amar o mesmo sabor que eu estava provando. Imaginava longas noites de sexo, nos momentos de carência. Seus beijos envolvendo meu pescoço. O toque áspero de suas mãos passando no meu corpo. Era tudo vivido e real, mesmo ele estando distante.

Colocou um jeans e uma camiseta vermelha (que eu o presenteei quando fui a um vilarejo. No dia que eu dei a camiseta, ele resolveu terminar comigo, mas o motivo dele era compreensível). Depois disso me encheu de beijo na cama e saiu do quarto.

Aproveitei para tomar banho. Ali eu pensava que tudo estava tão perfeito. Eu sonhei todos os dias para que aquilo acontecesse. Estava com vontade de ir até minha cidade e desfilar com ele nos bares ou na roda de meus amigos, mostrando que todos eles estavam errados quando diziam que isso nunca aconteceria.

Sai de toalha amarrada na cintura. Fabricio estava novamente no quarto, colocando o esparadrapo no seu umbigo (para proteger de más energias) enquanto me contava sobre um novo problema do seu trabalho. Eu ficava admirado em ouvi-lo. Sua inteligência, seu caráter e seu profissionalismo, tudo isso me encatava.

Nunca foi um amor platônico. Eu sabia que ele voltaria. E voltou!

Ele terminou de se arrumar e foi se deitar no sofá, para me esperar enquanto eu faria minha sessão online com a psicóloga.

Como eu pude achar que minhas mensagens implorando afeto não dariam certo? Não estava me humilhando, mas simplesmente mostrando que eu estava presente. E eu sei exatamente que a demora de dias para ele me responder, era por que ele estava ocupado com o trabalho. Suas respostas curtas, que pareciam frias, na verdade era um sinal da sua dificuldade de se relacionar (como ele mesmo disse a mim no início do nosso romance).

Sim, era importante acreditar na minha intuição e não perder a esperança.

Coloquei uma roupa e me preparei para a sessão.

Quase 40 minutos de terapia, comecei a contar sobre Fabricio e me surpreendi em saber que eu já havia falado dele na terapia. Já tinha contado toda a história do meu romance e a parte de ele ter sumido por um ano. A psicóloga sabia de tudo o que aconteceu entre eu e ele. Tinha uma compreensão de coisas que pareciam não fazer sentido para mim naquele momento. Comecei a me chocar ao ouvi-la dizer que não valeria a pena dar continuidade a essa busca pelo Fabricio e ai que perguntei:

- Por que você está me dizendo isso?

- Será que não está na hora de você viver a realidade? Será que está idealizando uma coisa que não existe? Um ano sem uma resposta, sem uma atitude e nenhuma presença física. Isso são expectativas e elas não são reais.

Fechei meu notebook. Não deixei que ela terminasse! Aquilo me aniquilou, como se tivesse destruindo um quebra-cabeça inteiro, depois de dias trabalhando para finaliza-lo. Que angustia! Me deixou nu, despreparado, imóvel e sem ação.

Levantei da cama e decidi ir até onde Fabricio estava.

No corredor, que dava do quarto para a sala, senti um vazio tão profundo! Algo que a muito não sentia, pois ele me preenchia por completo. Ouvi de longe que a televisão estava desligada. Titubeei em continuar a caminhar nesse corredor! Ajoelhei no chão em prantos e gritei:

- Fabricio? – nenhum ruido – Fabricio, me responde! – o silencio foi avassalador.

Me levantei, fui até o a ponta do corredor, onde estava a parede que o sofá ficava recostado. Sofá ao qual Fabricio me aguardava para o nosso passeio.

Coloquei minha cabeça devagar, para ver se alguém estava ali deitado. Enquanto meus olhos lentamente tentavam encontra-lo ali, a realidade veio como um furacão.

Não tinha Fabricio. Não tinha corpo, não tinha o sorriso, não tinha os olhos e as sobrancelhas grossas. Não havia nem os pedaços que construí por todo esse tempo. Não tinha farelo! Não tinha resquício de nada! Não tinha cheiro, nem cor e nem toque. Só o vazio! Era tudo uma fantasia! 

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⏰ Última atualização: Mar 18, 2023 ⏰

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