Amor & Café - Simoraya

Cafeteria

"Um café e um amor...
Quentes, por favor!
Sem excessos de doçura ou amargura. Forte. Doce...
Que ambos façam meu coração acelerar.
Que me mantenham vivo.
E que eles nunca tenham gosto de ontem nem anseiem pelo amanhã
Que me façam feliz nesse agora,
Que me abracem pela manhã."

Caio Fernando Abreu

Era uma segunda feira chuvosa em São Paulo, o céu estava escuro, em um tom azul que denunciada o mal tempo. Uma brisa fria soprava e o fino sereno caia, molhando quem quer que caminhasse pela rua e não estivesse devidamente coberto. O relógio marcava exatamente 17:30 da tarde, e quando Soraya Thronicke se deu conta disso, tratou de desligar seu computador, arrumando suas coisas para logo em seguida sair da empresa, o horário de expediente finalmente tinha acabado e ela poderia seguir para sua cafeteria favorita e relaxar.

Soraya era uma mulher de 42 anos, tinha cabelos dourados, tal como sua pele, os olhos marcantes da cor Âmbar, estatura mediana e corpo escultural. Era Mestre em economia e trabalhava no banco mais importante da américa latina.

Sua a vida era voltada somente para o trabalho, pois as circunstâncias da vida lhe fizeram parecer que o amor não era para ela. E agora estava quase tendo certeza, quarenta décadas nas costas e ela não tinha namoradas ― sim, no feminino porque desde muito jovem ela descobrira que gostava de mulheres ―, não tinha filhos, apenas uma vida considerada "boa" aos olhos de muitos, mas que aos olhos dela estava caindo em completa monotonia, ela percebeu. A única coisa que ela tinha era um gato chamado Black, seu único e fiel companheiro.

Nada de muita novidade acontecia com ela, nada e ninguém tinha feito seu coração acelerar ou despertado seu interesse, até aquele dia, quando pois os pés naquela cafeteria.

Assim que abriu a porta do local e tirou o sobretudo preto que cobria seu conjunto de saia e blazer branco, colocando-o no cabide ao lado, ela olhou em volta para o ambiente como sempre fazia, dessa vez não completando o ato porque seus olhos estancaram, mais especificamente em uma mulher um tanto misteriosa e que ela nunca tinha visto por ali.

A mulher estava sentada em uma mesa próxima à janela, bem ao fundo do aconchegante lugar, comia o que parecia ser uma fatia de torta, enquanto jogava caça palavras. Ela tinha os cabelos lisos até a altura dos ombros, eram tão pretos como petróleo, tal como o seus olhos e o suéter gola alta que ela usava, o que contrastava muitíssimo bem com sua pele que era muito branca, quase como um papel. Era linda!

A morena estava muito concentrada no que fazia, a mão direita segurando uma colherer em seu prato e a esquerda segurava uma lapiseira que apoiava a ponta sob os seus lábios. O olhar estava muito concentrado no livreto que tinha em sua frente, mas de repente como se sentisse observada, elevou o olhar severo e inquisidor na direção exata de Soraya que estava parada feito tonta olhando para ela.

Ao ser pega no flagra, Soraya tratou de disfarçar, e seguiu rapidamente até o balcão para fazer seu pedido.

― Olá, Dave. ― Ela disse olhando para baixo e não para seu amigo, não queria que ele visse o rubor em suas bochechas. ― O de sempre por favor.

Dave era amigo de Thronicke, a uns bons anos desde que ela começou a frequentar o lugar. Ele  já era de certa idade, era um imigrante Inglês e dono da aconchegante cafeteria.

― Certo, café amargo e brownie de chocolate? ― o gentil senhor de pele chocolate e cabelos brancos perguntou.

― Sim! ― Ela sorriu e finalmente olhou para ele antes que ele fosse buscar seu pedido.

Tirou um livro da bolsa e começou a ler enquanto esperava sentada ali. Mas não conseguiu se concentrar na leitura pois sua cabeça estava focada na morena sentada bem ali, ela olhou novamente para ela, agora tendo a vista de outro ângulo do perfil daquela mulher que ela reparou mais, deduzindo que idade ela teria, mesmo que não parecesse provavelmente tinha uma idade parecida com a sua, notava-se a quilômetros que já era uma mulher madura, o que não fazia ela deixar de ser menos bonita e atraente, pelo contrário. Ela já havia comido metade de sua torta e rabiscava desenfreadamente no livreto, Soraya reparou.