Uma casa grande, uns 3 filhos no mínimo e um marido quase perfeito, muito choro, algumas birras, objetos de valor quebrados aqui e ali. Muita correria, muita bagunça, muito cansaço !? Sim, isso também, mas esse sempre foi meu sonho de menina, desde muito nova eu me imagino nesse cenário e por mais doido que pareça, esse é o final felizes que quero para minha história. Era rotineiro meu eu de 15 anos sonhar com isso noites a dentro.
Eu nunca contei isso as pessoas, sempre foi meu segredo mais íntimo, para mim era como se quanto mais gente soubesse menos chance disso se tornar real para mim. Por isso sempre pedi e entreguei a Deus esse sonho em segredo eu chorei e supliquei para que isso se tornasse real.
Nesse sonho o marido quase perfeito, nunca quis dizer alguém sem defeitos, mas alguém que me entendesse e que quisesse tantos filhos como eu. Alguém que goste de dançar, que me faça rir até doer a barriga, que enxugue minhas lágrimas, que valorize cada defeito do meu corpo, que me ache bonita além do que vê com os olhos, que ao entrar em uma sala repleta de mulheres, olharia para mim, e não se desviaria nem um minuto. Preciso de um parceiro, alguém que me ame e me faça sentir segura a ponto de construir uma vida, uma família.
No desejo de realizar esse sonho, eu entrei em uma caçada louca e desenfreada pelo tal parceiro. Péssima ideia, pois descobri que tenho um dedo podríssimo.
Entreguei algumas poucas vezes GRAÇAS Á DEUS, meu coração a homens que não
reconheceram meu valor, ou apenas atribuíram meu valor a um corpo bonito e jeito engraçado. Isso me feriu demais, pois sempre os enxerguei além do que eles mesmos podiam enxergar de si, sempre os amei intensamente a ponto de doar minhas energias, inteligência, sentimentos e tudo o que havia dentro de mim.Nesse processo de os amar, eu aprendi a desgostar de mim mesma, e me perder da minha personalidade e para minha infelicidade o aprendi muito bem. Passei a vigiar todas as minhas palavras, a rir no momento certo, a me vestir da maneira certa, a me comportar da maneira certa, e qual seria essa maneira certa? Ah claro, a maneira que os fizesse sentir que tinham poder sobre mim, e sempre me comportei assim, sujeita a vontade dele (fosse ele quem fosse).
Eu traí a mim mesma, traí a mocinha que sonhava dentro de mim, traí a menina feliz e tímida que conquistava a todos quando pequena. Abri mão dela por pessoas que nunca me valorizaram, sufoquei ela para que uma forma engessada e sem graça assumisse o controle. Me tornei uma pessoa sem brilho e de atitudes ensaiadas para agradar uma pessoa que não se importava de verdade comigo. Pessoas que não me davam o mínimo, mas na minha cabeça não era culpa delas, o fato de não se dedicarem a mim era porque eu ainda não estava agindo da maneira certa.
Eu nunca cheguei muito longe, não sofri agressões, ou episódios de humilhação explícitos, coisas do tipo que eu sei que acontecem em relacionamentos abusivos extremos. Mas, houveram crises de silêncio, chantagens emocionais, ameaças emocionais, repreensões por causa de alguma atitude, lições de moral e entre outras coisas que sempre me faziam acreditar que eu era um erro completo, da cabeça aos pés. Ainda estou no processo de descobrir quem eu sou, quero resgatar a adolescente sonhadora e a menina apaixonante que fui um dia, resgatar meu brilho de volta. Não buscarei agradar ninguém além de mim mesma, serei fiel aos meus princípios, a minha personalidade, ao meu jeito, as minhas crenças.
Não quero voltar a esse lugar, e não irei. Minha busca incessante encerra agora, o amor nãoprecisa ser procurado e achado, o amor encontra a gente. Não aceitarei menos do que eu realmente mereço, alguém que goste da minha risada feia, meu jeito desengonçado, minhas brincadeiras dentro e fora de hora, alguém que ria quando eu começar a dançar, e quem sabe
dance comigo, alguém que embarque no meu jeito leve e sapeca de viver.Querida eu, esse lugar nunca mais.