Mon(m)

Capítulo 1

     Caminho a passos largos, verificando de minuto à minuto o horário e pela primeira vez em meses percebo o quão longe do trabalho, eu moro. Desvio minha atenção para a recente notificação.

" De agora em diante, te darei carona todos os dias."

  Suspiro derrotada, essa mensagem claramente indica que mesmo depois de toda correria ainda vou escutar reclamações. Khun Sam já tinha relevado dois atrasos nessa semana, seria pedir demais ela deixar mais esse passar em branco.

  Como esperado, assim que deixo minha bolsa sobre a mesa sou chamada para a sua sala. Respiro fundo e noto o olhar preocupado dos meus colegas. Yha, Noi e Chin, se aproximam sorrateiramente e começam a sussurrar entre si.

  - Khun Kirk e Lady Boss estavam discutindo assim que chegaram. - Yha relatou. - Eu escutei ... - Nos aproximamos um pouco mais para ouvir a fofoca. - Será que eles vão terminar? - Noi animou-se com essa possibilidade.

   Essa fofoca não era uma novidade, bom pelo menos para mim não era. Deixei o grupo de amigos cochichando e segui para a sala, da nossa tão temida chefe.

    - Você me chamou? - Khun Sam estava concentrada lendo um documento e só indicou a cadeira a sua frente, ondei eu me sentei aguardando o sermão pelo atraso.

    - Mon. Kornkamon! - Eu estava com a cabeça na lua e não evitei me perder nos pensamentos, que insistiam em absorver minha concentração. - Você não estava ouvindo? Mon, nós precisamos agilizar esse processo de criação. A primeira postagem da Diversity Pop precisa ser um sucesso, o assunto mais comentado no dia que for lançada.

     - Pensei que você iria reclamar do meu atraso. - Questionei curiosa.
     - Tenho convicção que não quero saber o motivo do teu terceiro atraso seguid...
     - Talvez eu esteja grávida. - Khun Sam rolou os olhos e caiu sentada na sua cadeira, visivelmente irritada.
     - Nop? - Aceno em concordância.
     - Sei que isso não justifica meus atrasos e estou atrapalhando no processo de criação da página. - Minha voz mostra todo o sentimento de culpa e vergonha que sinto no momento. - Vou ter todos os dados até o fim do dia e podemos agendar uma reunião para amanhã mesmo.
      - Vocês já conversaram sobre a gravidez? - Sacudi as mãos de maneira apressada, negando.
      - Nem tenho certeza se estou mesmo grávida. Como vou falar sobre isso com ele? Eu não fiz um exame ainda, não tive coragem. - Suspiro, exaurida com tantas preocupações.
       Fazia alguns dias, que não tinha uma hora de sono tranquilo. Todas as vezes meus olhos pesavam e eu deixava o cansaço vencer minha ansiedade, meu subconsciente trazia de maneiras aterrorizantes um futuro onde eu e Nop éramos um casal, com filhos. Filhos esses que multiplicavam-se a cada pesadelo.
      - Mon! Mon! - Senti seus dedos macios tocando delicadamente meu rosto. - Eu odeio isso quando eu falo com você e você vira o rosto para longe de mim.
       Essa aproximação, me trouxe a lembrança de um diálogo que Sam e eu tivemos depois de um almoço em Ayutthaya.

  (Algum tempo atrás)

     - Devemos fazer uma troca? - Khun Sam sugeriu, aproximando-se.
     - O que você quer dizer? - Claro que eu entendi, mas não estava acreditando no que ela me propôs.
     - Você morde meu nariz, e eu vou morder seus lábios. - Voltou a movimentar-se, ficando mais próxima. Seus olhos sedutores intercalando entre meus olhos e minha boca.
     - Khun Sam, você não deveria prestar tanta atenção nos meus lábios.
      Apesar de querer beija-la, eu ansiava por esse momento desde que nos reencontramos. No entanto, eu não poderia esquecer que era minha chefe ali e assim que cruzássemos essa linha, meu emprego estaria em risco.
     - Não sei como devo reagir. - Khun Sam afasta-se irritada. - Amigas não fazem isso.
     - Nós não somos amigas. - Afirmou taxativa e avançou de forma mais decisiva, sinto suas respiração aflita sobre meus lábios.
     Somos interrompidas por uma ligação, Nop havia ligado à tarde toda e se não bastasse ainda mandava mensagens. Obviamente eu ignorei todas as ligações anteriores e respondia esporadicamente suas mensagens, talvez por isso ele insistia.
     - Hey Nop! Estou jantando com Khun Sam. - Noto que depois de nomear quem estava ligando, Sam saiu estressada e não penso duas vezes antes de segui-la. - Tenho que desligar.
     Quando voltamos, Khun Sam e Nop tiveram uma discussão em frente a entrada da minha casa. Entre a troca de farpas infantis e sem sentido, ficamos em silêncio depois de uma fala em específico do rapaz.
    - Mon e eu somos mais que amigos.. - Sam forçou a língua contra a bochecha, mania que a mesma tem sempre que está no seu limite. - Afinal, eu e Mon somos o primeiros um do outro.
     - Por primeira vez , você quer dizer? - Questionou desacreditada. Vi Khun Sam cerrar os punhos e sua postura sempre altiva, demonstrou-se fragilizada.
     - Isso que você entendeu. - Nop bravateou.
     - Mon? - Meus olhos lacrimejaram e não consegui responder.