Capítulo 2

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- Nop está no aeroporto embarcando pra Xangai. - Consegui falar, depois de assimilar as últimas informações.
- Ele está fugindo? Que audácia desse moleque. Eu vou mandar a polícia atrás dele. - Sam estava compenetrada, em não deixar Nop ir sem confronta-lo. - Melhor, vou perguntar se a Jim não conhece alguém da máfia pra ir atrás dele. Por que você está chorando? - Ela se aproximou, alcançando meu rosto para secar o rastro das lágrimas. E eu não consegui evitar, deixei fluir todo o turbilhão de sentimentos que estava reprimindo todos esses dias. - Você ama dele? Por isso não suporta vê-lo partir? E-eu não...
Sam é a pessoa mais inteligente que conheço, mas se tratando de pessoas e sentimentos seu conhecimento é bem limitado. Talvez pela rigidez na qual foi educada ou até mesmo os traumas com as perdas familiares, primeiro os pais e depois as irmãs. Nueng ainda é uma incógnita, ninguém sabe por onde anda e como está vivendo. A avó nunca foi de demonstrações de afeto e tudo que Sam recebe são cobranças e mais cobranças. Provavelmente esse seja o princípio da personalidade fria que todos conhecemos.
O que me surpreende é a mudança radical quando se trata da minha pessoa, Sam se permitiu sentir e demonstrar emoções. Minha paixão por ela só aumenta com tanta devoção.
     - Eu não estou chorando por isso. Você sabe que nunca nutri nenhum sentimento romântico por ele. Nop sempre teve o lugar de amigo na minha vida. - Vi sua feição preocupada suavizar um pouco.
      - Então, você está chorando por qual motivo? - Sam tentou voltar para seu acento, quem sabe pelo desconforto da sua posição no espaço apertado do carro. Inconscientemente a segurei, mantendo-a próxima.
     - Alívio? - Disse meio incerta com o que estava sentindo.
    - Por não precisar criar um filho com uma figura paterna, como Nop? - Não consegui segurar o riso, com a fala carregada de ciúmes. - Ou pior. Imagina se teus pais te obrigam a casar com ele. - Exasperada com o cenário recém criado na sua mente, Sam tocou as têmporas. - Minha cabeça está latejando, só de pensar sobre isso.
      Agora foi eu quem invadiu seu espaço pessoal. Agindo por impulso, minha mão direita tocou a linha entre o pescoço e o seu ombro. Apliquei um pouco de pressão nos meus dedos, massageando os músculos tensos e aproveitando nossa proximidade, permiti que meus lábios tocassem toda a extensão do seu rosto. De um lado ao outro. Salpicando beijos. Senti a respiração apressada se tornando pesada e compassada conforme o clima ia esquentando. A tensão deixando de ser preocupação, para se tornar sensual.
      - Você está mais calma? - Perguntei, quando meus lábios pairou sobre a sua boca entreaberta.
     - Não sei. - Respondeu incerta. - É difícil raciocinar agora.
     - Ele confessou que mentiu, sobre a noite da festa. - Lembrei que tínhamos muito o que conversar, fiz um esforço para não terminar a ínfima distância e beija-la.
     - Sobre o que?
     - Tudo. Ele mentiu sobre tudo. - Sinto magoada e traída, nunca esperava uma atitude tão imatura de quem se dizia meu amigo. Ou pior, ele dizia que me amava.
     - Então você e ele não transaram? Você ainda é virgem. - Vi os cantos da sua boca se contraindo, um sorriso ameaçou surgir mas ela conseguiu se conter. - Mas e a gravidez?
      - Só pode ser estresse ou outro problema psicológico. - Todas as noites que perdi o sono pensando que tinha acabado com a minha vida, numa noite de bebedeira. - Será que a Jim conhece alguém que faz parte da máfia? - Meu sangue ferve só de lembrar dos últimos meses, toda a dor que vivi me sentindo abusada.
       Porque sim, se Nop tivesse consumado qualquer ato sexual comigo em estado de embriaguez e inconsciente, se caracteriza como estupro. Contudo, se fosse esse o caso eu não teria muito o que fazer. A polícia não aceitaria uma denúncia sem provas irrefutáveis e historicamente os países asiáticos são propícios a isentar os homens de qualquer crime sexual, isso desencoraja às vítimas.
     - Ele merecia uma lição.
     - Agora que a história foi esclarecida, penso que Nop nunca foi digno nem da minha amizade. - Senti um nó se formando na minha garganta. - Ele não abusou do meu corpo, mas o fez continuamente com o meu psicológico e não notei arrependimento algum quando ele desmentiu, parece que estava decepcionado em revelar a verdade. - Aos pouco eu enxergando a realidade e tudo estava sendo ainda mais doloroso. Eu precisava falar, guardar todos aqueles sentimentos ruins, poderia me corroer de dentro pra fora. Não posso deixar uma pessoa ter tanto poder sobre mim.
    - Sei que pode parecer que estou sendo insensível com o que vou falar agora, mas se você tivesse sido mais enérgica e não deixado brechas para uma possibilidade. Enquanto você agia com cordialidade e respondia nas entrelinhas, ele via como se você desse esperança de que havia uma chance, da amizade evoluir para um namoro. - Escutar isso, era o mesmo que ouvir o famoso "eu te avisei". - A Dra. Dao sugeriu que você tivesse acompanhamento psicológico. Ela falou comigo em particular, enquanto você se preparava para os exames e eu acredito que seja importante para tua saúde mental.
     - Eu vou aceitar essa sugestão. - Nesses últimos dias senti minha cabeça dando um nó e uma ajuda profissional seria bem-vinda. - Confesso que senti vergonha e medo, por isso só consegui falar sobre o ocorrido agora e a minha confiança em você foi o que me deu segurança para falar.
      - Você é a pessoa mais forte e corajosa que conheço. Sinto muito, por não ter percebido pelo que você estava passando. - Sua voz estava carregada de culpa. - Minha falta tato também prejudicou nosso relacionamento, ou o que quer que seja isso. -  Indicou entre nós duas. 
      - O importante é que agora tudo foi esclarecido e podemos seguir nossas vidas. - Suspirei aliviada.
      Entretanto minha sensação de sossego não era refletido no rosto da minha chefe. Sam teve uma variedade de expressões significativa em questão de segundos. Tristeza. Desconsolo. Angústia. Horror. Aflição. Aos poucos, Sam foi concebendo a realidade a qual nós nos encontramos.
       - E agora, o que vamos fazer com o jantar que marquei com a avó? - Além do meu tormento, agora precisamos resolver a bagunça que criamos com uma gravidez hipotética.
      - Mamãe também sabe que fiz uma consulta e sobre o teste de gravidez. - Mostrei a mensagem que recebi mais cedo.        
      Uma vizinha trabalha de enfermeira na clínica e encontrou minha mãe num mercado da nossa rua, foi educada em cumprimenta-la sobre o futuro neto ou neta. Como se não fosse o bastante, ela ainda mostrou-se encantada com a minha namorada, no caso Sam, e principalmente por ela ser da realeza.
       - Que fofoqueira. - Acenei concordando . - Ela é praticamente minha fã. Olha como elogiou meu cuidado com você e disse que fazemos um belo casal.
       - Você leu a parte que a minha está questionando e cobrando uma explicação de nós duas? - Bati com a ponta dos dedos na tela do celular. - Estamos numa situação absurda. Uma verdadeira bola de neve, onde nossas ações estão levando a consequências incontroláveis. Vamos manter o foco, por favor.
      - Essa tua oscilação de humor está me deixando confusa. - Reclamou. - Eu vou me concentrar apenas no que é importante.
- Espero que sim. - Penso que um relacionamento precisa de diálogo e se estaremos nos envolvendo romanticamente, estreitar esse vínculo da comunicação será imprescindível. - Vamos entrar e falar com meus pais?
- Esse é meu primeiro encontro com a professora Pohn em anos. Quem diria, que seria numa ocasião tão peculiar. - Contrariando a lógica, Sam liderou a caminhada até a entrada da minha casa e parecia totalmente relaxada. Porém o mesmo não poderia ser dito ao meu respeito. - Os teus pés estão colados aí? - Sam voltou e segurou minha mão. - Está tudo bem, eu vou ficar do teu lado o tempo todo.
- O que eu vou dizer?
- A verdade. - Acenei concordando.
- Se eles perguntarem sobre nós? Oh! - Um pensamento surgiu repentinamente, me causando espanto. - Eu nunca falei que sou bissexual. Será que eles vão me aceitar? Eu não sei se estou preparada, será que vou ser motivo de decepção e vergonha para eles?
- Não vejo como eles teriam vergonha de ter você como filha. Mon, olha pra mim. - Seus dedos seguraram delicadamente meu queixo, nivelando nossas olhos e vi o quanto segura ela estava naquele momento. - Você não precisa fazer nada que não queira. Não precisa falar sobre um assunto que ainda não está devidamente esclarecido pra você, tua sexualidade não precisa ser discutida com mais ninguém além de você mesma. - Como sempre Sam estava sendo minha âncora, minha calmaria em momentos de aflição.
     - Não sei como sobrevivemos esse dia tão atípico. - Desabafei. - Passamos por uma montanha-russa de emoções e parece que ainda está longe de terminar.
     - Contanto, que nós continuemos juntas e aprendendo com cada obstáculo superado. - Sam aumentou o aperto nas minhas mãos e exigiu minha atenção para a sua próxima fala. - Sei que ainda somos apenas amigas, mas quero afirmar o quanto desejo ser mais que isso e com o tempo, ser a pessoa que você deseja compartilhar todos os momentos da sua vida. O estresse do trabalho, bem como as conquistas do mesmo. A felicidade de dividir pequenos instantes diariamente. As dúvidas e dificuldades que encontraremos como casal. - Vi seus olhos sonhadores brilharem de emoção. - E a alegria de acompanhar uma criança ou mais, correndo pela casa e bagunçando todos os cômodos. Confesso que não é só a vovó que anseia por isso. - Eu não conseguia assimilar tudo o que essa declaração implicava, Sam demonstrou que está pronta e aguarda minha decisão. - Se você for a mãe dos meus filhos, eu não me importo de ter todos os filhos que  a vovó desejar. Eu amo você, Mon.

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Boa noite, eu não consegui seguir com o fluxo original da minha ideia. Era pra ser só 2 capítulos mas não consegui. Escrevi e reescrevi inúmeras vezes, desculpa se não tiver do gosto de vocês.
Até...

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⏰ Última atualização: Sep 02, 2023 ⏰

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