Eu me lembro da primei vez que nos conhecemos, eu estava congelando, perdida na floresta. Eu estava morrendo. Meus lábios estavam roxos e o sono da morte começava a me chamar, parecia uma canção, doce e feliz. A morte parecia uma ótima opção, mas eu ainda queria viver. Um último grito saiu de minha garganta antes de me entregar ao canto dela.
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¾ Socorro! – Foi a última palavra que saiu de minha boca, meus olhos estavam se fechando quando algo cinzento apareceu em meio a floresta banhada de branco.
¾ Está tudo bem, pequena. Vou te proteger. – Eu ouvi, mas não parecia ter vindo da floresta, não. Parecia ter vindo do lado de fora, parecia estar dentro da minha mente. Senti algo gelado na minha bochecha, a escuridão foi tomando minha visão.
Estava quente e confortável, talvez realmente tivesse morrido e aquilo era o paraíso, mas vi o vislumbre branco da floresta lá fora, já havia anoitecido, mesmo assim a neve fazia tudo ficar mais claro. Estava em uma espécie de toca, vi algo se aproximando. Os pelos lisos e cinzentos, o focinho levemente congelado no topo, os passos fortes e as orelhas pontudas, alertas, me observavam. Seus olhos castanhos brilhavam de curiosidade e compaixão. Comecei a me aproximar também.
Saí da toca e o ar gelado me golpeou, mas continuei andando em sua direção, a cabeça abaixou e os olhos se fecharam conforme minha mão se aproximava de seu focinho.
¾ Que bom que está bem. – Escuto aquela voz de novo, definitivamente estava dentro da minha cabeça, uma voz masculina, forte, poderosa e acolhedora. – Acho que você foi abandonada aqui, pequena. Ninguém veio te procurar até agora. Sinto muito. – Ela continuou conforme o lobo se deitava na neve com as orelhas para trás e o rabo abanando levemente, aquilo era acolhedor, como se ele me consolasse depois da informação.
¾ É você que está falando? – pergunto em voz alta e o lobo se senta, inclinando a cabeça levemente para a esquerda.
¾ Você me entende? – A voz pergunta enquanto o lobo rosna e faz alguns grunhidos estranhos... Não podia acreditar.
¾ Sim, mas é como se conseguisse ler seus pensamentos, não precisa tentar falar de verdade. – Respondo ainda sem entender.
¾ Nossa, isso é estranho. Me chamo Conrí, o rei lobo. – Imponente.
¾ Você realmente é rei? Sou Lykos. – Sorrio ao perceber por que minha mãe escolheu esse nome.
¾ É um belo nome, para uma garota de belos olhos amarelos, mas acho que prefiro te chamar de pequena. – O encaro ainda curiosa e ele esboça um sorriso mostrando os caninos, era ameaçadoramente fofo. – Sim, eu sou o rei dos lobos. – Ele responde minha pergunta
A partir daquele dia fui descobrindo aos poucos quem eu era, mas finalmente pertencia a algum lugar, fazia parte de uma alcateia. Realmente ninguém nunca veio a minha procura. Eles fizeram com que eu me perdesse. Eu ainda tento entender o porquê, mas parece que eles sabiam quem eu era, eles sabiam, sabiam quem foram meus pais, eles sabiam...
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Durante anos busquei sobre meus pais e minha existência até que a encontrei, minha mãe não estava morta. A pele marrom de alguma forma refletia dourado, os cabelos cacheados iam do castanho para o loiro em um belo degradê, os olhos verdes e as roupas coloridas quase denunciavam quem ela era de verdade.
¾ Mamãe? – Um sorriso gentil ilumina a velha biblioteca da faculdade de história.
¾ Lykos, querida. Finalmente me encontrou. – Ela me envolve em seus braços e parece que o mundo inteiro me abraça. Não era de se esperar menos. – Está na hora de saber a verdade.
Eles sabiam que minha linhagem causaria caos, sabiam que faria o Ser Humano questionar toda a existência e crenças ao longo da vida na terra, seria a ruína da sociedade como conheciam. Sabiam que meus pais eram Gaia e Loki.
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¾ Minha rainha. – Conrí acaba de me passar a liderança. Sorri para meu velho amigo. Fomos juntos em busca de quem eu sou, eram tantos "porquês" na minha mente e ele sempre esteve disposto a me ajudar, a lealdade de um súdito que ainda nem sabia quem era sua rainha.
Aquelas pessoas que me abandonaram sabiam quem eu sou.
¾ Salve a Deusa Lykos, rainha dos lobos. – Posso escutar em minha mente em meio a uivos, rosnados e grunhidos.
¾ Estou orgulhoso de você, pequena. – A voz de meu amigo se destaca na multidão. Sorrio para ele.
É uma bela noite de lua cheia.
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A Rainha dos Lobos
Short StoryLykos foi abandonada na floresta em pleno inverno, desistiu de vagar e apenas aceitou a canção da morte, quente e confortável. Uma voz em sua cabeça, um vulto cinza, algo gelado em sua bochecha... Quem ela era afinal?