Quando eu vi o sol poente pintado em seu pescoço absorto na própria magnitude desalinhada, eu quis sorrir. Mas algo na minha alma se revirou tão bruscamente que eu vomitei as palavras de fora para dentro. Lembro de ter sorrido ironicamente e afagado seu cabelo. Ou algo assim. Para ser honesto eu mal o senti ali. Você era uma previsão metafísica abstrata demais para eu compreender. Naquele mesmo dia eu o beijei, e beijei e beijei. Eu me procurava em cada parte da sua pele para ver se no fundo eu continuava o mesmo, porque de alguma maneira sua pessoa continha o melhor lado do que formava a minha, você me moldou de um jeito tão cândido que existir sob o seu olhar era a melhor vida que eu poderia ter.
Mas quando eu acordava e ouvia sua música através dos pássaros da manhã, minhas mãos palpitavam com o desejo de me arrancar daquele mundo bonito. Eu deveria deixá-lo sozinho, pois eu sempre previ seus orbes mornos de tristeza pouco antes de você morrer naquela sensação eterna de êxtase. Era hora da partida. No entanto, eu fraquejava toda vez que você murmurava menos do que cinco palavras sonolento, e queria voltar a deitar na curvatura do seu pescoço onde todas as minhas risadas se escondiam.Sempre rastejando de volta, não?
Classe de 2013, um pouco mais tarde. Você usava rosa naquela noite, beirava ao branco. Fiquei distante, olhos em ti, apático. Você sabia que existia uma estranheza feroz que te mastigava vivo toda vez em que tentava se aproximar. Ao final da noite na lojinha de bebidas que costumávamos ir, eu vi o sol em vultos porque o congelei. Tinta fria, cinzenta, sem cheiro. O sol se recolheu naquela lacuna trêmula e você chorou. “Por favor não diga que me ama”, foi a última vez que ouvi sua voz.Antes de virar as costas, eu procurei todos os esboços da minha existência na sua silhueta, porém o vermelho da dor nublou os pedaços do meu âmago que eu acreditava poder achar. Acontece que você é o sol, você nunca verá a noite. E eu não sou a lua, eu sequer sou uma estrela. Uma hora ou outra eu teria de me desconectar desse sonho azulado que me entorpecia, me drogava e me encarava todos os dias com olhos expressivos, esperando para que fôssemos a um lugar quieto para poder gritar o quanto eu os amava.
Deixo aqui meu adeus ou até outro dia, que essa carta vá aos céus para que derreta com as estrelas e você nunca tenha o desgosto da despedida, porque tudo que eu mais almejo é ser desenhado pelas suas linhas sinuosas e escrito de modos tão bonitos para que eu esqueça quem
sou.
Sinto muito, Satoru.

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my six eyes tell me youre suguru geto but my soul knows otherwise
Fanfictionpela eternidade eles se amarão, mesmo que o fogo indistinto do inferno condene suas almas E os rasguem em pecados. (eu odeio os satosugu por me fazerem sofrer e odeio ainda mais a necessidade grandiosa que tenho em escrever sobre eles)