17h37.
Dizia o relógio.
Faltavam exatos 23 minutos.
Para as 18 horas. Mas isso você já sabe. Suponho que saiba fazer contas.
Na verdade, admito o meu erro. Não faltam exatos 23 minutos para as 18 horas porque alguns segundos já se passaram e, desse modo, não posso afirmar 23 minutos, mas provavelmente 22 minutos e alguns segundos. E eu poderia dizer exatos 22 minutos e 15 segundos, caso olhasse no relógio digital e o dissesse imediatamente. Porque você sabe que em um instante já seriam 22 minutos e 14 segundos, e 13, e 12...
A grande questão é que... Eu tinha um tempo consideravelmente grande até sair dali e... Vê-lo novamente.
Passando os olhos pela grande mesa de madeira, fui do relógio digital à tabela de números extensiva no computador a minha frente. Em 1 segundo.
Fazendo cálculos rápidos, anotei os números na I22 e J22. Depois, fiz o mesmo processo e terminei a K22 e L22.
17h40.
Ou, se você preferir. 17:40:22.
Curioso. Justamente 22 segundos, não é? Um segundo de olhar que batia exatamente com a linha da planilha de cálculos na qual eu estava preso há... Quantas horas?
Fazendo as contas rapidamente, concluí 5 horas e dois minutos. Não ia ousar mencionar os segundos. Até porque você já deve estar de saco cheio desse papo infinito.
E a questão do infinito não é um assunto para se discutir quando se está morrendo de vontade de sair do escritório e correr para casa.
Para abraçá-lo. E, quem sabe, passear um pouco pela orla?
Inclinando os ombros para trás, sentindo a cervical arder, entendi que aquela espera poderia acabar comigo.
Me erguendo em dois segundos, espreguicei braços e pernas, pescoço... E massageei as têmporas, tentando relaxar a mente inquieta.
Eu era uma mistura de números multiplicada por uma quantidade infinita de saudade.
Imagina só.
17h46.
Não era possível que demorasse tanto.
Sabe... Quando se tem um filho em casa, esperando ansiosamente por você, querendo brincar, comer e dormir com você, é difícil esperar 14 minutos e 2 segundos.
Bom, 13 minutos.
Mas, quando você trabalha em um escritório de contabilidade, essa opção de "não esperar" meio que "não existe".
E, quando você adora euforicamente fazer contas, a opção de "fazer outra coisa da vida" também "não conta".
Me perdoe o trocadilho.
De qualquer jeito, meu filho esperava por mim e eu não via a hora de ver aquela expressão de "você foi embora tem 8 horas e eu quero brincar!".
17h54.
Estava passando mais rápido, não?
Ri, sozinho, naquela sala ampla e vazia.
O tempo passava mais rápido quando lembrávamos alguma coisa de que tanto gostávamos. Nossa mente tinha essa capacidade incontrolável de gerenciar o tempo como só ela quisesse.
Lembro de quando comecei a correr perto das ruas de casa. No início, 1 minuto levava longos 60 segundos para passar e eu já estava com o peito ardendo quando finalmente terminava. E era só 1 minuto! Um mês depois de exercícios diários, 1 minuto era composto de mínimos 60 segundos que mais pareciam um tempo de inspiração ou expiração.
- Tom, estamos indo.
Angelina enfiou a cabeça no vão da porta e pude ver que as luzes do corredor já estavam apagadas.
- Obrigado, Angel. Já vou.
Ela saiu e eu olhei para o relógio.
17:59:20.
40 segundos para as 18 horas.
Tempo suficiente para desligar o computador, pegar o paletó e a mala.
Um tempo enorme, medido em ações, diante da ansiedade de chegar em casa logo.
Com tudo arrumado, desliguei o interruptor e voei para o elevador, a ponto de pegá-lo ainda no 12. O meu andar.
- Com licença. – disse.
E ouvi alguns suspiros e comentários de alívio porque, finalmente, o dia longo de trabalho havia terminado.
Há um ano, eu sorriria, pensando que os meus dias de trabalhos eram os mais curtos possíveis. Porque eu adorava.
Hoje, eu sorria, por compartilhar o sentimento dos outros.
Quando existe alguém à sua espera, alguém tão importante e com sentimentos infinitos por você, qualquer dia de trabalho é enorme. É como um abismo. Um tempo comparável a uma viagem para as constelações mais distantes.
Assim que atravessei os portões, olhei para o céu de estrelas. E de lua.
Inspirei a brisa fria.
E saí em disparada até o carro.
18h02.
Dizia o relógio do carro.
E, dessa vez, não poderia dizer os segundos. Mas, eu não diria de qualquer jeito, porque era um tempo que não importava mais.
Eu estava indo para casa.
Para a minha família.
E, pelos meus precisos cálculos, eu estaria em casa em 17 longos minutos.
Que eu faria de tudo para que fossem os 17 minutos mais rápidos da minha vida.
Coloquei Barão Vermelho no rádio, na esperança de que o rock ajudasse.
E assim foi.
Chegando à garagem, eu sabia que ele esperava por mim.
E, enquanto subia os 60 degraus para o quarto andar, porque esperar o elevador seria demais, eu tinha certeza de que ele já sabia.
Sabia que eu estava chegando, com aquela habilidade incomparável que nenhum ser humano poderia ousar ter.
Enfiando a chave na fechadura, o ouvi.
Ele veio até mim depressa, com um latido frenético. Jogou as patas em minhas pernas e esperou.
Assim que me abaixei para falar com ele, ganhei uma lambida quente e generosa.
Feliz demais, afaguei suas orelhas macias e falei como um abobalhado.
- Vem aqui, garoto. – eu disse, e o peguei no colo, tentando conter aquela agitação. – Estou em casa. E quer saber? Já, já, vamos sair. Tem uma noite linda lá fora esperando por nós.
Entendendo o que eu dissera, com aquela habilidade incomparável que nenhum ser humano poderia ousar ter, assim que o coloquei no chão, ele correu para o lado da coleira, pendurada no porta-chaves.
- Deixe apenas que eu troque de roupa. Em dez segundos! – entrei no quarto, tentando fazer daqueles dez segundos muito menos.
Com tênis e um sorriso de orelha a orelha, coloquei a coleira em Pitá, meu incrível companheiro de caminhada e de vida, e saímos.
Com seu rabo inquietante de felicidade, aquela felicidade incomparável que nenhum ser humano conseguiu ter até hoje.
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Pitágoras
Short StoryA matemática é a combinação de todas as formas possíveis de se combinar números. A matemática é como uma família de números, que se relacionam entre si de diversas maneiras e infinitas vezes. E não há nada mais importante no mundo do que a nossa fam...