Amizade Líquida

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 Sou a Maria, conheço a Suzane desde o jardim de infância, no qual entramos com 4 anos. Hoje temos 16 anos, ou seja, 12 anos de amizade. Somos melhores amigas, pode ter certeza. Como de costume semanal, fomos ao maior shopping de Florianópolis, afinal adoramos gastar, ambas pertencemos à elite catarinense, logo, dinheiro não é problema. Contudo, nossos pais, velhos e pães-duros, observam nossas faturas dos cartões de crédito, e não nos permitem gastar semanas consecutivas, por isso, eu e a Su temos um combinado, numa semana eu pago tudo e na outra ela.

 Hoje foi a minha vez de bancar todas as nossas despesas. Peguei o meu Mastercard Black, logo em seguida um Uber até a casa da minha "best" e, assim, fomos ao paraíso capitalista. Chegando lá, fomos direto à Gucci, afinal, queríamos uma bolsa nova, bolsa não, uma G-U-C-C-I nova.

 Ao entrarmos na loja, o vendedor veio nos atender, passamos horas observando as perfeições ali presentes. Caso eu pudesse compraria até o telhado de lá, e eu posso, mas papai ficaria zangado comigo e, no momento quero evitar brigas. 

 A gente se decidiu, levarei a Gucci preta, edição limitada, produzida por mãos suecas, e claro, os lucros serão revertidos a uma ONG africana para tratamento de AIDS. Sou muito caridosa, não?? Enquanto a Suzane decidiu que a Gucci listrada, edição clássica, inspirada na Revolução Francesa, é mais a sua cara, afinal ela é a maior lacradora deste país, luta diariamente apoiando as mulheres, sororidade é fundamental nos dias de hoje, né?

 No momento de pagar, antes de ir à próxima aventura, no caixa, digito a senha, de repente, aparece "Transação negada". Como assim negada? Ligo ao meu pai e busco uma satisfação, já que meu cartão não tem limites. E foi desse modo que descobri, estamos falidos. Aos prantos contei à Su, ela no primeiro momento esboçou tristeza, porém, imediatamente após isso, sua face foi tomada por indiferença. Então, retirou-se dali sem pronunciar palavra alguma, nem sequer olhou na minha cara.

 Estou em casa, sozinha, deitada, chorando. Perdi a minha força, o meu dinheiro. Será que Suzane também se foi? Ela não atendeu às chamadas, tampouco visualizou as mensagens. Talvez, a aula de filosofia daquela teoria de Bauman, sobre modernidade líquida e relações superficiais, faça um pouco mais de sentido agora. 

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