𝗧𝗼𝗱ᥲ 𝗠ᥲ𝗴ιᥲ 𝗧ᥱ𝗺 𝗨𝗺 ρ𝗿ᥱç𝗼

Toda Graça requerida.

' 𝒩ão me lembro de muita coisa após ser sequestrada por piratas no cais, somente me recordo de estar sentada na ponte em frente ao mar, eu estava com os pés dentro d'água, lembro-me de meus tornozelos estarem doendo de tanto fugir, lembro de estar com frio por conta da água gelada e da neblina que a noite fazia, lembro-me de estar acariciando meialua em meu colo, lembro-me de pouca coisa, menos do que eu esperava.

ℰu estava literalmente enjaulada; estava numa sala, mas eu estava como um pássaro de asa quebrada dentro de uma jaula na casa de um humano, a sala era grande e continha muitas celas como a que eu estava presa. Além de estar na cela, meu braço estava algemado em uma das barras de ferro, eu podia sentir toda aquela sala se mexendo como se estivesse dentro d'água, e talvez seja porque realmente está dentro d'água. Estava enjoada, odeio barcos, odeio piratas, e sei que provavelmente estou na tripulação de um.

ℛespirei fundo e engoli a seco, eu tinha muitas informações para assimilar naquele momento, eu basicamente fui sequestrada por piratas e agora estou em alto mar, enjoada, com dor, com sede e assustada, talvez não tão assustada, talvez com mais dor do que com medo, talvez mais confusa.

𝒪uvi sons de passos, encolhi todo meu corpo, podendo abraçar minhas pernas caso eu quisesse. Um homem com roupas pretas, botas coturno e luvas, brincos e tatuagens desceu junto a outros homens que não estavam tão arrumados ao meu ver. O homem era bonito, seu cabelo era grande, preto, e liso, e seus olhos, ele tinha brilhantes olhos azuis, sua pele era clara e seus lábios rosados como pêssego, ele também era alto, tem uma boa postura, e sua expressão era desconfiada.

- O que trazem nesta noite tão mórbida, queridos companheiros. - Perguntou, sem vontade alguma de resposta.

- Vejamos, capitão, uma bruxa! - um homem baixinho e robusto disse, apontando para mim, ele fedia.

- não sou bruxa! - disse alto, encarando o homem que havia me apontado.

- Mentirosa! por que teria um gato preto então? - perguntou.

- Você é um animal irracional mesmo! Eu não preciso ser uma bruxa para ter um gatinho preto, sua, sua.. - procurei palavras ofensivas o suficiente. - Sua anta manca! - não tive sucesso.

- Acha que sou bobo? Você carrega consigo um colar que possui pó de lagarto violeta! - ele disse, e eu desviei o olhar. Ele estava certo, sou descente de bruxa, mas isto não me torna uma, torna ?

𝒪 rapaz moreno se aproximou da cela e se agachou em minha frente, seus olhos estavam semi-cerrados, ele umedeceu os lábios e ergueu sua mão, puxando meu colar de dentro da blusa, em seguida me encarou nos olhos. Não pude manter o contato pois ele possui um olhar profundo demais para ser encarado.

- Então, além de bruxa, ainda é péssima mentirosa? - O rapaz disse com um sorriso e sotaque britânico, era como se ele estivesse se divertindo com a situação retratada.
Puxei meu colar com a mão que não estava algemada, e virei meu rosto pro lado.

- Não dirijo palavra à baratas marinhas. - respondi, sem encara-lo. Imediatamente o homem desmanchou seu sorriso e se levantou, irritado. Seguiu em direção à escadaria e olhou para trás.

- Mas terá de falar. Não sabe o motivo que te traz aqui, mas em breve saberá, e quando souber, vai implorar para que eu lhe poupe. - Disse, de forma convencida, mas eu não o respondi, pois já havia dito que não dirigiria a palavra à ele. E assim o fiz.

Todos os homens saíram de lá, largando-me sozinha naquela cela grande, escura e fria. Meu plano seria ignora-lo e não cooperar com seja lá o que ele estivesse em mente, e assim, talvez, ele me deixasse ir embora. Não sei o que ele planeja comigo, mas sei que não sou a pessoa certa para tal papel.