1. encontro

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Minha imagem nunca correspondeu exatamente a de um fazendeiro ou a de alguém que remotamente goste de estar em contato com a natureza. Mas aqui estou eu. A caminho de uma cidadezinha afastada de tudo, num cantinho quase rural do mundo, num interior onde ninguém vai me encontrar mesmo que tente muito. A culpa disso é toda do meu avô por me escrever na herança da fazenda. Nós éramos tão próximos. Tudo sobre a fazenda me deixava mais feliz, mas agora eu só tenho lembranças vagas de brincar com os animais, ajudá-lo com as plantações e aprontar na vizinhança.

Não foi uma surpresa quando percebi que estava tudo destruído. Eu levei um tempo me realocando. Relembrando momentos há muito esquecidos e apreciando o ar limpo que há tempos não experienciava e logo em seguida sai para me apresentar ao resto da cidade como me foi instruído pelo prefeito. Ele me recebera com muito entusiasmo e acolhimento. Descobri que ele era amigo de meu avô e lembrava de mim quando criança, apesar de eu não lhe achar familiar.

Conheci quase todos da vila. Robin, a carpinteira da cidade, disse que o filho dela estava andando de moto quando eu fui visitá-la, então ainda não consegui me apresentar a ele. De resto, todos foram muito receptivos e gentis, eu não poderia esperar por nada melhor.

No dia seguinte eu comecei o trabalho. Limpei o campo das ervas daninhas e liberei um bom espaço para começar a plantar. Pierre, o vendedor local, me fez um desconto de boas vindas em suas melhores sementes. Eu o agradeci imensamente. Não sei como, mas quando parti para a parte de botar a mão na massa me veio uma memória muscular impressionante. De alguma forma eu sabia como fazer tudo o que eu precisava. Precisei verificar os cuidados certos para cada tipo de semente no Google mas tirando isso, as coisas pareciam promissoras.

No final do dia, decidi comprar um café na taverna do Gus e fui caminhar para esfriar a cabeça. Talvez me sentar em algum lugar e apreciar o silêncio já que meu corpo doía do esforço súbito. Ao subir a trilha para perto das montanhas, onde ficava a casa de Robin, eu ouvi uma suave e distante melodia. Era a voz de alguém. Estava cantarolando alguma coisa sem muito esforço para si mesmo. Sua voz era suave e baixa, parecia acariciar meus tímpanos apesar de não dar muita bola para acertar cada nota.

Assim que tive visão dele percebi que não havia o conhecido ainda. Talvez seja o filho de Robin, eu pensei. Ele tinha fios escuros e usava um moletom de cor parecida. Eu não conseguia ver seu rosto, ele estava sentado a beira do lago de costas para mim. Meus passos o alertaram e ele se virou devagar. Quando nossos olhos se encontraram ele fez uma expressão confusa, mas abanou com a mão livre - a outra segurava um cigarro.

Eu me aproximei com o meu café em mãos.

"Oi."

Eu disse.

"Oi." Ele respondeu. Eu não era uma pessoa muito aberta e aparentemente ele também não, a julgar pelo breve silêncio que se instalou. "Novo aqui?"

"Mhm." De todas as interações que eu tive desde que cheguei, essa é com certeza a mais desconfortável. Definitivamente um introvertido também. Eu pensei dele. "Você é filho da Robin?"

"Ela falou de mim?"

"Disse que você tava andando de moto."

Eu ri suavemente. Vendo ele agora, ele tem muito a aparência de quem dirige uma moto a noite para clarear a mente.

"Ah."

Nós caímos em um silêncio estranho de novo e como bom introvertido que sou comecei a pensar demais sobre se eu estava incomodando ele com a minha presença.

"Eu estou te incomodando?"

"Ah, não. Eu não sou muito de conversar mas pode ficar."

"Eu também não."

Eu me aproximei do lago e fiquei de pé ao lado dele, apreciando a brisa noturna e os sons exóticos de todo tipo de inseto e animal que eu nunca ouvi na cidade. Eu fechei os olhos quando a brisa tocou minha bochecha e me perdi por um momento até que o cheiro da fumaça chegou ao meu nariz. Eu tossi o mais disfarçadamente que eu consegui para não deixa-lo desconfortável e me afastei da fumaça. Quando olhei de novo, ele estava apagando o cigarro contra a terra seca.

"Não precisava."

Eu falei. Ele não respondeu com nada de volta. Não sei se por timidez ou por não saber o que dizer. Sua expressão também era difícil de decifrar.

"Qual seu nome mesmo?"

Eu perguntei. Tinha a vaga impressão de Robin ter mencionado mas eu não conseguia lembrar.

"Sebastian. E o seu?"

"S/N."

Depois disso nós não falamos mais nada. Apenas aproveitamos a calmaria da noite em nossas próprias mentes. Foi bom ficar sozinho com outra pessoa, apesar de eu ter me preocupado imensamente se eu realmente não o estava incomodando com a minha presença. Depois de alguns minutos, nós nos despedimos e seguimos nossos próprios caminhos.

Eu espero que possamos ser amigos.

dia a dia com o sebby (porque eu estou carente e ele é meu dream boy) / MXMOnde histórias criam vida. Descubra agora