Paris

798 75 30
                                    

"Eu preciso de outro quarto. Por favor." Colin disse à recepcionista, exasperado, depois de permanecer um tempo em silêncio olhando para o número do quarto impresso na chave em suas mãos.

"Sinto muito, senhor." A mulher disse suavemente. "Mas estamos com o hotel lotado pelos próximos dias".

"Qualquer quarto serve." Ele falou em tom mais alto, chamando a atenção das pessoas ao seu redor. "É sério. Menos esse, por favor. Talvez alguém queira um upgrade ou algo assim."

"Sinto muito, senhor Bridgerton. Isso não será possível."

Colin sentiu seu estômago revirar e um calafrio atingiu seu corpo assim que a recepcionista virou para atender outra pessoa. Ele não teve outra alternativa senão ceder àquilo, ainda que momentaneamente e, com um suspiro pesado saindo de seus lábios, ele se dirigiu para o quarto. Era estranho estar ali depois de tanto tempo. Paris guardava muitas lembranças. Aquele hotel tinha sido palco da maior parte delas, mas aquele quarto... ali tinha sido o espetáculo e ela não estaria com ele para um novo ato dessa vez.

A porta do elevador abriu quando chegou ao 7º andar e ele saiu, seguindo adiante pelo caminho já conhecido. Seu coração apertou em uma dor alucinante e a garganta se fechou num nó tão forte, que ele se viu incapaz de respirar por um segundo quando chegou à porta. Uma avalanche de memórias o atingiu e tornou tudo aquilo muito mais real e palpável quando entrou no quarto.

Era um quarto carregado no luxo e em todo o requinte que um hotel cinco estrelas com vista para a Torre Eiffel poderia ter. Ela era uma garota simples e com certeza não precisava daquilo. Mas ainda assim ele quis o melhor e nada menos do que isso para ela, então cinco anos antes eles estavam ali pela primeira vez, comemorando o aniversário dela de 18 anos. E não importava quantas pessoas já haviam passado por ali, em sua mente aquele lugar ainda pertencia a eles. Foi ali que eles se entregaram um ao outro pela primeira vez. Parte de todos os planos de vida para eles foram traçados naquele quarto, com eles atados um ao outro. Casamento, lua de mel, filhos... uma vida completa. O cheiro dela ainda impregnava em sua memória, o som doce de sua risada, os arrepios em sua pele delicada, o calor de seu corpo...

Colin estava sufocando quando cambaleou para trás e se afastou do quarto em passos largos. Penélope era a sua vida e desde que ela o havia deixado (mesmo que por sua própria culpa), ele não conseguia mais ser ele mesmo. Ele estava incompleto e ainda mais perdido do que antes.

O ar frio parisiense atingiu seus pulmões assim que colocou os pés na rua e só então conseguiu respirar com certa normalidade. Mas ainda parecia errado. Ele não queria estar ali e se arrastou para longe. Colin havia evitado aquele país por todos os meios possíveis nos últimos anos. Mas o destino resolveu ser cruel e o obrigou a estar no rastro daquela história de novo. No mesmo hotel, mesmo quarto e andando pelas ruas que eles passaram por diversas vezes em meio aos beijos e sorrisos.

Passado algum tempo caminhando sem rumo, ele percebeu que seus pés o guiaram até um lugar familiar. Aquela pequena e discreta rua no coração de Paris, com algumas casas coloridas e um bistrô. Algumas mesas estavam dispostas na rua e um único lugar disponível. Ele hesitou, pensando se deveria parar ou não. Se deveria se permitir passar por aquilo, relembrar das vezes que estiveram naquele lugar. Ou apenas seguir em frente e achar outro restaurante. Mas o ronco em seu estômago fez a escolha e ele sentou-se à mesa vazia.

Colin ficou olhando para o cardápio, que continuava o mesmo de sempre, por algum tempo. Ele escolheu o que pedir e um sorriso triste surgiu em seus lábios ao perceber que o prato favorito dela estava disponível naquele dia. - Talvez eu deva mudar meu pedido... - ele pensou, se perdendo nas lembranças e sentindo seu corpo dar sinais do que parecia ser saudade. O coração acelerou acompanhado por um suor frio que o atingiu e arrepiaram seus pêlos, fazendo-o até mesmo imaginar coisas. Aquela voz doce invadiu sua mente, como se estivesse naquele lugar, na sua frente. Até que o vislumbre de cachos vermelhos o fez abaixar o cardápio. Apenas para descobrir que não era imaginação. Ela estava ali de fato.

Paris | PolinOnde histórias criam vida. Descubra agora