eyes shut

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♪ Everything must change - Ólafur Arnalds ♪

Não eram grandes os movimentos que aconteciam naquele espaço de terra da Noruega. Então, era fácil identificar quem a chamava.

No silêncio da estrada, com a brisa que o mar trazia, Evanora ia junto com a energia que a guiava.

Os sapatos, do lado de fora. E os pés descalços tocaram a madeira fria da varanda, escutando-a ranger a cada passo que dava rumo à porta daquela casa.

O cabelo cinza, que batia abaixo do ombro, se ajeitou rebeldemente com o movimento de tirar o capuz de sua capa e uma mecha rebelde, e totalmente branca, caía sobre seus olhos cinzas.

"Evanora".

Escutou o sussurro longe, implorando.

Sua chegada alertou a filha mais velha de Magna, que saltou para longe de sua mãe quando avistou a curiosa e distante figura de Evanora.

— E-eu ia te ligar. — Disse Liv, com os olhos molhados, o nariz vermelho e uma bagunça gaguejante.

Mas Evanora nada disse, apenas olhou nos olhos dolorosos daquela criança, que mal havia chegado na casa dos quinze, e pediu sua permissão.

Uma afirmação agitada de cabeça.

"Evanora..."

Escutou-se de novo. E dessa vez pediu para que Liv cuidasse de sua irmã na sala, mas que, antes, se despedisse de sua mãe.

Magna nem mesmo parecia ter consciência no momento, gemendo de dor e mal conseguindo retribuir o beijo de sua filha.

O olhar conhecedor de Liv foi o suficiente para Evanora guiá-la para fora, mas nunca fechando a porta. E então, tirou vários ramos de alfazema do bolso de suas vestes largas e longas, aproximando da enferma que a olhou profundamente como se a reconhecesse - tão avesso há segundos com a própria filha.

— Você está pronta. — Disse Evanora, não mais que um sussurro.

E Magna, mesmo com os lábios secos e pele pálida, sorriu. Um sorriso de liberdade, como se, enfim, pudesse descansar.

Os ramos de alfazema foram passados dos ombros aos pés, com murmúrios baixos e rápidos. Os olhos de Magna paralisaram na figura de Evanora com um último suspiro - um suspiro calmo, no qual ela sempre reconhece quando eles realmente a veem.

A Alfazema pousou na cabeça de Magna por alguns segundos, antes de, em uma tigela ao lado, pegar fogo em meio a palavras murmuradas de Evanora.

O fim de uma vida.

Os dedos suaves tocaram a pele ainda quente para fechar os olhos do corpo que abrigava Magna.

Na sala, o reconhecimento de Liv, Evanora acenou a cabeça em um gesto de respeito e empatia. E a doce menina, com lábios trêmulos, entendeu o que acabara de acontecer no quarto de sua mãe.

O capuz retornou para proteção de todo o frio, assim como os calçados. A neblina densa acolheu seu corpo como uma velha amiga, fazendo-a respirar profundamente.

O som do cascalho, do vento.

Mas seus passos pararam antes de sair do vilarejo.

E ao virar sua cabeça para o lado, ela viu, lá dentro daquela casa, o borro de uma mulher a observando. Notando sua ida ao vilarejo quando todos dormiam numa madrugada fria de fevereiro.

E ela sentiu um sopro diferente dessa vez.

Algo novo, algo que poderia chacoalhar toda sua normalidade se o que sentiu fosse um presságio, mas Evanora decidiu não dar importância para a nova chegada.

Evanora - Everything must changeOnde histórias criam vida. Descubra agora