Um tigre grande e furioso

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Parecia que eu estava inebriada com o conforto e a leveza de estar entre amigas. Sentadas no meu quarto de adolescência, compartilhávamos gargalhadas gostosas sem qualquer motivo marcante o suficiente para me fazer lembrar. Minha vista estava levemente embaçada, como se houvesse um filtro de suavidade nos meus olhos, mas não me incomodava. Eu estava imersa nos prazeres da amizade.

Três garotas estavam sentadas juntas na cama, outra estava de bruços apoiada nos antebraços no tapete ao chão e eu conseguia ver todas à minha frente estando sentada numa poltrona solitária, abraçada a uma almofada felpuda.

Suspirei ao final de uma gargalhada, sentindo o relaxamento da felicidade, e recostei.

— Não é engraçado como às vezes parece que estamos vivendo no passado? - perguntei, um leve sorriso estampando os cantos dos meus lábios.

— Passado? - questionou a que estava deitada no tapete, causando novas risadas nas demais — Do que você tá falando?

— Como, por exemplo, aqui eu tenho 17 anos mas, na vida real, eu tenho 24.

O peso do ar mudou. Naquele instante em que todos os olhos se voltaram para mim, instantaneamente sem sorrisos, o mundo escureceu como um anoitecer acelerado. O medo que senti pressionava minha pele e tampava minha garganta. Meus olhos encheram de lágrimas ao passo que os delas escureciam.

A garota que estava sentada na ponta da cama colocou um par de óculos escuros enquanto levantava, dizendo de forma descontraída: — Garota, do que você tá falando?

Até que ela me alcançou, segurou firme no meu antebraço e me puxou para começar uma caminhada. Olhei para trás e as outras garotas começavam a se levantar também, rígidas em seus movimentos nada naturais, os olhos já em nós antes mesmo do corpo virar em nossa direção. Estes olhos pretos e frios nos acompanhavam, e pesavam em mim como muito mais que três pares. Os passos da garota foram acelerando depressa até que se tornaram uma corrida, enquanto ela gritava: — O que você tá fazendo? Por que você disse aquilo? Precisa acordar agora. Finja que está morrendo, sendo atacada... qualquer coisa! Só acorda. Agora!

Eu não respondia. Eu não entendia, na verdade. O que estava acontecendo?

Olhou para trás, seus cachos abertos caiam dourados ao redor da sua face, iluminando sua pele dourada e oliva.

— Martina, você está me ouvindo?

— Como sabe meu nome? - questionei, ao que ela bufou e respondeu:

— Sinceramente? Eu não tenho tempo pra isso. O seu sonho não é mais importante do que o de qualquer outra pessoa. Outros me darão ouvidos.

Ela cessou a corrida, me chicoteando pelo braço. Seus dedos esguios cravaram-se em meu pescoço e eu senti meus pés sendo erguidos pela rasteira que me deu. Enquanto eu parecia cair em câmera lenta, os óculos escorregaram pelo seu nariz e a última coisa que vi foram olhos castanhos alaranjados, selvagens.

Contudo, não acordei. Eu continuava presa àquele sonho. Mais precisamente, agora continuava presa àqueles olhos. Dessa vez eu estava parada no meio de um corredor de shopping. As pessoas passavam por mim envoltas em conversas que não faziam qualquer sentido, as lojas eram apenas fortes luzes brancas e minha visão parecia, novamente, suavizada.

Não me lembro de já ter estado nesse local na vida real, assim como não reconheço qualquer uma das faces que passeiam por aqui. Eu preciso acordar, penso, mas o segundo pensamento é ainda mais forte... preciso vê-la. Quem é ela? Como posso encontrá-la?

Não se pode falar sobre o conceito de tempo em sonhos, lembro.

Avisto duas garotas conversando numa linguagem sem nexo vindo em minha direção, inspiro profundamente e me coloco em seu caminho.

REM - uma fanfic Jade ThirwallOnde histórias criam vida. Descubra agora