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“ olha como ela é gorda “
“ coitada nunca vai arrumar um namorado”
“ Ninguém gosta de gente gorda”
Comentários como esses, eu vivia ouvindo. Ainda mais para o padrão de beleza japonesa, digamos que eu sou mestiça, Nasci no Brasil e vim para o Japão quando completei quinze anos, foi difícil no início, afinal eu tenho muitos traços japoneses, mas meu corpo... Sempre foi o corpo escultural de uma brasileira.
Eu faço parte do clube de culinária, é o único lugar aonde eu consigo fazer o que eu amo e me sentir em paz.
— Chorando de novo? — Hina disse ao entrar pela porta e larga as sacolas na bancada — Miyu, o que fizeram dessa vez?
— Os comentários de sempre Hina, não se preocupe — Forço um sorriso.
Já estávamos no último ano, em alguns meses seria a formatura, Hina era uma amiga e tanto, a unica que não me julgou ou fez piadinhas.
— Quantas vezes vou ter que falar, você não é gorda, você é corpuda, tem mais corpo e curvos que a maioria dessas meninas, e isso é lindo Miyu — Hina segurou em minhas mãos — você é linda.
— Isso é cheirinho de Taiyaki da Miyu? — Takemichi disse com os olhos brilhando — qual o sabor de hoje.
— o recheio é brigadeiro — Digo em português e Takemichi me encara — Brigadeiro é um doce popular no Brasil, prova vai.
Takemichi pegou o peixinho e o provou, juro que vi lágrimas em seus olhos, enquanto saboreava. Hina comeu também ouvindo os gemidos de satisfação, guardei o resto em saquinhos para presente e coloquei na mochila.
Na frente da escola me despedi dos dois, havia um grupo esperando o takemichi, mas não dei importância.
— O que você tá comendo cara? — Ouvi um garoto falar.
— Miyu fez Taiyaki de brigadeiro — Takemichi disse de boca cheia — Miyu espera.
Olhei para trás e Takemichi estava me chamando com a mão, fui até ele e dei um leve aceno para o grupo, havia dois loiros baixinhos um moreno alto e um loiro com a tatuagem de dragão.
— Miyu, pode dar para eles experimentar? — Takemichi juntou as mãos e abaixou a cabeça.
— Ta bom.
Tirei os saquinhos com os Taiyaki e entreguei para cada um, mas quando fui entregar para o loiro de cabelos na altura dos ombros, e uma tatuagem de dragão no pescoço, nossas mãos se tocaram por um momento e eu logo me apressei em me afastar.
— Você não é totalmente japonesa né — O outro loiro disse.
— Não, sou brasileira também — Desvio o olhar, provável que vão falar do meu corpo.
