20 de agosto de 2000, 11h05min

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          O sino alto e barulhento da única igreja da cidade de Marfim esbarrava-se em ecoadas que mais pareciam um aviso da chegada do que se assemelhava ao inevitável naquele domingo: a chuva do fim de cada mês. Como de costume, Marfim, a cidade do fim do mar - ou do mundo - como era apelidada pelos habitantes da pequena e intimamente tóxica comunidade, recebia uma breve pancada de chuva ao badalar do início da última semana do mês e em agosto não seria diferente. 

          Enquanto o aguaceiro escorria pelas calçadas dando o seu último suspiro e presenteando os moradores daquele ínfimo espaço perdido no interior de Pernambuco onde viviam os ricos e afortunados que um dia pertenceram a capital do estado, era possível ouvir através das grandes portas e vidraçarias opacas da igreja que perdidas em uma arquitetura vitoriana ofereciam um ar elegante e sofisticado ao jardim minuciosamente cuidado para parecer perfeito, o som do piano que esvaia-se pelos dedos finos, pequenos e delicados das mãos de Melissa, ou Mel, como era carinhosamente apelidada pelo padre Miguel – e só por ele – desde muito pequena. Os cabelos loiros, longos e bem cuidados que cheiravam a baunilha todas as vezes em que precisava ir a igreja por quaisquer motivos pareciam tomar a forma perfeita ao se unirem ao olhar doce e viscoso da menina, como quem esconde misteriosas seivas por trás de uma colmeia brilhante e perigosa. 

— Perfeito! Perfeito! Perfeito! — Exclamava o padre Miguel com a voz grave e grossa a cada suave e preciso toque de Melissa que serpentava com os dedos entre as teclas pretas e brancas do piano que tocavam o hino Ave Maris Stella, uma oração em forma de canção que dançava pelos corredores da igreja quase vazia. — Parece que você nem sente o peso das suas pequenas mãos enquanto dedilha com tanta precisão e, bom, Mel... Você é a escolha perfeita. 

          Padre Miguel era tão alto, bonito e robusto que lembrava a Melissa uma escultura de um homem grande, forte e nu que havia visto em uma de suas últimas viagens feitas a Curitiba, aos seus 7 anos de idade, quando sua tia Míriam, que adorava o Paraná – e por isso misteriosamente escolhera viver lá alguns poucos anos depois dessa viagem – a levara para conhecer a Praça 19 de Dezembro, no centro da cidade. Melissa recordava pouco da viagem mas lembrava com carinho de como a amava por deixar que comesse quantos algodões doces a menina fizesse questão enquanto faziam passeios culturais e maçantes para uma criança daquela idade.

— Deve ser por isso que não as sinto, por serem tão pequenas e leves... Como as plumas das almofadas do salão paroquial. Parecem esperar por uma cena suada de amor entre dois corpos que se conhecem. Não parecem? — Questionou Melissa com o olhar quase sorrindo ao levantar os dedos delicados e pontiagudos que carregavam unhas bem feitas, despertando os entreolhares das quatro outras meninas que assistiam desconfiadas a audição da menina para a missa do próximo domingo e brincando com o olhar penetrante que Miguel agora lhe oferecera.

          A alta estatura da menina que, aos dezessete,arqueava ainda pose de moleca e entregava a quem quer que de longe ou de perto a enxergasse, que se tratava da primogênita dos Timberg de Melo, o lar mais sofisticado e delicado de toda a comunidade. Petrus e Mariana detinham o maior poder aquisitivo de toda a cidade com os seus investimentos em apicultura e produção de mel, de onde não ironicamente veio a inspiração pro nome de sua primeira filha. Por esse fato eram quase que ovacionados por onde passavam,principalmente ás manhãs de domingo quando praticamente desfilavam da porta do seu carro de luxo, um Grand Cherokee dos anos 90 em direção a igreja. 

          Mariana, elegante e sempre muito bem vestida, lembrava a beleza de Diana, a Princesa de Gales, que acompanhada de Petrus, sempre trajado em ternos finos e calças apertadas, torneando as suas coxas de homem viril e fazendo evidente o seu nariz grande e charmoso. Melissa, Olívia e Alícia, vinham logo em seguida, sempre vestidas em paleta de cores marfim em peças de luxo, banhadas em acessórios como tiaras, pulseiras, colares e laços que exalavam dinheiro escorrendo pelos seus cabelos loiros e castanho escuros.

          Ao término da audição, Melissa se despediu das outras quatro meninas que sentadas aos bancos foram despedindo-se com 'tchauzinhos' aveludados de maldade e inveja direcionados ao olhar do padre Miguel sobre Melissa, algo que elas nunca foram capazes de conquistar, mesmo desejando sem nenhum pudor ou vergonha. Ao se certificar de que estavam agora sozinhos, Miguel recolheu os seus pertences, uma bíblia e uma garrafinha de água amarrada a um terço e caminhou em silêncio até a sala reservada a ele no salão paroquial. Com o olhar elegante, audacioso e quase-que-safado por cima da barra dos seus óculos redondos, fez o convite a Melissa que prontamente o atendeu e caminhou em direção a sala reservada. 

          A cada passo que dava em direção a porta, a menina podia sentir o frio percorrer-lhe a espinha que fazia com que as suas costas seguissem eretas e asua calcinha molhasse como resposta a excitação do chamado. A virilha de Melissa escondia por baixo da saia angelical a boceta de uma menina que já mulher, respondia e melava agora aos poucos o tecido de pano de sua calcinha que ia se presentear aquele homem com um lacinho rosa pendurado a barra.

          Por entre a fresta da porta, Melissa olhou vagarosamente para o corpo de padre Miguel e sem muitos esforços percebeu o pacote enorme que se formava escondido entre as suas pernas, sob as suas calças folgadas. A pirralha pensou no quanto era grande, grosso e pulsava, como sangue que não para de jorrar e ela estava certa, não ia parar de jorrar. 

          Era chegada a hora; Melissa adentrou a sala e a porta foi trancada. 

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⏰ Última atualização: Apr 07, 2023 ⏰

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