UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: Comunicação e artes –
PROF.: Luis Felipe Abreu
A cena de uma cena.
ALUNO: João De Lucca C. Barreto
Rio de Janeiro
Agosto
2022
A CENA DE UMA CENA.
"Resolvi subir as escadas. Andava tentando não fazer barulho. Quando pude notar uma movimentação no fim dos degraus, já no corredor onde queria chegar. Alguém arrastava os pés e batia forte em algum objeto cujo som lembrava madeira. Olhei para traz algumas vezes por medo, mas nunca havia nada.
Terminei um dos lances da escada e avistei, na parede da passagem, uma grandiosa obra de arte. Algo nela me chamou atenção. Era um quadro grande, acho que 120x250, em que o autor faz a pintura de 3 autorretratos nos quais se pode vê-lo de costas os esboçando. Apesar dos rostos não estarem prontos, todo o resto, os cavaletes, os quadros brancos, as costas do próprio autor e a parede bege, quase amarelada, estavam. Será que não foi terminado, ou esse é o conceito da peça?
(Minuto 8:38 do filme Maldição, 2006)
Um choro rompeu os ruídos que ouvia antes. Novamente alerta, tornei a subir enquanto gemido ficava cada vez mais alto e próximo. Com o flash do celular tentei iluminar melhor o caminho que percorria. Um dos degraus da escada estavam podres, bem na minha frente. Então, calculei a distância e dei o passo mais longo. No momento em que coloquei meu pé sobre o último degrau, inclinei meu corpo para pôr a cabeça além da parede e ter visão geral do corredor.
Olhei para a direita e enxerguei apenas o vão da escada guardado por um corrimão de altura média e, ao longo do corredor, vi algumas portas carcomidas e caídas. O chão, o teto e as paredes, eram marcados por pinturas descascadas, grandes placas de musgo, fungos e infiltrações de água em vários locais. No fim daquele pedaço havia uma janela translucida de sujeira e quebrada com os cacos no chão, a frente.
Quando virei à esquerda, passei o olho devagar pelas portas, como fiz antes. Apenas duas portas estavam de pé: uma na parede da direita, inteira, apenas com arranhões; e na da esquerda, quebrada, sem maçaneta, mas ainda de pé. De resto, não havia nada de novo ou que merecesse o cuidado de minha atenção.
(Minuto 8:54 do filme Maldição, 2006)
Sai da escada determinado e parei no centro do corredor. Me dei conta que não ouvia mais os gemidos de choro. Fui para esquerda, então, por ser de onde vinham os sons e por acomodar as duas únicas portas fechadas do lugar. Em todo centímetro que andava, meus pés batiam no piso abandonado e ecoava pelo corredor sem móveis. Sentia que meu coração batia no ritmo do eco de cada passo que dava. Parei frente a frente a primeira porta, a direita, e fiz o movimento de quem levaria a mão a maçaneta, mas antes que pudesse tocá-la, dentro sala, um zumbido alto me fez parar em alerta.
Pus minha orelha na porta esperando identificar o que produzia aquele barulho. Não ouvi nem passos nem choro, sim um sopro que me convidava a entrar no desconhecido que se escondia atras daquele pedaço oco e podre de madeira. Conferi mais uma vez e de fato havia um barulho.
Sem pensar muito mais nas minhas expectativas, fui porta a dentro de olho fechado, como um reflexo. O vácuo da porta, expeliu para fora da janela, junto ao ar guardado na sala, os trapos sujos e rasgados, que um dia forma chamados de cortina. E como retorno de uma maré, foi soprado para dentro de novo, agressivamente, criando em segundos um som oco, abafado pelas cortinas, e estridente pelo balançar das janelas.
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A cena de uma cena.
Non-FictionNes trabalho eu comparo dois cenas: uma retirada do filme Maldição (2006) e outra de um conto que eu mesmo escrevi. Analiso as técnicas de cópia, mashup e os efeitos textuais , em que, cada uma das cenas, causa no leitor/ espectador. A semelhança da...