Cap.1

11 4 0
                                    

Seu corpo estava no escuro de novo, as mãos ensanguentadas presas em correntes. Aquela garota o encarava, os olhos tristes e o pescoço ainda machucado. Ela se aproxima de forma muito rápida, quase grudando os seus rostos. Sua voz sooa grave e alta:
-COVARDE!
Ela se desfaz sob sua visão. Aparecendo onde quer que seja, onde ele não podia ver.
-COVARDE.
Ele tapa os ouvidos. Aquela voz não era de uma criança, não era de uma menina. Parecia a voz de um corpo distorcido, manchado pelo ódio e recentimento.
-COVARDE.
O homem não sabia mais para onde olhar, até sentir a garota pular em suas costas, a faca próxima ao seu pescoço.
-COVARDE! COVARDE! CO.VAR.DE!

A pancada na grade da cela o faz despertar em um pulo.
-Vamos, seus covardes! Todo mundo de pé, tem trabalho pra vocês!
O policial passava de cela em cela, batendo o porrete em cada uma. Aquele maldito gato já se esgueirava para dentro do quarto miserável de um prisioneiro.
Ele se levanta, encarando o espelho, tomando coragem. Sua mão calejada gira a torneira, o som da água gelada triturando seus miolos. O semblante raivoso, que em nada podia ajudar a esconder a dor, mergulha na água, fazendo sua espinha gelar na hora.
Quando seus olhos voltam à superfície, apenas enxergam os olhos da garota no espelho, presos às suas costas. Aquele rosto apertado envolto em raiva, os cabelos negros e compridos cortados sem nenhum cuidado em um único lado. O sangue jorrava de seu pescoço, a pele molhada.
O gato começa a soltar sons de lamento, se contorcendo e batendo em tudo ao redor. O rapaz se afasta da pia, caindo ao lado da beliche. Ele seca o rosto na própria camisa, sentindo o pescoço muito exposto, e a alma suada em sujeira.

A Prisão De Um CadáverOnde histórias criam vida. Descubra agora