1 Inexistente

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Respire.
Meus olhos incharam conforme tentava engolir o nó da garganta. Frustrada com minha fraqueza, limpei as lágrimas
que forçavam seu caminho pela minha bochecha com as costas de minha mão.
Não podia mais pensar nisso – ou explodiria.
Olhei em torno do meu quarto, mas ele realmente não tinha
nenhuma conexão comigo – uma escrivaninha de segunda mão
com uma cadeira que não combinava, apoiada na parede, e ao lado dela uma estante de três prateleiras que já viu muitos lares em muitos anos.
Não havia fotos nas paredes. Nenhuma lembrança do que eu era antes de chegar aqui.
Apenas um espaço onde podia me esconder – me esconder da dor, dos olhares e das palavras cortantes.
Por que estava aqui? Sei a resposta. Não foi uma escolha estar aqui; mas, sim necessidade. Não nenhum outro lugar para ir e eles não podiam virar suas costas para minha situação.
Eles eram a única família que eu tinha e, mesmo assim, não conseguia me sentir grata.

Deitei na cama, tentando me concentrar na lição de casa.
Estremeci ao me inclinar para pegar o livro de Trigonometria. Não acreditei que meu ombro já estava roxo.
Ótimo!
Parece que vou precisar usar manga longa de novo essa semana.
A dor pungente em meu ombro fez com que as imagens de horror
passassem como um flash em minha mente. Senti a raiva se
avolumar, travei minha mandíbula e rangi os dentes. Respirei fundo e permiti que uma onda de vazio me envolvesse. Preciso tirar isso de minha mente, então me obriguei a me concentrar na lição de
casa.
Fui desperta por uma leve batida em minha porta. Ergui-me sobre
o cotovelo e tentei enxergar no quarto escuro.
Dormi por uma hora, mas não lembrava de ter caído no sono.

– O que você fez com seu cabelo hoje? Está bonito. Mais liso.
Muito chique.
Olhei de soslaio para Sara enquanto saíamos, sabendo que a
única razão para meu cabelo estar amarrado em um rabo de cavalo era porque estourei meu limite de cinco minutos no chuveiro essa manhã e não consegui tirar o condicionador do cabelo antes de a água ser desligada.– Do que você está falando? – perguntei, incrédula.
– Esquece. Você nunca consegue receber um elogio. – Mudando
de assunto, ela perguntou:
– Então, conseguiremos ir ao jogo de futebol americano amanhã à noite?
Olhei para ela com minhas sobrancelhas arqueadas, dando uma mordida na maçã.
Percebendo que responderia o óbvio, Sara pega seu refrigerante,
parando com a lata à altura de seus lábios.
– Por que ele está me torturando?! – Sara sussurrou, levantando vagarosamente a lata com seus olhos fixos em algo atrás de mim.
Virei-me para ver o que chamava sua atenção. Jason Stark e outro veterano malhado tiraram suas camisetas, as enfiaram na
parte de trás da calça e estavam jogando bola um para o outro. A
atenção capturada era óbvia. O observei por um minuto enquanto Sara gemia atrás de mim.
Curiosamente, ele não parecia ciente de todas as garotas que babavam por ele – interessante.
– Sara, talvez ele não perceba que é tão desejado – falei de forma
objetiva. – Já pensou nisso?
– Como ele pode não saber? – perguntou, incrédula.
– Ele é um cara – disse com um suspiro de resignação.
– Já o viu sair com qualquer outra pessoa a não ser durante os dois anos nos quais namorava com Holly Martin? Só porque achamos que ele é bom, não significa que ele se coloque nesse pedestal.
Olhamos para a figura alta de músculos definidos e sorriso
maroto. Nem eu conseguia evitar de me perder nos detalhes de seu
corpo esculpido. Não era por que estava focada nos estudo, que
estivesse morta.
Ainda notava essas coisas – bem, às vezes.
– Talvez – ela considerou com um sorriso diabólico.
– Vocês dois formariam um casal absolutamente lindo – suspirei.
– Em, você tem que ir ao jogo amanhã! – ela implorou, à beira do desespero.
Dei de ombros.
Não era como se a escolha fosse minha.
Não controlava minha vida social; portanto, não tinha vida social.
Esperava pela faculdade.
Não era como se não estivesse
apreciando a experiência do colégio. Apenas tinha minha própria versão – três variedades de esportes, editora-chefe do jornal da escola, juntamente com a participação nos clubes do anuário escolar, Artes e Francês. Era o suficiente para me manter afastada de casa após o término das aulas todos os dias e algumas vezes durante o anoitecer, quando tinha jogos ou prazos com trabalhos.
Precisava criar uma transcrição ideal para uma admissão com bolsa de estudos. Era a única coisa que sentia que tinha controle, e era honestamente, mais um plano de sobrevivência do que um plano de fuga.

1. inglês Homeroom, é o momento no qual um
professor registra atendimentos e faz anúncios. O conceito é
usado em escolas ao redor do mundo.

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⏰ Última atualização: Feb 26 ⏰

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1# Uma Razão Para Respirar- SÉRIE BREATHING Rebecca DonovanOnde histórias criam vida. Descubra agora