E se tudo der errado?

Demissão

Capítulo 1

Mary

Sabe aquele momento onde tudo que você fez para ser perfeito desanda?
Eu posso sentir esse momento chegar.
Desde o minuto em que ouvi da boca da minha ex-chefe que ela iria se desligar da empresa, eu já podia sentir. Até pelos calafrios em minha pele.

Minhas amigas disseram que eu precisava relaxar, que isso não significava nada de ruim e que eu estava me estressando atoa, mas agora, enquanto caminho até a sala do meu novo chefe, que se mostrou um belo babaca desde o minuto que pisou na editora, tudo que posso fazer é aceitar meu fim de carreira na Books Bridge Company, a empresa que me estagiou antes mesmo do fim da minha faculdade e que acreditou em mim a ponto de me deixar continuar mesmo depois de tê-la terminado há menos de um ano atrás.

O que as pessoas não entendem é que para caras como aquele que agora é meu supervisor, mulheres já não fazem um bom trabalho, ainda mais mulheres como eu que são tão novas e de certa forma inexperiente.

Então sim, eu sei que vou ser demitida, e não, eu não sei o que vou fazer da minha vida depois disso.

Depois do ensino médio me tornei alguém totalmente diferente, mais séria, direta, focada e até controladora.
Foquei todas as minhas forças no trabalho e na faculdade e não saía de casa nem aos fins de semana.
A minha vida se tornou isso e é por isso que minha caminhada até a sala do meu chefe no fim do corredor parece tão longa.

Se olho para os lados vejo o olhar de pena de Dolores, a senhora de cabelo brancos que trabalha na máquina de fax que é tão antiga quanto ela. Ou o olhar de Robert da contabilidade que sempre teve um pé atrás comigo.
Na minha mente, sempre que o olho lhe mostro meu dedo do meio.

Paro de frente a porta, que agora recebe uma plaquinha com o nome de Donald Mark. Que nome de merda.

Bato na porta suavemente e escuto um resmungo partindo de dentro da sala que considero ser um sinal para entrar.

Entro fechando a porta atrás de mim e me sento na cadeira logo em frente à mesa dele.

-- Boa tarde senhor Mark, em que posso ajudá-lo? - Digo com uma falsa gentileza, que para ele é imperceptível já que permanece com a cabeça baixa desde o minuto que entrei na sala.

- Senhorita Romantine. - Ele diz com uma voz áspera, como se raspasse do fundo da sua garganta. Ele é asqueroso. - Serei direto. - Seu sotaque é o mais carioca possível, de duas palavras ditas é como se ele emendasse tudo em uma e se tornasse um eterno murmuro.

Aceno com a cabeça para que ele continue, e então Donald retira uma folha do fundo de sua gaveta e coloca sobre a mesa.
Meu histórico.

- Pelo que consta a senhorita foi contratada como estagiária há mais ou menos três anos atrás, certo? - Ele me pergunta e pela primeira vez olha em minha direção deixando os óculos minúsculos para o seu rosto caírem sobre o nariz enorme esperando minha resposta.

O problema é que essa resposta quase não sai de tanta irritação. Ele sabe que sim, ele já sabe a resposta, só quer que eu responda para ser mais doloroso.

- Sim. - Respondo com firmeza, mas sem me prolongar para não acabar vacilando.

- Bem, sendo assim, não entendo como uma mísera estagiária pode estar no cargo que você ocupa hoje na empresa. - Ele diz lentamente e se não sentisse tanto nojo dele, juro que o esganaria aqui mesmo.

Não vou me humilhar por esse emprego, apesar de ser toda minha vida hoje e ser doloroso ir embora, eu sei meu valor.

- Meu trabalho é qualificado, nunca houve nenhuma reclamação sobre mim, pelo contrário, recebi diversos elogios. Por isso recebi a promoção assim que me formei. - Digo orgulhosa.

- Bom, isso depende do ponto de vista. - O que esse maluco está falando? - Conversei com seus colegas de trabalho e nem todos sentem confiança em seu trabalho.

O que?
Robert.
Filho da puta!

- E é por esses motivos que precisarei demiti-la. - Ele diz enfático, enquanto assina o papel sobre a mesa com força fazendo um barulho irritante.

Respiro fundo, me levanto lentamente e pego o papel da mão dele com força.
Ignoro sua mão estendida para me cumprimentar e saio da sala.

Já estava preparada para demissão, então já esvaziei minha mesa e coloquei tudo no carro, mas não esperava a sabotagem de Robert.
Saio pelo corredor marchando furiosa e quando passo pela mesa de Robert derrubo todas suas coisas, sem olhar para trás.
Ouço as pessoas arfarem de susto e Robert gritar sobre como eu era uma maluca, mas quer saber? Eu nunca mas coloco meus pés nessa empresa de merda.