Bloody Petals - Vampire Knight

Capítulo 32

A brisa fria da noite era realmente reconfortante para sua pele. A lua pairava acima das nuvens escuras e brilhava sobre toda a floresta, dando um brilho suave a tudo. E, no entanto, Zero não conseguia sentir nada, exceto uma dor intensa no peito e um enorme nó na garganta. Ele estava diante de uma enorme clareira no meio da floresta. Ele sabia que eles estavam sendo perseguidos por muitos caçadores. Ele podia sentir a presença deles se aproximando rapidamente. Mas ele descobriu que não poderia se mover mesmo que quisesse. Ele estava olhando diretamente para os restos dilapidados da casa de Kiryuu, que estava localizada no meio da clareira. A casa onde ele morava...

Ele podia sentir nostalgia no ar úmido da noite... sentir as memórias de seu passado enterradas sob todos os escombros de sua casa... sentir o amor paternal que costumava fazê-los sentir-se seguros mesmo quando todos os olhavam com frieza... sentir o aperto em seu peito enquanto suas memórias de infância começaram a inundar sua mente...

Ele sentia falta de sua casa... Ele sentia falta de Shiro e Kara, a quem amava profundamente...

Ele podia se lembrar agora.

Ele podia se lembrar de como Shiro costumava ficar entre eles e as outras crianças caçadoras, como se estivesse protegendo seus filhos de olhares indiscretos e mentalidade distorcida. Ele podia se lembrar dos olhos ametistas afiados de Shiro ficando vermelhos de raiva toda vez que ele ou Ichiru eram intimidados pelas outras crianças. Ou como a expressão de Shiro se suavizava toda vez que eles o beijavam na bochecha... ou como ele ria alto sempre que Zero dizia algo remotamente engraçado... ou como ele dava tapinhas na cabeça de ambos toda vez que voltava de uma missão... ou como ele brincava com eles às vezes quando não estava ocupado... ou como Shiro enrugava as sobrancelhas sempre que eles faziam algo ruim... ou como ele frequentemente os abraçava e se desculpava por tudo...

Zero nem teve a chance de dizer a ele que estava tudo bem... E que ele não estava culpando os dois por se amarem e darem aos filhos o tipo de vida que eles tinham agora... E que ele havia conseguido encontrar seu próprio caminho como caçador e vampiro...

E que ele estava feliz...

Ele podia se lembrar das refeições caseiras de Kara, sua voz severa, mas gentil, e seu rosto sorridente toda vez que os pais iam para casa e o encontravam acordado e esperando. Ele podia se lembrar da semelhança entre ela e seu irmão mais velho, Kaien. Ele costumava dizer a ela que ela parecia uma versão feminina de seu irmão e ela ria disso. Zero conseguia se lembrar de como ela colocava as mãos na cintura sempre que repreendia seus gêmeos… ou como ela olhava para Shiro com amor às vezes… ou como aquela mesma expressão era então transferida para seus filhos… Ele podia se lembrar de seu abraço caloroso e dela beijos em suas bochechas e testa... Ele podia se lembrar de sua presença como se ela estivesse ali... como se ela não estivesse morta há quase onze anos agora...

Zero nem foi capaz de dizer a ela que estava agradecido porque ela deu à luz a ele… E que ele finalmente entendeu porque ela escolheu ficar com Shiro apesar de seu sangue de caçador… porque ele também fez o mesmo com Kaname…

Ele agora podia se lembrar bem deles. Tão bem que ele conseguia se lembrar de seus cheiros, suas presenças, seus rostos... Ele conseguia se lembrar do jeito que eles abraçavam seus gêmeos favoritos... ou do jeito que eles sorriam ou riam das travessuras dele e de Ichiru...

Ele costumava pensar que eles estavam quase sempre em uma missão ou outra porque a maioria das memórias que ele tinha eram de Ichiru... Mas agora ele sabia que não era o caso... Ele sabia que eles quase sempre estavam lá... querendo estar com seus filhos acima de tudo...

E ele estava agradecido por ter vindo para cá...

Zero engasgou e perdeu o rumo quando memórias após memórias inundaram sua mente, como se quisesse ser lembrado. Ele se ajoelhou no chão macio e gramado quando aquelas memórias doces e ainda dolorosas se repetiam dentro de sua mente uma e outra vez.