1. Cordel

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A minha história

Nasci no sertão da caatinga
Ouvindo o vento soprar
Balançando os marmeleiros
E as Folha do sabiá
Foi tudo rapidamente
Que eu não vi o tempo passar

Eu ainda era criança
Ouvindo meu pai convidar
Meu filho vamos à roça
Pra nós poder apanhar
Umas baijas de feijão
E umas abóboras então
Pra sua mãe cozinhar

Quando chegava a tardinha
Mamãe ficava a chamar
Do maior ao mais pequeno
Meus filhos venham jantar
Que as sete horas da noite
O terço iremos tirar

Quando era de manhãzinha
Nós todos a se levantar
E o meu pai sempre dizia
Vá sua cabaça pegar
Pra nós ir para o riacho
A nossa água buscar

Eu já era adolescente
Cedo nós se juntava
Iam todos pra o roçado
E meio dia nós voltava
A tarde repetia o mesmo
E a noite nós descançava

Quando eu fiquei de maior
Eu recebi uma proposta
De morar na capital
Pra mim arriscar a sorte
Mas era imenso o tamanho
No meio de gente estranha
Fiquei com medo da morte

Voltei da cidade grande
E fui morar no interior
Alguns tempos depois 
Eu encontrei meu amor
Vivendo no que é dos outros 
E morando de favor

Fui morar numa cidade
Pras bandas do litoral
Enfrentei dificuldade
Por lá quase passo mal
Agora eu me sinto bem
Estou vivendo normal

Trabalho de construtor
Levantando vila e casas
Acordo de manhã cedo
Vou a batalha sagrada
As cinco horas da tarde
Estou voltando pra casa

Gosto muito do inverno
Ouvindo a chuva que cai
Aquela brisa tão fria
Gostosa e linda demais
As águas todas correndo
Deixando os peixes pra trás

Pescava muito em açude
Era boa a pescaria
Nós pegava muitos peixes
Comidas pra muitos dias
Hoje aqui no litoral
Só tem mar, água e sal
Coisa que eu não conhecia

Eu sinto muitas saudades
Do meu torrão nordestino
Dói muito dentro do peito
Lugar onde eu fui menino
Onde as lembranças traz
Saudade dos velhos pais
Que mexe o raciocínio

Sinto saudade do mato
Do tempo que nós brocava
Cortava o mato e aparava
A madeira do cercado
Aprontava o terreno inteiro
Cercava e depois plantava

A gente limpava a roça
Depois ficava a olhar
As plantas todas no limpo
Sentindo o vento soprar
O orvalho que caía
Deixando as plantas a molhar

Quando chegava a época
De se fazer a colheita
Todo mundo se juntava
Pegavam todos os cestos
Sem depender de ninguém
Todo mundo trabalhando
E todos se sentiam bem

Mas o tempo mudou tudo
Agora está diferente
Todo mundo se afastaram
Moram distante da gente
É difícil até notícias
De alguns sobreviventes

Uns morando para o norte
Outros pras bandas do sul
E eu morando para o leste
Sem notícias de nenhum
Vivo no meio de estranhos
Enfrentando um a um

Eu sinto muitas saudades
De toda minha família
Lembro das festas juninas
E das músicas de quadrilhas
E o povo se reunia
juntava todas as famílias

Dizia um velho ditado
Quando todos vão crescendo
Criam asas e vão embora
Uns dos outros esquecendo
Deixando muitas saudades
No velho peito doendo

Assim eu vou terminar
Toda a minha trajetória
Que ninguém é de ninguém
Senão mim falha a memória
Eu, minha família e Deus na frente
E o fim da minha história.

FIM 

20/04/2023
autor João Sousa

20/04/2023 autor João Sousa

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