Diga Meu Nome • jaywon [HIATOS]

♫ " Por que age como um estranho? "

Segunda-feira. (11:30)

O som estridente do apido do árbitro indicava o fim da partida, os "Águias" saíram vitoriosos, como sempre. E não seria diferente tendo Jay Park como capitão do time. Os garotos riam, gritavam em êxtase e parabenizavam o capitão, este que estava dando tudo de si para escapar disfarçadamente dos atletas que o cercavam, quando olhando aos arredores flagrou alguém muito concentrado em si.

Mais à frente, sentado nas arquibancadas mais altas, encarando os Águias em comemoração – o capitão do time, mais diretamente – estava um garoto apoiado confortavelmente em sua mochila, parecia deveras entretido, apesar de particularmente não ter o menor interesse em futebol, no campo estava aquilo pelo qual fazia questão de assistir os jogos sempre que possível. Na verdade, aquele. Aquele que agora o encarava diretamente, como se o real objetivo do capitão não fosse a vitória em si, mas sim ser assistido por esse alguém em específico, pois é claro, sabia o quanto seu garoto adorava o ver daquela forma grandiosa.

O pequeno observador lançou um último olhar ao jogador, para então se retirar das arquibancadas, descendo as escadas de concreto e indo aparentemente para trás dessas, no espaço mais reservado e escondido daquela arena. Cada passo foi vigiado pelo Park, que entendeu de imediato que era seu momento de sair dali. Aproveitou a distração das Águias com alguma piadinha dita por Jake, seu amigo que assim como Jay, tivera sido um intercanbista que se apegou muito ao país e decidiu construir uma nova vida ali.

Ele conferiu algumas vezes se alguém notaria quando entrasse naquele pequeno espaço antes de fazê-lo. Seria no mínimo embaraçoso tentar explicar o motivo de estar ali.

— Wonnie? — chamou baixinho, vendo o garoto virar-se para si.

Yang Jungwon, esse era um dos grandes nomes da escola quando se tratava de concorrência acadêmica e boa disciplina. Medalhista nas competições de gramática, vice-presidente do grêmio estudantil, exemplo nas atividades extracurriculares, assistente bibliotecário e inúmeros outros títulos que o tornavam alguém amado pela coordenação e respeitado no colégio. Jungwon era impecável, era sensato e firme aos olhares alheios, sem perder a elegância e gentileza de um prodígio. Ele era perfeito, e Jay sabia disso mais que ninguém.

— Belo jogo, capitão. Me impressionou. — seus olhos brilhavam com a luz solar que vazava dos vãos entre os degraus das arquibancadas, e seu sorriso ladino acertava em cheio o coraçãozinho fraco do atleta.

— O jogo? Não vá me dizer que veio por isso. Mentira não combina com você Wonnie, não quando está comigo. — se aproximou do Yang, fazendo um leve carinho nas bochechas redondinhas.

— Ah, é? Por qual outro motivo eu estaria aqui?— Ele não o encarava nos olhos, Jungwon estava completamente submerso à boca convidativa à sua frente.

Jay não respondeu, apenas soltou uma risada nasalada e enfim beijou o outro, que de forma receptiva entrelaçou os dedos finos nos cabelos alheios.

Eles não saberiam exatamente explicar como chegaram ali. Certa vez Jongseong se envolveu em uma briga um tanto violenta com um jogador de um time concorrente, resultando em um olho roxo na diretoria. Foi quando reclamou da dor no rosto e um garoto bonito de óculos redondinhos e cabelos liláses apareceu com uma bolsa de gelo. O garoto fez questão de pressionar o gelo na bochecha do Park, já que sua mão também estava dolorida.

Também precisou dar as caras no concelho para explicar o ocorrido, e é claro que a companhia do vice-presidente iriam dar certa dignidade ao jogador. Após todo o problema ser resolvido, e Jay receber uma breve advertência justificada em sua ficha escolar, ele quis agradecer aquele que o ajudou, então prometeu pagar um sorvete ao outro. Naquela tarde, passaram horas a fio completamente submersos às conversas que tinham, porque de alguma forma mistériosa os dois opostos se encaixavam perfeitamente.

Depois de ambos os garotos passarem semanas arranjando desculpas indiscretas para se encontrarem novamente, foi quando Jungwon se distraia com um livro qualquer na biblioteca, e Jay fingia entender o que aquelas fórmulas embaralhadas diziam, mas com o fracasso veio o tédio, e uma ótima "distração" estava bem ao seu lado.

— Ei Jungwon! — sussurrou, olhando o outro como um cachorrinho pedindo atenção, sem resposta. — Wonnie... — disse arrastado, quase cantarolando baixinho enquanto brincava com a gola da camisa alheia, novamente sem sucesso. Aí veio a ideia de tentar um pouquinho além. Se aproximou discretamente do rosto concentrado do Yang, e mirou em seu alvo — um cantinho perto da boca — onde deixou um selar singelo.

O Park sentiu seu coração parar quando viu Jungwon arregalar os olhinhos brilhantes, pensou em mil desculpas que encobrissem o quão óbvio estavam seus sentimentos pelo outro, e sua situação piorou quando foi diretamente encarado, como se todos os seus segredos tivessem sido revelados. Abriu a boca algumas vezes, na tentativa falha de se explicar, e quando finalmente conseguir pronunciar algum som, foi calado. Agora Jongseong era quem arregalava os olhos, o vice-presidente havia o beijado. Foi rápido, e simples, um selar carinhoso, apenas. Mas foi mais que o suficiente para fazer Jay perder os sentidos.
E depois do primeiro beijo na biblioteca eles apenas viveram suas vidas completamente diferentes, mas que em sigilo de cruzavam até demais.

Tiveram uma longa sessão de beijos, aproveitando um ao outro como sempre faziam, até Jungwon afastar a boca da alheia e encostar suas testas para encarar o americano nos olhos, ainda recebendo o carinho caloroso na bochecha.

— Jay... eu ando pensando sobre algo. — ele desviou o olhar para a grama abaixo de si, ele estava hesitante sobre algo, e isso deixou o outro em alerta. Mas apenas mormurou para que prosseguisse. — Ouvi algumas garotas falando sobre o baile no fim de semana, elas diziam que iriam tentar convencer os Águias para que as convidassem. Em especial o capitão.

Não levou mais de segundos para o jogador entender o que seu garoto estava dizendo. Afinal, ambos eram cobiçados na escola, mas Jongseong era o que realmente posava de galã encantador, enquanto Jungwon mostrava total desinteresse em qualquer um.
Eles estavam tendo algo há mais de seis messes.
"Algo".
O Yang odiava essa questão sobre relacionamento, aquele era um colégio seguro, iriam ser julgados sim, mas nada que realmente interferisse ou fosse prejudial. Então o único motivo plausível para esse segredo, no pensamento de Jungwon, era de que para Jay o vice-presidente era descartável, ou apenas não valia a pena.

— Wonnie, você sabe que meu coração é seu, e que ninguém tem sequer a chance de me conquistar. Ninguém além de Yang Jungwon. — sorriu, e acariou os ombros daquele à sua frente, tentando amenizar a tensão que se criava ali.

— As vezes parece que nem Yang Jungwon tem chances com o grande capitão dos Águias. — enfim voltou seus olhos para os alheios — Por que no meu quarto diz que sou seu amor, se nos corredores age como um estranho? — a situação já havia piorado, o clima romântico e leve de antes não estava mais ali, não para Jungwon, que guardava consigo esses pensamentos há dias.

— Lindo... ainda é difícil para nos assumirmos, envolve muito mais do que apenas nossos sentimentos.

— Mas são nossos sentimentos que deveriam ser realmente relevantes, não acha? — Ele sentiu um choro que ânsiava para sair, ainda mais ao ver a expressão desamparada do outro. Foi quando pensou que talvez estivesse indo longe demais, que Jay estava certo e ele era um grande paranoico dramático. Jungwon se sentiu errado.

— Eu... — o jogador iria argumentar algo, mas antes foi fortemente abraçado pelo garoto à sua frente.

— Me desculpa, eu não deveria ter dito essas coisas para você. — falou em tom abafado, pois escondia seu rosto no pescoço alheio, não tendo coragem de encará-lo nos olhos.

Ouviram o sino escolar tilintar, já podiam ir para casa. O de cabelos lilás se afastou, ainda de cabisbaixo, andou alguns passos para longe. Jongseong não tivera uma reação imediata, ainda processava as palavras sentidas do garoto, que o deu as costas, para então olhar por cima do próprio ombro.

— Te vejo por aí, capitão.