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Nada nunca me pareceu tão estranho, eu gostei daqui, gostei de Hogwarts. Era um dos lugares que eu me sentia seguro, que não precisava ficar fugindo do meu pai o tempo todo. Porque pelo menos aqui, dentro do meu dormitório na Slytherin, eu poderia ser eu mesmo.

Mas agora, tudo que me vem a cabeça são as ruínas, a guerra, a dor e a maldita marca no meu braço que me faz lembrar todos os dias todas as coisas que sempre fui obrigado a fazer.

Eu sei, eu sou Draco Malfoy, um garotinho esnobe e riquinho. Bem, era isso o que eu acreditava ser. Tente me entender pelo menos um pouco, eu era só uma criança, nascida num berço de ouro e que não tinha nenhuma noção do mundo real. Mas eu pergunto a mim mesmo todos os dias, do que adianta tanto dinheiro numa casa que não tem um mísero afeto.

Era só isso que o Draco pequeno queria, um pouco de atenção e carinho, mas meu pai apenas me dava objetos caros e comandos de como eu deveria ser. Muitos se perguntavam do que estou reclamando, afinal eu tenho tudo que quero. Mas não, o que eu queria era a aprovação do meu pai, a única coisa que não tive.

Faz dois meses que ele não é mais o mesmo sabe, depois de Voldemort ter caído todos os seus seguidores fiéis foram parar em Azkaban. E meu pai era um fiel explícito, minha casa a cede dos planos macabros do Lord, tudo isso só contribuiu para ele ganhar o beijo do dementador. Hoje ele é só uma carcaça, sem consciência ou vontade de viver.

Eu me sinto tão culpado, tão mal por simplesmente adorar que ele não possa mais me alcançar. Que eu possa finalmente ser eu e ele não tem mais o poder de nada, nem de me controlar, nem de me obrigar a seguir o que ele acredita e nem de bater na minha mãe por me proteger.

Minha mãe tá tão feliz sem ele, tão melhor e mais viva. Lucius a matava, tirava todo o resquício de beleza e felicidade dela, a deixada tão vazia, como um dementador sugando sua vítima. Mas agora ele não pode mais... não pode mais nos atingir.

Só acordo de meus pensamentos quando meus amigos me sacodem, sentados ao meu lado no banco do trem.

- Draco, você está bem? Está pálido, anda comendo? - Pansy como sempre muito mãe do grupo, costuma querer cuidar de todos nós. Às vezes ela apenas sabe que precisa me acolher.

- O tribunal é em dois dias, meu estômago embrulha só de pensar em parar naquele lugar escuro e frio. Eles vão me encarcerar, essa marca entrega tudo.

Solto de uma vez, não mais guardando minhas dores. Meu pai sempre me ensinou a ser frio, "Mantenha uma barreira em sua volta, Draco". Mas eu não quero ser assim, eu sou uma pessoa, eu sinto e quero sentir! Não quero mais ser um monstro na visão de todos, não quero mais ser só um esnobe sem sentimentos.

Blazio e Theo me olham com pena, sentando ao meu lado e nos esprememos para caber os quatro num só banco. Eles me afagam, me dando um carinho que me é tão reconhecido por eles.

- Todos sabem que você não fez nada porque quis, Draco. Sua marca é até mais fraca, como se tivesse sido colocada sem você querer.

Foi só isso que bastou para eu apagar, mergulhando nas memórias do passado. Isso acontece tão frequentemente, o bruxo medpsico diz que é fruto de traumas muito intensos que não consigo superar, impregnados no fundo de minha mente... um medo espreitando para me pegar.

Então como sombras a forma do dia que recebi minha marca se ergue, a grande sala da Mansão Malfoy, tão escura e medonha como sempre. Me lembro tanto da dor, do amargor, do desespero, como se estivesse acontecendo agora.

- Meu menino, tão bom que venha finalmente se juntar a nós. - A voz tão gélida do Lord das Trevas ecoa pelo ambiente, esse som sempre me arrepia e me lembra de pesadelos, ele surgindo em minha frente enquanto me debato. Mas não consigo fugir, tão agarrado e preso por Greyback e Dolohov.

My SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora