Capítulo único: Anjos ao pó
Não conseguia dormir, olhava para o céu na esperança dele; via apenas estrelas e lua. Minhas mãos estavam enterradas na areia fria da praia, apertava tão forte, que sentia os grãos cortando as palmas de minhas mãos. O mar estava calmo, pelo menos agora. Há duas semanas, quando tudo aconteceu, pensei que não sobraria faixa de areia na praia, mas vendo agora o mar completamente calmo, tenho a resposta de que o homem realmente é o culpado de tudo.
O vento estava mais forte e frio agora, fazendo meu cabelo flutuar e a canga que estava sentada, levantar quase por completo.
- Você vai acabar ficando doente, não acha melhor colocar o meu casaco? - E esse é o Peter, o irmão mais velho de Ian.
- Estou bem e vou ficar bem. - Disse, mas ele sentou ao meu lado, pondo seu casaco cor grafite em cima de meus ombros. - Peter!
- Nós só estamos sentados aqui por sua causa, Alicia. O Ian se foi, ficar aqui esperando ele, não vai trazer ele de volta. - O encarei e recebi o olhar de volta. Peter tinha olhos cor de mel, mas sempre que ficava sério, mudava para preto.
Diferente de Ian, Peter tinha o cabelo loiro escuro, um rosto perfeitamente esculpido por Deus, era mais forte e sempre tinha aquele bronzeado; ele nunca ia à praia. Era charmoso, mas perdia a linha em dois minutos perto de uma mulher, o famigerado canalha. O conheci numa festa, ele estava todo de preto, o que fez chamar bastante atenção pelo contraste que existia, até que eu olhei para além, além daquilo tudo que Peter exalava. Lá estava ele, completamente retraído, dava para perceber que aquele ambiente não era para ele. Ian vestia uma simples camisa de algodão azul marinho com uma calça preta, aparentava ter saído do salão, pois seu cabelo estava cortado e barba feita. Percebi que ele discutia algo com o loiro e mesmo com a música alta, tentei prestar atenção no que diziam.
"-Por que você fica me trazendo para essas festas de adolescentes bêbados? - Disse Ian, olhando para as pessoas esbarrando nele e derrubando bebida em seu tênis.
-Porque você precisa se divertir, ficar naquela mansão não vai fazer você arrumar uma namorada.
-Eu não preciso de namorada, Peter. Preciso ficar em casa cuidando da minha vida.
Tentei chegar mais perto para escutar melhor, mas logo quando olhei para cima, percebi que o loiro me encarava e estava vindo na minha direção. Olhei para os lados para ver se tinha alguma amiga minha por perto para me salvar, mas era tarde demais.
-Então, você quer uma bebida ou quer saber mais sobre a nossa conversa? - Senti meu rosto corar no mesmo segundo. Olhei para ele e ia responder, mas ele saiu, deixando o outro cara comigo.
-Desculpa, não era minha intenção. - Disse para moreno. Coloquei as mãos no bolso da calça para secar o suor.
-Tudo bem, humanos são fofoqueiros. - Humanos? -Ah, eu sou o Ian."
Sinto um calor aconchegante e percebo que caí no sono nos braços de Peter. Aquele sorriso de lado é um deboche que me deixa maluca de raiva. Por que ele tinha que ser assim?
-Você estava dormindo muito bem. -Me afastei dele o mais rápido possível. -Eu não fiz nada, só pra deixar claro.
-Se você está se defendendo sem acusação, já mostra que você fez algo. -Aproveito e jogo o casaco em cima dele. -Algum sinal dele?
-Não. -Seu olhar estava fixo no céu, mas ainda sim, pude perceber tristeza. -Alicia, ele não vai voltar. -Agora ele olhava para mim; definitivamente ele estava triste. Nunca o vi assim. -Quando o Ian põe algo na cabeça, ninguém tira.
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Anjos ao pó
Fantasia"-Nem sempre vamos ter o que queremos para sempre, você já deveria saber disso. De todos esses anos que passei aqui, pude perceber que nada é para sempre, mesmo que eu queira muito, tudo que posso fazer é amar. E eu te amo, por incrível que pareça...