Capítulo I

499 29 0
                                    

Lucy observou, por alguns segundos, o sorriso simpático que a jovem recepcionista mantinha ao encerrar a conta do único quarto em que haviam se hospedado nos últimos dois dias, enquanto realizavam uma missão de extermínio de pragas em Clover Town.

Não exatamente fora de suas expectativas, a funcionária da estalagem não havia estranhado o fato de pedirem um único quarto, assim como nenhum outro trabalhador, dos inúmeros estabelecimentos em que haviam passado nos últimos meses, o fez.

A maga estelar refletia sobre isso enquanto Natsu e Happy se despediam da equipe da recepção com acenos animados, e também durante o caminho para a estação e em parte da viagem de volta para Magnolia.

Ao contrário de tudo que acreditava, a declaração inocente de Natsu de que estava namorando Lucy, feita durante a última entrevista com os magos da Fairy Tail, realizada por Jason, para a Sorceres Magazine, não havia causado grande impacto em sua vida. Ela apenas concluiu, por mais absurdo que lhe parecesse, que todos os que não eram membros da guilda, já presumiam o relacionamento dos dois, dada a proximidade constante que mantinham.

Isso, claro, não podia destoar mais da realidade.

Pois não importava o quão próximos Natsu e ela fossem, ninguém estava tão longe de se relacionar romanticamente quanto eles.

Ainda assim, eles haviam migrado para o status de namorados, após Natsu descobrir que esse era o primeiro passo para que pudessem ter um filho.

Porque sim, ele ainda não havia tirado a ideia da cabeça.

Após aprender toda a parte técnica da concepção de um bebê com Gildarts, o Dragon Slayer presumiu que só precisaria colocar em prática o que havia aprendido no dia que ele e Lucy decidissem que era a hora de ter um. A rejeição da loira foi taxativa, claro, o que fez com que ele corresse de volta para Gildarts no dia seguinte para perguntar o que ele tinha que fazer para convencê-la. O ruivo que tinha o título de mago mais forte da Fairy Tail, passou ao menos uma dezena de minutos gargalhando da proposta desajeitada que o mago do fogo fizera a parceira, mas após se acalmar, sugeriu claramente (porque sutilezas não eram para Natsu, que não entendia certas coisas nem se lhe fossem explicadas em letreiros de neon) que um namoro seria um bom começo.

Se Natsu a pediu em namoro depois disso?

Claro que não.

Ele simplesmente decidiu que estavam namorando, não se preocupando em avisar à maga estelar, que descobriu a perda de sua condição de solteira junto com todos os outros magos da Fairy Tail, ao ler a edição da Sorceres Magazine que havia publicado a entrevista com Natsu e os demais membros da guilda.

Ela tinha certeza que acharia hilária a  confusão que se seguiu, se não fosse a principal atingida.

Claro que ela foi tirar satisfações com o mago do fogo perante toda a guilda,  tentando entender o que diabos passava pela cabeça dele ao dizer, de todas as pessoas, para um repórter de revista de fofoca,  que eram namorados, ou se ao menos ele compreendia o conceito de namoro.

Para sua surpresa, ele respondeu que pesquisou o assunto e percebeu que a maior parte da interação de um namoro básico, eles já realizavam, o que o fez concluir que eram namorados.

A declaração fez com que uma onda de compreensão atingisse as pessoas ao redor, que exibiram expressões de "por que nunca percebemos isso antes?", ao passo que Lucy apenas retornou, atordoada,  para a mesa que dividia com as meninas antes. Seu estado de negação fez com que suas amigas levassem as palavras de Natsu a sério, então logo Mirajane, Kana, Erza, Levy e Juvia fizeram uma lista de coisas que namorados faziam, para ver quantas delas poderiam confirmar.

Preocupação um com o outro? Checado!

Estar sempre juntos? Checado!

Dividir a cama? Checado!

Ver o parceiro tão vestido quanto veio ao mundo? Checado com três "v's" assinalados na frente.

Apalpar áreas íntimas? Inferno, checado!

O que estava fora da lista? Interações românticas, beijos, abraços, andar de mãos dadas e, definitivamente, sexo.

Não que ela tenha mencionado o último, mas tentou usar os demais aspectos ausentes da relação para convencer as amigas, mas tudo que conseguiu foi olhares maliciosos enquanto Erza franzia o cenho e declarava:

— Não sei Lucy. Vocês parecem bastante íntimos para mim. Inferno, muitos casais esperam até o casamento para fazer várias dessas coisas que confirmamos — apontou. — Não é estranho que Natsu tenha interpretado que são namorados, uma vez que ele finalmente entendeu o conceito de namoro.

— Ok, e como eu explico a verdade para ele? — indagou, exasperada.

Os olhares maliciosos em sua direção tornaram-se mais intensos, enquanto Cana se precipitava:

— Para que contar a verdade? Não minta, garota, você tem o Natsu onde sempre quis! Apenas siga com o namoro e ensine a ele o resto!

— E precisa? — Levy brincou, ninando a metade feminina de seus gêmeos. — Pelo que sei, a parte do sexo já está resolvida.

— Q-quem falou em sexo? — Lucy gaguejou.

— Vai dizer que não pensou nisso, quando citou todas as coisas que vocês não fazem? — Levy desafiou, erguendo uma de suas sobrancelhas.

— Espera, não é esse o ponto relevante aqui — Erza interrompeu. — Como assim a parte do s-se-sexo está resolvida? — questionou, olhando para Lucy de maneira obsessiva, seu rosto extremamente corado. Todos sabiam que embora Erza pudesse ser a mais desinibida em alguns aspectos, ainda tinha dificuldade em falar abertamente sobre o assunto com "s".

— Não é o que você está pensando! — a loira garantiu, uma vez que percebeu que Mirajane e Juvia também começaram a encará-la com ansiedade, apenas Cana permanecendo indiferente, com sua bebida e Levy ainda encarando a filha em seus braços.

Isto é, até que percebeu que a maga estelar não diria nada, momento em que a pequena azulada desviou os olhos da bebê apenas para revirá-los, antes de dizer:

— Natsu está insistindo com Lucy que tenham um filho desde que descobriu como os bebês realmente são feitos.

A loira empalideceu e desejou sumir da face da terra quando as meninas começaram a gritar ao redor da mesa, uma vez que não conheciam aquela história.

Ela nem mesmo sabia como Levy conhecia, já que havia guardado aquela vergonha para si mesma.

Para seu alívio, Natsu já não estava por perto, tendo saído minutos antes com vários dos membros masculinos da guilda para uma disputa de força ou algo assim. Ela não sabia o que faria se o mago escutasse uma linha que fosse da conversa safada que se seguiu que, além de tudo, não ajudou com a sua situação.

No fim, ela acabou deixando o namoro seguir, com a desculpa que não sabia como exatamente terminaria com Natsu sem decepcioná-lo.

A verdade?

Lucy estava realmente curiosa para ver se alguma coisa mudaria na dinâmica deles, mas nada mudou realmente no passar dos meses, já que até mesmo o fato de o dragon slayer do fogo insistir ocasionalmente para que fizessem um filho  vinha acontecendo antes que a união se tornasse oficial. Ela sabia que não deveria se sentir decepcionada, mas não podia negar que o sentimento a atingiu minimamente, por  não ter recebido uma gota de romance sequer.

Trazendo sua mente de volta ao presente, Lucy apenas refletiu, enquanto observava o mago do fogo deitado sobre suas coxas, doente com o movimento do trem, que algumas coisas nunca mudariam. Ela ainda se questionava quanto tempo poderia levar adiante um namoro que, claramente, não era namoro, bem como a razão de todos encararem os dois naturalmente, como se olhassem para qualquer outro casal comum, quando evidentemente não eram assim.

Em algum momento entre suas divagações, acabou por adormecer, acordando aos espirros quando Happy decidiu que era uma boa maneira despertá-la esfregando a ponta do rabo em seu nariz.

A pequena crise de alergia, fez com que o exceed e o dragon slayer caíssem na gargalhada, antes que insistissem para que ela se apressasse e deixasse o trem.

Algumas coisas realmente nunca mudariam.

Honey, HoneyOnde histórias criam vida. Descubra agora