Capítulo III

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Lucy olhou pela janela da carruagem, percebendo que a paisagem lentamente se tornava montanhosa. Ela apreciou a vista, assim como o fato de Levy e Juvia estarem envolvidas em sua própria conversa e não exigirem sua participação.

Ela tinha muito o que pensar, e era por isso que havia aceitado (pedido, na verdade) participar de uma missão de última hora com as duas mulheres. Claro que isso contrariava totalmente a sua pretensão de tirar uns dias de descanso após realizar repetidas missões com Natsu, mas quem poderia julgá-la por fugir de seu próprio apartamento diante dos eventos ocorridos?

Naquela manhã, enquanto despertava, a dor de cabeça a atingiu primeiro.

Não era estranha, e antes de abrir os olhos, Lucy sabia que havia bebido.

A questão é que imediatamente um sinal de alerta acendeu em sua mente, pois, ao contrário do que ocorria em suas manhãs de ressaca, dessa vez, ela se lembrava nitidamente de não ter abusado da bebida.

Provavelmente por isso se lembrava também de tudo que veio depois.

A onda de vergonha a atingiu ao mesmo tempo que ela registrou a proximidade do corpo masculino.

Claro, não era anormal tal presença em sua cama, especialmente quando havia álcool envolvido, visto que ela se tornava muito afetiva (Happy zombaria do eufemismo) quando bebia.

O tipo de proximidade em si não era estranho, tampouco a ausência de roupas, dada a natureza peculiar de seu relacionamento com Natsu, mas sim o fato de ela ter ocorrido naturalmente apesar do que fizeram antes.

De alguma maneira, Lucy ainda esperava que algo assim afetaria seu relacionamento para sempre.

A vergonha cresceu, uma vez que o desconforto entre suas pernas tornou-se mais evidente; a última peça do quebra-cabeça de uma cena que se mostrava tão impossível em suas convicções. Era mais fácil acreditar que o fato de estar completamente despida em sua cama, ao lado de um Natsu igualmente nu, significava qualquer outra coisa que não fosse sexo.

Percebendo que hiperventilava, a maga estelar desceu da cama com cuidado para não acordar seu autointitulado namorado, decidida a fazer o que qualquer mulher sã faria na mesma situação: correr para longe.

Não foi realmente fácil achar uma roupa que cobrisse os estragos deixados pelas presas do dragon slayer em sua pele, considerando que seu guarda-roupa refletia exatamente a maneira que gostava de exibi-la, mas ela superou o desafio e apanhou a mala não desfeita da missão do dia anterior, antes de deixar seu apartamento às pressas, sem se preocupar com trivialidades como pentear o cabelo e higiene bucal.

Foi com os olhos arregalados como pires que entrou no salão da Fairy Tail, aliviada pelo local estar praticamente vazio, e caminhou em direção ao quadro de pedidos, que infelizmente tinha a atenção de outras duas magas.

— Lu-chan! Decidiu sair em... O que aconteceu com seu cabelo??? — O desvio entre o que Levy intentava perguntar e o que de fato questionou foi evidente.

Até mesmo Juvia, que estava parada ao lado da maga menor, olhou para a aparência da maga estelar com estranhamento.

— Não tive tempo de arrumá-lo porque eu saí correndo para que Natsu não me visse — explicou, ciente de que aquilo geraria mais questionamentos para os quais já tinha respostas.

— Está fugindo do Natsu-san? — foi Juvia quem levantou o ponto.

— Natsu está me enlouquecendo, me forçando a ir em missão atrás de missão — reclamou, o que não era mentira. — Eu pensei que precisava de um tempo parada, mas hoje eu percebi que talvez precise de um tempo longe dele. Sabe, sair e fazer um trabalho sozinha. De preferência, um trabalho tranquilo — discursou, procurando pela missão que vira no dia anterior.

— Entendo. Eu estava justamente atrás de um trabalho tranquilo para a minha primeira missão após o nascimento dos gêmeos — contou a pequena mulher. — Algo que me permita voltar para casa antes,  no caso de uma emergência — acrescentou, exibindo o folheto que havia escolhido.

Lucy arregalou os olhos ao ver que era, justamente, o pedido de catalogação de livros mágicos que estava procurando. Ela não prestou realmente atenção na maneira que Juvia garantia que Gajeel se sairia bem cuidando dos gêmeos e que Levy não precisaria voltar antes, apenas interrompeu o diálogo para pedir:

— Por favor, deixa eu ir com vocês?!

Provavelmente foi seu olhar obstinado que convenceu as amigas tão rapidamente, apesar do fato de ela ter dito segundos antes que intentava realizar uma missão sozinha. Ou talvez elas apenas tenham percebido que Lucy precisava daquilo para espairecer. E um trabalho que duraria alguns dias em que Natsu não pudesse se envolver era simplesmente perfeito para tanto. O fato de estarem a um percurso de trem e dois de carruagem do seu destino era apenas um bônus que garantia que a doença do movimento — que afligia o dragon slayer — faria com que ele pensasse duas vezes antes de procurá-la.

Por isso, ela se sentiu mais tranquila no momento em que desceram no pequeno vilarejo, que era o destino da viagem, pronta para afundar a cabeça no trabalho e esquecer tudo sobre aquela noite, ao menos até que ela tivesse realmente condições psicológicas de refletir sobre isso.

Porém, não demorou muito para que percebesse que, de tudo, não poderia esquecer.

Foi especificamente no momento em que passavam em frente a uma farmácia comum, perto da praça da igrejinha da cidade, que Lucy sentiu o corpo gelar, ao perceber que havia algo que deveria fazer.

Rapidamente, dispensou as amigas, pedindo que elas fossem na frente, dizendo que havia algo que precisava comprar.

— São absorventes? Eu posso te emprestar alguns — Levy ofereceu.

— Eu vou precisar comprar depois, de qualquer maneira. — A mentira foi convincente o suficiente para que Levy e Juvia decidissem ir na frente.

Quando entrou na farmácia, a loira pegou logo um pacote de absorventes para credibilizar seu álibi. Em seguida, começou a passear pelas prateleiras de remédios, procurando o que realmente precisava, sem estar exatamente certa de onde encontraria, já que nunca havia comprado tal item antes.

O pensamento de que talvez fosse melhor conseguir uma poção mágica passou pela sua cabeça, mas aquilo era uma situação corriqueira, não um incidente mágico.

Mulheres recorriam a farmácias comuns o tempo todo, e não é como se ela estivesse disposta a explicar tudo à Porlyusica, ou encontrar outro curandeiro de confiança.

Não, aquilo certamente bastaria, foi o que pensou quando localizou o que buscava, e apanhou a caixinha de comprimidos para em seguida se dirigir ao caixa.

Honey, HoneyOnde histórias criam vida. Descubra agora