Everything goes - Único

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Inverno

Eu estou com medo.

Continuava correndo floresta adentro, ouvindo-o chegar cada vez mais perto. A garotinha morena corria à minha frente, eu apenas o seguia até que acabei tropeçando em uma raiz.

Céus, aquele era o meu fim.

Gritei em puro desespero ao ver o animal sobre mim, os caninos gigantes, os olhos dourados e as garras enormes que foram em direção ao meu rosto. Gritei ainda mais quando as senti rasgando minha pele. Doía como o inferno.

De repente, o peso sobre meu corpo sumiu, era a garota que eu seguia:

— "Vamos Tom! Levanta e corre!"

Mesmo com a dor excruciante e o sangue atrapalhando minha visão, levantei-me e corri de forma desajeitada.

— "Corra! Corra e não pare!"

E foi isso que eu fiz. Corri e não parei. Mesmo ouvindo seus gritos eu não parei, mesmo quando sabia que ele precisava de minha ajuda eu não parei. Ela iria morrer, mas eu não parei de correr por nenhum momento.

Abri os olhos e sentei-me sobre a cama rapidamente. Buscando oxigênio em grandes lufadas de ar, a camisa de tecido fino que usava estava encharcada de suor.

— "O mesmo sonho de novo, Tom?" — Olhei em direção a voz. Sentado na poltrona perto da janela, a face angelical sendo iluminada pela lua cheia, o sorrisinho debochado que eu tanto odiava estava bem desenhado nos lábios finos.

— "Não te interessa." — Respondi assim que tive certeza que minha voz estava estável o suficiente para tal. Em resposta, sua maldita risada que seria adorável para outras pessoas ou em uma situação diferente.

— "Nós dois sabemos que sim, não adianta negar." — Ela se levantou, andando lentamente em minha direção enquanto falava pausadamente: — "Nós dois sabemos que foi culpa sua." — Ela sentou ao meu lado, sussurrando em meu ouvido: "Ela morreu por sua culpa, Tom. Porque não voltou para ajudar ela? Ela estava gritando por ajuda, pedindo que alguém o salvasse. Você quem deveria ter morrido, ela era uma pessoa boa, seria mais útil que uma aberração como voc-"

— "CALA A BOCA!" — Gritei, cobrindo as orelhas com as mãos.

Ela riu do meu desespero, era divertido para ela me ver assim. Mas mesmo assim eu não conseguia odiá-la, não quando tudo que ela falava era verdade.

— "Ah, não, eu não irei calar a boca. Não quando alguém como você ousa permanecer vivo roubando a vida de outra pessoa. Sabe o que você é, Tom? Um assassino!"

Eu nem percebi quando ela foi embora, muito menos quando as lágrimas começaram a descer por meu rosto e os soluços rasgarem minha garganta. Eu era um assassino, ela estava certa, era eu quem deveria estar morto. Também não percebi quando a luz do sol atravessou as janelas de vidro, iluminando meu estado deplorável, patético.

Depois daquilo eu não consegui dormir, mas mesmo assim não queria levantar da cama. A única coisa que foi forte o suficiente para me fazer levantar foi a lembrança do jardim, das flores que ela amava. Aquelas flores eram as únicas coisas que eu tinha dela, o único motivo que me fazia querer viver. Quando eu estava no jardim, eu sentia como se ela estivesse ali comigo, era meu lugar favorito do mundo inteiro.

Primavera

Antes de descer em direção aos jardins eu vi uma movimentação estranha do lado de fora. Quando eu olhei pela janela vi alguém entrando no meu jardim por uma fenda nos muros. A visão me surpreendeu, quem estaria disposto a atravessar aquela floresta que rodeava todo o terreno, quando a recompensa não era nada além de um castelo em ruínas?

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