𝐴𝑛𝑑𝑦
Desânimo ou questionamentos frenéticos que me deixava exausta.
Eu poderia me considerar responsável pela morte da vovó e dos meus amigos? Obviamente não!
Como eu poderia imaginar quando descobri que esse celular causa a morte de quem recebe a ligação?
De onde veio e desde quando passou de mão em mão? Este item é diabólico! Igual a mim, seu dono anterior deve ter descoberto sua terrível propriedade. Não ousando destruí-lo, ele o colocou no Porto e fugiu, sem dúvida esperando que uma rajada de vento o jogasse no rio.
O azar queria que eu fosse lá naquele dia.
Eu poderia me livrar dele da mesma forma, mas alguém o encontraria e novamente o telefone mataria.
- É monstruoso - murmuro me ajeitando no sofá.
Alexia e Ítalo vieram me ver várias vezes. Essas visitas não apaziguavam minha dor. Pior, eles o afiaram. Era insuportável vê-los juntos quando eu vivia apenas entre a tristeza e o remorso.
E então, não percebi um pingo de sinceridade em Alexia, ela veio por pura conveniência.
Ítalo, por outro lado, tinha sido muito próximo a mim, até atencioso, e, ao sair, ele me beijou delicadamente na testa. Além disso, ele voltou para me ver. Sozinho, sem Alexia, como eu tinha uma expressão de surpresa, ele respondeu.
- Eu queria ver você. E então, ressalto a você que Alex e eu não somos casados! Só peço que não diga nada a ela: ela está com um ciúme doentio.
Ele parecia tão envergonhado, comecei a rir. Fazia semanas que não conversava com ele a sós.
Eu estava vivendo um sonho real: o belo ítalo estava parado, sorrindo, na entrada da porta.
- Entre. - Eu disse a ele. -Prometo ser discreta. Será o nosso segredo!
O encantamento durou pouco. Naquela mesma noite, minha mãe bateu na porta de meu quarto. Ela me entregou o telefone.
- É a Alexia.
Desconfortável, eu peguei os fone.
- Alô?
- Oi.
A voz de Alexia era fria. Houve um silêncio e ela retomou.
- É melhor você se aproximar do Ítalo, vadia!
- Mas, eu... - tentei protestar.
- Não seja hipócrita! Eu o vi voltar da sua casa e tivemos uma discussão. Coloque na cabeça que ele não se importa com você! Você acha que eu não sei que gosta dele ? Já falamos bastante sobre isso! Estou cansada de seus ares de Santa sacerdotisa! Estou cansada de você bancar a viúva chorona para roubar meu namorado. É completamente inútil!
Eu não sabia o que responder, desestabilizada por aquela onda de raiva, por aquelas palavras que se cravavam como agulhas me machucando.
A pérfida alusão à morte da vovó era demais. Eram palavras mesquinhas e gratuitas.
Eu estava prestes a responder quando Alexia desligou a chamada brutalmente. Lutando para controlar minha fúria, levo o telefone de volta para a sala e depois volto para o quarto.
Uma raiva surda tomou conta de mim. Embora sejamos amigas por muito tempo, Alexia sempre teve uma atitude condescendente em relação a mim. Me deixando entender claramente que ela era a mais inteligente, a mais bonita, a mais atraente.