#001: As Garotas e o Mentiroso

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29 de Abril, 2023.

Eu não costumo sonhar, isso é fato, porém quando acontece é pertubador e gráfico, porém dessa vez foi diferente.

Eu acordei em uma casa, paredes brancas amareladas, a textura da parede deixava claro que ela não foi pintada por um profissional, muito menos preparada para tal pintura. O chão era feito de tacos, com uma coloração escura, alguns mais gastos e arranhados que outros, eu estava deitado em um colchão, quando me mexia as molas rangiam, minhas mãos amarradas de maneira desleixada, era visível que quem me amarrou não tinha experiência, não foi difícil me soltar.
Era possível ouvir algumas vozes ao fundo, garotas, eu diria entre as idades de 15 a 17. Havia alguma mobília de madeira escura, apesar da aparência velha elas não tinham poeira, significava que era habitada por alguém, cheguei até um espelho velho, ele não tinha nenhum tipo de moldura e havia uma rachadura grande que passava bem no meio dele, quando meu foco se voltou a mim eu percebi que minhas roupas não eram algo casual, eu estava vestido como se estivesse pronto para uma apresentação, roupa social e coturno preto, minha adorável gravata preta estava completamente bagunçada, mais um indicador de que não tinha sido eu quem havia colocado aquelas roupas. Meu primeiro pensamento foi procurar minha máscara, não parecia estar em nenhum lugar no cômodo, meu segundo pensamento foi arrumar minha gravata, se seria meu fim eu pelo menos deveria estar bonito, eu não aceitaria morrer feio e desarrumado.

Andando mais pelo cômodo eu percebi que era como um quarto de hóspedes, porém o colchão onde eu estava deitado era extremamente velho, o estado era deplorável. Havia alguns livros sob uma das cômodas, e ao lado um relógio digital de mesa, era um tanto quando estranho um item tão, "futurista", ao lado de toda aquela mobília antiquada. Os livros eram todos de capa dura, me pareciam contos mais clássicos, porém não consegui reconhecer nenhum dos nomes. Sem muito mais oque observar eu saí do quarto, para minha felicidade a porta estava aberta, me deparo com um corredor e 3 portas, em uma das pontas do corredor havia um relógio antigo, segundo o relógio digital ele estava uma hora atrasado, na outra ponta dava em uma sala de estar.
Minha tentativa de abrir as portas no corredor foram em vão, nenhuma delas estava aberta, então prossegui até a sala de estar. O sofá era relativamente novo, uma tv de 32 polegadas fixada na parede, algumas decorações no rack e uma pequena mesa de centro feita de madeira. Não havia nada que me chamasse a atenção em particular a não ser um celular carregando, parecia um LG mais antigo, a tela completamente quebrada, porém parecia funcionar, o plano de fundo da tela de bloqueio era duas pessoas e um cachorro, chuto que seja um casal, ambos pareciam ter entre 16 a 18 anos.

As vozes das garotas estavam mais altas, vinha do cômodo ao lado, seguindo o padrão elas estariam na cozinha. Eu não tinha nenhum armamento, mas não acreditava que seria necessário lutar, eram garotas afinal, elas costumam ser bem mais razoáveis que garotos.
A porta da cozinha estava aberta, elas se surpreenderam com a minha presença, mas a primeira coisa que eu percebi foi a minha máscara ao lado de uma frigideira cheia de comida, e uma das garotas ajoelhadas no chão mexendo nessa panela. Foi nesse momento que eu cheguei a conclusão de que eu não sabia oque tava acontecendo e a pior parte de tudo isso era me sentir alcoolizado em uma situação onde eu estava vulnerável, e que eu definitivamente não deveria estar alcoolizado. Devo ter esquecido de mencionar essa parte, porém eu me sentia levemente alterado desde de que havia acordado, oque era estranho. Outra coisa estranha eram as páginas impressas de vários livros, incluindo meus cadernos de pesquisa, no chão.

Havia cinco garotas, uma delas usava "Twat" e algo mais como nome, ela parecia ser a líder das garotas, e pelo pouco que tinha ouvido pelas paredes elas estavam fazendo algo que elas nomeavam de "O Ritual da Pimenta", onde se fazia uma oferenda com pimenta, alho, cebola e farofa e dava para um espírito que supostamente abriria as portas entre planos, esse espírito era conhecido como "O Porteiro". A Twat tinha um livro grosso em suas mãos, ele tinha capa escura e estava aberto em uma página específica, acredito que tenha sido dali que elas haviam retirado o ritual.

As garotas ficaram em silêncio enquanto eu processava oque acontecia, e logo após eu tentar me aproximar da minha máscara uma das garotas resmungou sobre o ritual não estar dando certo. Assim que alcancei minha máscara eu pude sentir os olhos delas voltados a mim, como se eu tivesse respostas para suas perguntas, então a Twat finalmente disse algo.

"Porque não está funcionando?" Ela estava séria, quase brava, e por algum motivo eu realmente tinha algo pra falar.

"O Operador é algo que sempre está a frente, para abrir uma porta é necessário conhecer todas as outras, conhecimento é a chave." Saiu tão naturalmente da minha boca, a parte de mim que entendia que era um sonho se perguntava oque isso significava.

"Como assim?" Ela parecia um pouco confusa, porém minha reação foi rir, ela então me deu um tapa e fazia a mesma pergunta, mas por algum motivo nem mesmo eu entendia oque aquilo significava.

"Ele cheira a bebida, ew" Uma das garotas reclamava.

A Twat então resmungava algo, pegava um dos meus cadernos, lia algo e voltava a prestar atenção no que eu assumo que seja um grimório.

"Ele tá bêbado?" Outra garota perguntava.

"Não tô" Prossegui quase caindo nos degraus que separavam a sala da cozinha enquanto tentava sair de costas.

"É ele tá bêbado" A tal de Twat dizia e logo voltava seu foco ao livro.

Minha falha tentativa de sair apenas fez com que uma das garotas me prendesse por trás, me segurando, parte de mim sabia que elas queriam que eu assistisse seja lá oque fosse acontecer.

Eu não pude ver oque acontecia, afinal acordei antes, mas me pergunto oque isso significava, e mais importante, quem é Twat? Todas as garotas ali me conheciam, me conheciam tanto que pegaram meus cadernos de pesquisa.
Normalmente eu sou a pessoa que responde as perguntas, mas dessa vez quem precisava de resposta era eu.

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