Intromissões

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Carolyna Borges Point Of View.

O jantar transcorreu lentamente, em uma espécie de tortura psicológica para mim. Christopher dialogava educadamente com Thomas, que fumava seu charuto escocês, soltando as lufadas de fumaça pelos lábios grassos, em meio aos sorrisos falsos e forçados. Reuniões de negócios eram sempre assim, um querendo engolir o outro, se sair melhor, ter a melhor proposta, mas no final sempre fechando um acordo. A falta de paciência naquela noite me fez permanecer calada durante o jantar inteiro, exceto para breves trocas de palavras com meu marido, que por sinal parecia ter percebido minha irritação. Christopher me fitou por breves segundos, e repousou sua mão sobre minha coxa, acariciando de leve. Eu nem sequer me movi, continuei degustando o vinho tinto que preenchia minha taça em cristal fino.

-Muito bom esse restaurante Collins.

- Thomas falou bem humorado.

-Eu também adoro. Foi aqui que pedi minha esposa em casamento, não é meu bem?

Soltei um sorriso amarelo, e com leveza retirei a mão de Christopher de minha coxa, repousando a mesma sobre a mesa. Ele engoliu em seco, me fitando com os olhos semicerrados.

-Exatamente. Boas lembranças daqui.-me permiti falar.

-Imagino que sim.

Talvez aquela fosse uma das poucas interações minha naquele jantar. Eu estava de mau humor, irritada, furiosa melhor dizendo. Antes de sairmos da

Collins Enterprise, Christopher teve a "brilhante" ideia de dispensar os serviços de Priscila, Dando ordem para que ela fosse embora em meu carro, e levasse a secretaria em casa antes de devolver o veículo para nossa garagem. Eu deveria dizer o quanto aquilo me irritou? Ver o sorriso da agente ao conduzir a miserável secretaria para saída me causou um súbito estalo de ira Mas eu sabia muito bem meus limites, e onde posso chegar.

Na volta pra casa eu permaneci calada, como no jantar. O nosso motorista conduzia o veículo em uma velocidade alta, de acordo com minhas ordens. Ao meu lado, Christopher se mantinha quieto, enquanto fumava um de seus cigarros. Ele fitava os prédios do lado de fora, em um olhar distraído, quase perdido. Quando respirou fundo, e virou-se em minha direção.

-Posso saber o motivo de estar assim?

Deixei que meus olhos saíssem das imagens de fora do veículo, e pousassem sobre a expressão confusa de Christopher. Ele me fitava com aquele par de olhos azuis intensos, espremidos por suas pálpebras apertadas. - É por conta do seu carro? Porque deixei Priscila usar ele?

Antes fosse por isso, Imaginar aquela secretaria aos beijos com Priscila no meu carro me causava raiva.

-Obvio! Por que mais seria?

O homem rolou os olhos impaciente, levou o cigarro até os lábios dando um último trago antes de apagá-lo no cinzeiro à direita. Ele meneou com a cabeça lentamente e me fitou.

-Qual o problema disso? Ela veio dirigindo para você, não?

-Sim! E por conta disso você vai disponibilizar o meu carro para ela levar a sua secretariazinha em casa?

-Falei, dando certa ênfase nas palavras "meu carro" e "secretariazinha"

Christopher abriu um sorriso, ainda com os olhos fixos em mim. Franzi o cenho em sua direção, sendo tomada pela confusão daquele momento, Porque diabos ele estava rindo?

-Então é isso? - perguntou ele em meio a uma risada alta.

-Isso o que? - meu tom de voz revelava o quão irritada eu estava.

-Está com ciúmes de mim com Clarice? Está irritada desse jeito porque mandei deixá-la em casa? Eu tentei formular uma frase diante daquela ideia estúpida de Christopher, mas sabia que a verdade não era bem vinda ali. O que diria meu marido ao saber que meu incômodo não era por ele, e sim por Priscila?Creio que não daria muito certo. Fechei os olhos, e meneei com a cabeça em um sinal negativo.

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