único;

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Castiel cambaleava pelos becos sujos e malcheirosos daquela cidade esquecida, onde até mesmo o próprio Diabo havia largado de mão, por horas que aparentavam semanas. Deixava-se levar por devaneios sem sentido, suposições formavam-se em sua mente conturbada, pensamentos febris tomavam forma e em meio aos tropeços em sua própria sombra, ele continuava a caminhar. Guiava-se a lembrança de um sol inexistente que havia desistido de categorizar os momentos de um dia. O cinzento céu se tornara um amigo em comum, as cores à sua volta despediam-se, ou melhor, o repudiavam como o ser indigno que era. A atmosfera ganhara o poder de traduzir com exatidão o que se passava por dentro de seu tão amargurado cérebro.

O vinho barato em suas mãos já estava no fim. Não fazia ideia se estava entre sua primeira ou sétima garrafa. A bebida estava quente e o teor alcóolico era alto. O líquido descia como milhões de pequenas agulhas por sua garganta cortando tudo o que viam pela frente numa tortura lenta e agonizante. Mas aquela dor não era nada comparada ao que sentia, nenhuma dor podia se equiparar ao sofrimento de seu coração.

Ainda que clareza fosse a última coisa que havia em sua mente naquele momento, ele se arrependia de tê-la conhecido, tê-la deixado entrar em sua vida e ainda por cima, arrependia-se de ter se apaixonado fervorosamente por ela. Ele jamais a mereceu. Foi tudo culpa dele... Não, a culpa foi dela.

Castiel esbarrou em um grupo de homens mal encarados enquanto continuava a andar sem um rumo pré-estabelecido. Lembrava de todos aqueles momentos, os dias em que passou com ela, os sorrisos angelicais que recebia da menor que sabia não ser merecedor, mas mesmo assim usufruía. Foi o responsável pela corrupção de um anjo, estragou uma figura imaculada. Deveria ter se afastado enquanto podia, deveria ter negado sua presença, deveria ter fugido dela para sempre. Ela merecia apenas o melhor. Foi tudo culpa dele.

Castiel fora tomado por uma raiva tão profunda que impulsivamente havia jogado a garrafa vazia de vinho antes em sua mão na cabeça de um dos caras que haviam passado por si. Precisava descontar em algo, em alguma coisa, em alguém. Não tinha mais uma vida, ela fora arrancada a força de si, nada mais importava.

Mesmo depois de tantos socos, chutes e pontapés, não era capaz de sentir nada. Estava anestesiado por uma dor muito maior do que qualquer dor física. Quando se deu conta, sua visão escurecia e sua consciência se esvaía.

...

— Cassy, da pra parar de ser escroto por um segundo? — Catherine, que estava sentada no sofá destruído da garagem, falava enquanto continha uma risada e se preparava para jogar mais uma almofada suja e poeirenta no rosto de Castiel. A garagem da casa do maior havia se tornado um lugar aconchegante para Catherine, ali ela era verdadeiramente feliz mesmo que Castiel tivesse como hobby encher sua paciência.

— Já disse que aqui emo não pode opinar, perguntar, pedir nada, Cathy. Nem sei porque eu te trago aqui, você desonra toda a palavra do metal só com sua presença. — Castiel, que sorria enquanto desviava do ataque de almofadas de Cathy, estava com sua guitarra em mãos enquanto um caderno rasgado e cheio de rabiscos era equilibrado em sua coxa. Ele jamais admitiria isso em voz alta, mas amava estar acompanhado dela em seus ensaios. Catherine já era sua fonte de inspiração há tempos, só ela que ainda não sabia.

— Se eu estou te pedindo alguma coisa é porque você deu alguma brecha, idiota! Eu ouvi você falando pro Lys que tinha escrito uma música nova, sabe como eu me senti? Traída! Nunca escreve nada e quando o faz sou a última a saber? Injusto. — Catherine apontou para Castiel numa forma de acusação. — Ah! E cala a boca que eu sei que você escuta My Chemical Romance escondido, tá.

— Você é a garota mais fofoqueira que existe. Ouviu minha conversa com o Lys porque, hein? Se eu falei pra ele não era pra você saber... E deixa o MCR fora disso. — Castiel riu nasalado ao ouvir a risada contagiante de Catherine.

all your fault | castiel veilmont x oc (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora