Olhos vermelhos (original)

Prólogo

O tempo nublado anunciava a chuva que viria. De dentro da livraria, o sino pendurado na porta tocou novamente, indicando que outra pessoa havia chegado. Uma garota de baixa estatura perambulava entre as prateleiras, buscando algo que a chamasse atenção. Não demorou para que um amontoado de folhas amarelas revestida de uma couraça amarronzada excluísse todos os demais livros de seu campo de visão. Ela o folheou, encantada pela aparência. Ele sequer possuía um título em destaque, mas em sua última página, ali estava escrito no canto da folha: "olhos vermelhos", como se realmente tivera sido escrito a mão, assim como todo o livro.

Um chá de ervas para acompanhar a breve leitura que ali foi iniciada, juntamente com as primeiras gotas de chuva que beijavam a janela. As palavras pareciam flutuar do livro, uma possuía uma linguagem pessoal e direta, que aparentava se conectar com a leitora.

Antes de precisar voltar para casa, por conta da hora avançada, a jovem procurou mais algum livro do autor, mas nada encontrou escrito por Mensratio¹. Após a pequena decepção, ela se direcionou ao balcão de madeira da pequena livraria, para pagar pelo livro que escolheu, sendo recebida com um sorriso pelo balconista.

"Um único livro? O que houve com a Grace que eu conheço? "

"Para tudo tem uma primeira vez. " Grace sorriu simpática, enquanto o jovem entregava o livro embrulhado "Obrigada, Marcos! "

A garota era uma cliente frequente da loja e criou um vínculo de amizade com o garoto, que por sua vez ajudava todos os dias o avô a cuidar da velha livraria.

Ao voltar, Grace não parecia se importar com a chuva que continuava a cair, andava lenta e despreocupadamente. Era o primeiro dia deste que saiu do ensino médio, estava disposta a aproveitar cada momento antes de finalmente ir para a faculdade, seus pais estariam orgulhosos dela. A faixada de sua casa ao longe foi avistada, então precisou respirar fundo antes de continuar seu caminho. Aquele lugar a trazia muitas memórias. Percorreu todos os cômodos escuros, ao entrar, indo até seu quarto.

Seu coração estava acelerado, tudo que queria era voltar a ler e esquecer tudo o que estava acontecendo. Com pressa, jogou-se na cama e abriu o livro que acabara de comprar. Não sabia bem o conteúdo de sua atual leitura, mas tinha a consciência de que era voltado a seres fantásticos, não havia descrições detalhadas, contudo, não interferia em sua imaginação.

Até o momento, o livro acompanhava uma garota que conheceu um homem-lobo, Dylan e, o preferido da leitora, Thomas, um ser misterioso de asas. Ambos eram personagens simpáticos e amigáveis, mas Thomas era uma criatura misteriosa que todos desconheciam suas habilidades. Houve poucas citações ao ser de olhos vermelhos a quem todos temiam durante essas poucas horas que Grace dedicou-se a esquecer o mundo real, sabia-se apenas que ele destruía a tudo e todos que encontrasse, seu sinal era o brilho dos olhos, antes que mais nada existisse para contar história.

" Não podia acreditar no que eu estava vendo. Na escuridão da noite. Aqueles olhos me perseguiam. Olhos vermelhos como o sangue brilhavam na escuridão. "

1. Mens-ratio: do latim, sistema mental.