Imagina que cena feliz

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Aquilo era idiotice e Tweek sabia disso. Mas nada nem ninguém no mundo poderia impedi-lo de se atirar pela janela, de encontro ao outro plano, onde ele nunca mais teria que olhar para a cara de cu azedo de seu ex, Craig Tucker, o bundão mais egoísta e sem coração que o loiro conhece.

E por que comer tal ato se o imbecil não vale a pena? Nem o próprio Tweek sabia! Quer dizer, ele mal sabe como chegou ali, de pé no parapeito. Não tem nem ideia do porquê aquela velha burra que morava ali o deixou subir. Deve ser porque gosta muito dele, afinal está sempre reclamando do gosto de piche que tem o café da Tweek's Broo Coffe. E que se foda ela também! Tweek só quer que todos morram. Inclusive ele mesmo.

A brisa que vinha dali fazia seus cabelos ficarem ainda mais arrepiados e batia no rosto tão áspero quanto o tom de voz de Craig ao bater a porta. E o motivo da briga não fora porque Tweek havia tomado o seu lado da cama, nem porque o fez deixar o picolé derreter para ficar escutando-o reclamar da vida. Não foi nada disso. Foi discussão séria, com direito a xingar a mãe do outro e tudo. Aquilo nunca tinha acontecido antes e com um grito daqui, uma grosseria dali, foi a vez de um ponto final no relacionamento. Dizem que 3 anos não acabam em 3 minutos, mas foi isso o que aconteceu com eles.

Tweek ficou arrasado. Ele nem sequer pensou em reavaliar a briga para ver se realmente valeu a pena, repensar nas palavras, se havia exagerado. Apenas sentou na cama, encarando fixamente onde o ex-namorado deu meia volta, pisando duro. Nenhuma lágrima nos olhos. Nenhum tique. Só o rosto pálido como quem viu um fantasma e o coração prestes a sair pela caixa torácica. As palavras duras proferidas pelo moreno reverberavam por todo o seu crânio, como aquele disco arranhado do Elvis que eles guardavam na Caixa do Amor de Tweek & Craig, bem ao lado da torre de blocos de montar, próxima a sua garrafa térmica de café que ganhara do dito cujo no dia dos namorados.

Mas nada daquilo importava mais. Tweek já estava decidido. Ele até escreveu um testamento; deixaria todos os seus bens ao Stripe, incluindo todas as cartelas de adesivos que estivera juntando desde o pré, seu uniforme da cafeteria dos Tweak e por último, mas não menos importante, deixara para ele uma conta no banco para poder se sustentar e pagar a faculdade de porquinhos da índia. Ah, eles crescem tão rápido! Era uma pena que o loiro não iria acompanhar o primeiro dia de aula dele. Mas de certo esperava que o outro pai desnaturado pagasse todas as pensões e ai dele se vier tomá-lo para si! Tweek voltaria como alma só pra comparecer ao tribunal pra brigar pela custódia do bichinho. Foda-se que ele vai ter batido as botas! Tem consigo a nota fiscal da loja de animais!

Balançou a cabeça, afastando aquela cena da cabeça. Olha só como ele é ridículo. Olhou para os pés e desviou rápido; era muita pressão. Todas aquelas pessoinhas lá embaixo, vivendo suas vidinhas. Chegara a hora. Tweek abriu os braços como Rose em Titanic e anunciou, para si mesmo:

— Adeus, mundo cruel! — e tapou os olhos com o antebraço, levantou o pé e caiu na real. Puta que pariu. Que merda que ele 'tava fazendo?! — PUTA QUE PARIU — se agarrou no parapeito atrás mas pisou em falso. Ficou suspenso no ar e começou a bater os braços. Parecia uma galinha tentando voar.

Craig chegou ao térreo um pouco antes. Parou, olhou seu cabelo no espelho que tinha no hall; estava todo desgrenhado mesmo com a touca e precisava de uma boa lavagem com shampoo e condicionador de mandioca. Daí ele lembrou que não tinha e de jeito nenhum que pediria pro ex-namorado emprestado. Ia ter que se contentar em usar o antiqueda de seu pai. Ao menos evitaria a antecipação da calvície.

Suspirou. Fez festinha num cachorro que passeava com o dono e conversou um pouco. Sua mente estava vazia, como se tivesse colocado tudo pra fora na briga, nos gritos, nas palavras duras direcionadas à Tweek. Mas ao invés de sentir-se leve como supostamente deveria, o moreno andava se arrastando, o coração pesado no peito.

Oitavo andar | Creek!Onde histórias criam vida. Descubra agora