Capítulo 1: O menino da Lua

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"Urrup..."

"...Urr..."

Tudo está embaçado e a atmosfera pesava, sinto meu corpo se contorcer com a dor eminente de dois corações despedaçados, encostado no peito de Guilherme naquela noite trágica suspiramos sabendo que aquela seria nossa última noite, juntos.

Um amor de duas pessoas do mesmo século na década de 90 é considerado abominável. Brasil um país de tantas culturas e cores, ainda se restringe à falácia tradicionalista da massa.

Infelizmente não podemos ter nosso final feliz nessa década.

O vento sussurrava segredos entre as janelas, como se a própria natureza lamentasse nossa sina. Guilherme e eu, dois corações queimando em silêncio, sabíamos que estávamos à margem do que era aceitável. Nossos olhares se encontravam, desesperados por um futuro que não nos pertencia.

Naquela noite, o céu estava repleto de estrelas, como se cada uma delas fosse um testemunho silencioso de nosso amor proibido. Os beijos roubados, os abraços apertados, tudo era intenso e fugaz. A década de 90 nos via com olhos julgadores, e o Brasil, apesar de sua diversidade, ainda se curvava à rigidez das tradições.

Nossa paixão era como uma flor rara, nascida em solo árido. Não importava o quanto nos esforçássemos, não poderíamos escapar das amarras do tempo e da sociedade. A cada toque, a cada riso compartilhado, sentíamos o peso da despedida iminente.

Guilherme me olhou com tristeza, seus olhos castanhos refletindo a mesma dor que eu sentia.

— Vamos dar um jeito... Henri... — Guilherme me ajeitou abraçando mais forte — Por favor não chore...

— Gui... Amanhã estaremos a quilômetros de distância e mesmo que eu te ame com todos os poros do meu corpo, eu sei que não suportaremos... Gui você irá virar um ótimo marinheiro e chegará no seu tão sonhado cargo de General da Marinha, e eu estarei aqui quando você voltar... Cuidando das crianças... Como eu sempre quis... Temos destinos e objetivos diferentes, Gui.

Este é o erro. Amor e paixão, são duas coisas destinas e nenhuma delas podem mudar nosso futuro. Guilherme foi abençoado com tudo tem de melhor em um homem, ele é alto, esbelto, bonito de nascença e melhor de tudo, entrou para Marinha do Brasil, em um cargo muito prestigiado. Tal que podemos citar seu treinamento militar que melhorou todo seu condicionamento físico, inclusive seu pacote 6 por 4 é uma das coisas que eu mais amo. Já eu, sou apenas um recém formado em pedagogia dando aula no ensino fundamental da escola pública de Copacabana. Temos vidas e status sociais diferentes, mas mesmo assim, singelamente o amor nos uniu mesmo sabendo que isso um dia acabaria.

Duas lágrimas se cruzaram, elas são destinas, mas em silêncio carregam o peso de um término. Naquela noite, olhando para aquele céu que chorava junto conosco, beijei Guilherme como uma nota musical letal que rasga o peito de dor. Guilherme é a causa da minha melhora e aperfeiçoamento, eu melhorei e mudei por ele.

"Eu quis ser melhor por você, Gui... E agora tudo isso significa, nada".

Embaralhados juntamos as nossas mãos pela última vez.

"BOOM!"

A porta do apartamento foi aberta bruscamente, o sujeito entrou gritando e fazendo um alto barulho por toda extensão.

— Pai! — gritei ao ver o mesmo jogar o vaso pelo chão.

— Então é verdade o que estão falando? Você é isso mesmo que eles estão falando Henrique!? – ele gritou. Estremeci dos pés à cabeça.

Até que o amor nos encontre novamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora