Só se vive uma vez - Joerry

Capítulo único

– Você já pensou em como a vida parece insuficiente pra tudo que podemos viver?

Era uma das noites "históricas" de Cherry e Joe: A noite em que iam para algum bar encher a cara e falar bobagens sem sentido. Acontecia no máximo uma vez ao mês, visto que saiam realmente tortinhos do local e não achavam saudável ficar assim com frequência. Dessa vez, escolheram um bar alternativo. O responsável pela iluminação do local era um led azul forte, que arroxeava o cabelo rosa de Cherry, bem como escurecia o cabelo verde de Joe. O local também era vazio de madrugada, que era o horário que sempre compareciam aos bares. A própria coloração dos sofás era azul do mesmo tom do led. Aos olhos de quem visitava, quem estava sentado parecia flutuar. Tinham poucos garçons nesse horário, e estes só apareciam quando eram chamados. Tocava música em um volume considerável, mas eram sempre tranquilas. Ouvidos atentos poderiam dizer facilmente que a playlist era perfeita para compor uma sexlist. Além disso, haviam vários desenhos nas paredes de plantas alucinógenas, mulheres nuas, arte abstrata, enfim. O local realmente parecia uma alucinação, o que talvez tivesse ajudado para o assunto que Joe puxou quando estava no que provavelmente era seu sétimo copo, às 2 da manhã.

– Me explica isso melhor – Cherry entrava na onda, não importa qual assunto seu melhor amigo puxasse. Afinal, estava tão bêbado quanto.

– Presta atenção, Cherry – ele circula a borda do próprio copo com um dos dedos. – Existe tanta coisa aí fora... Tantos lugares pra visitar, hobbies para ter, objetos de valor legais, experiências...

– Amores, prazeres... – Cherry completou sem olhar diretamente para o rapaz. Estava são, mas tonto. Gostava de observar a pintura das paredes se mexendo no local azul escuro.

– É, são tantas coisas... Pra tão pouco tempo... Nunca desejou mais, Cherry? Viver mais, dançar mais... ter mais experiências... Porra, se não houver outra vida, essa tu viveu?

– É, acho que estamos desperdiçando tempo...

Cherry então se levanta de seu sofá, afasta os copos e se deita na mesa, olhando em direção ao teto. Não tinha uma alma viva naquele bar e os garçons ali não passavam de um mito, então ninguém chamaria sua atenção no fim das contas. A mesa, que era encostada na parede, também era grande o suficiente para que Cherry precisasse dobrar seus joelhos minimamente.
Joe repete o ato de seu melhor amigo, deitando-se ao seu lado após terminar sua bebida. Os copos de vidro já haviam ido parar em outra mesa. Agora eram apenas os dois deitados em uma grande mesa nos fundos de um bar, admirando as mulheres nuas desenhadas de forma abstrata no teto.

– Cherry?

– Fala.

– Já experimentou ficar com outro homem antes?

O de cabelos longos ficou pensativo. Suas íris douradas pararam um pouco de rolar as imagens bem feitas a sua frente, focando apenas em um ponto específico. Levou alguns segundos até que respondesse.

– Não, mas já pensei em fazer-lo. Por que? Você já?

– Não...

– Entendi.

Os dois ficaram em silêncio novamente. Fecharam os olhos quando uma música que ambos gostavam começou a tocar.

(No idea - Don Toliver)

– Cherry?

– Fala.

– Nós dois estamos um pouco alterados pela bebida agora. – Ele abre os olhos e vira o rosto para seu melhor amigo, que faz o mesmo. – E novas experiências são apenas mais uma fase da vida... – Joe agora encarava os lábios do mais baixo, e percebe que ele faz o mesmo consigo. A tensão entre os dois era tão grande que parecia palpável. – Não são?