Do autor de "Amor otário amor" e "cartas para anna"
Anna e Lufe – Certas coisas nunca mudam
Um conto de Léo Luz
"Eu não sou ninguém de ir / Em conversa de esquecer / A tristeza de um amor / Que passou" - Vinicius de Moraes
Lufe está sentado na ponta de um luxuoso sofá, em uma luxuosa sala de espera de um luxuoso consultório em um luxuoso bairro do Rio de Janeiro. E, em meio a todo esse luxo, Lufe está com uma bermuda cargo verde, uma camiseta rosa e havaianas amarelas. De pernas cruzadas e lendo um livro qualquer, sua naturalidade não denota o quão malvestido ele está, muito menos a sua preocupação com a opinião alheia sobre seu "estilo", que é nenhuma. A campainha toca e Lufe, como se fosse surdo, nem esboça reação. Ela toca novamente e, desta vez, Lufe olha para a porta que dava para o consultório, como que esperando alguém abrir a porta. Nada. A campainha toca pela terceira vez. Lufe, ainda olhando para a porta do consultório, desiste de esperar alguém vir abrir a porta da rua e vai ele mesmo abrir, imaginando que fosse outro paciente.
Ele abre a porta e Anna entra como um furacão, sem nem o notar. Ele fecha a porta vagarosamente e fita Anna, enquanto ela se senta falando um "brigado, brigado" vago, absorta em seus próprios pensamentos. Ela se senta exatamente onde Lufe estava sentado, puxa um caderninho e começa a escrever algo. Após alguns segundos de escrita ela percebe que o rapaz que abriu a porta está de pé na sua frente, até agora. Ela olha aquelas havaianas horrorosas e já imagina quem pode ser. Sobe olhando para a bermuda cargo verde velha e batida e, antes de ver a camiseta rosa desbotada ela já tem certeza de quem se trata.
- Luiz?? – Ela pergunta, abaixando o caderno e virando a cabeça de lado, como um cachorro examinando uma formiga mais de perto.
- Anna??? O que você está fazendo aqui?
- Certas coisas nunca mudam. A gente não se vê há três anos e você já chega querendo controlar a minha vida.
Lufe bufa, dá de ombros e se senta, também irritado, no banco de frente para ela. Ele pega uma revista mas nitidamente nem lê, fica olhando para ela por cima da revista. Ela percebe e se irrita.
- Você não vai ser atendido pela Dra. Sílvia, né, Luiz Fernando?
- Não, pela Dra. Sandra. E você?
- Não me faltava mais nada, a gente se atendido pela mesma terapeuta. De novo.
Os dois se calam. Lufe não para de fitar Anna, como uma criança que não tem noção do constrangimento que está causando. Anna tenta ignorar, mas não consegue. Ela olha para ele, irritada.
- Posso ler agora?
Lufe faz um sinal exagerado de "à vontade" com as mãos. Novo silêncio. Anna volta a ler a revista, impaciente. Lufe volta a abrir a revista mas, por cima dela, fica fitando Anna, que se mexe, cruza as pernas, nitidamente incomodada.
- Parou de ir na Dra. Paula há muito tempo?
Anna bufa e responde, sem colocar a revista de lado, ainda impaciente.
- Não, Luiz, tem duas semanas.
Lufe se inclina para frente no sofá, interessadíssimo.
- E parou de ir nela por quê? Ela não era genial, fodona, não tava mudando a sua vida, não disse que você ia ficar muito melhor sem mim?
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Anna e Lufe - Certas coisas nunca mudam
RomanceCinco anos depois do término, Anna e Lufe se encontram na antessala de suas terapeutas e vão ter uma conversa bem, digamos, reveladora e dolorosa.